A crise não afetou apenas o comércio de bens duráveis. O consumidor está cortando também os gastos com bens essenciais, como alimentos, bebidas, produtos de limpeza e higiene. O problema, desta vez, não é só a inflação. Nos tempos da hiperinflação, os consumidores, quando iam ao supermercado, lotavam seus carrinhos com tudo o que seu dinheiro permitia comprar. Como os preços eram remarcados diariamente, fazia sentido estocar alimentos não perecíveis e produtos diversos. O que se vê hoje, porém, é um retrocesso nos padrões de consumo, por causa da queda da renda.
O orçamento doméstico apertado está restringindo o consumo nas redes de supermercados, grandes ou pequenas. “É a primeira vez em cinco anos que o volume de compras cai”, como afirmou ao Estado Christiane Pereira, da Kantar Worldpanel, que monitora semanalmente uma cesta de 97 categorias de produtos em 11,3 mil domicílios de todo o País. O menor número de idas aos supermercados deixou, segundo ela, de ser compensado pelo volume total adquirido ao longo do mês. Vai-se menos e se compra menos de cada vez.
Não deixou de existir seletividade por parte do consumidor, que prefere sucedâneos mais baratos dos produtos que está habituado a adquirir. Mas o que se observa hoje é a redução da quantidade adquirida de itens básicos, como o leite pasteurizado e o açúcar, e de bebidas e produtos de limpeza e higiene pessoal.
Praticamente todos os estabelecimentos têm recorrido a promoções para estimular a venda de produtos com estoques mais elevados. Isso afeta de modo especial os produtos tidos como “top de linha”, cuja fatia de mercado vem encolhendo. Paralelamente, aumentam as pressões dos supermercadistas sobre os fornecedores, para que reduzam os preços, de modo a conter o repasse para o consumidor.
Se há nisso um aspecto positivo, evidenciando uma resistência maior da sociedade à alta dos preços, as redes de supermercados já anteveem prejuízos. No acumulado deste ano até julho, o setor acumula uma queda de 0,2% em termos reais no faturamento, em confronto com o mesmo período de 2014, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
É um pequeno recuo, se comparado com a queda do comércio em geral, mas a perspectiva de fechar o ano no vermelho assusta um setor em que isso não ocorre há mais de uma década.
Veículo: Jornal O Estado de S.Paulo