Em um cenário de 14,3 mil lojas do ramo supermercadista fechadas entre janeiro a abril, previsão é que só as operações mais consistentes atravessem a recessão, profissionalizando mais o setor
São Paulo - O período que se seguirá à crise econômica deve ser promissor para varejistas do ramo alimentar que conseguiram sobreviver ao período sombrio. Isso porque, segundo especialistas, o pior momento ficou para trás, e aqueles que se movimentaram para reverter o quadro sairão mais fortes.
"A crise econômica trouxe com ela mudanças no hábito do consumidor, como diminuição do tíquete médio, por exemplo. Quem conseguiu sobreviver a ela e soube lidar com essas mudanças, além de conseguir melhorar sua produtividade, terá um futuro bastante próspero pela frente", analisa o especialista em varejo e sócio-diretor da consultoria BA Stockler, Luis Henrique Stockler.
Na leitura de Stockler sobre a conjuntura momentânea do varejo alimentar no País, apesar do número de fechamentos de operações ter sido bastante preocupante, o pior momento ficou para trás. Agora, mesmo que devagar, os índices positivos devem começar a aparecer.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), só entre janeiro e abril deste ano, 14,3 mil operações voltadas ao varejo alimentar foram encerradas. O número é significativamente maior que o registrado pela confederação no mesmo período do ano passado: 2,4 mil fechamentos.
"Junto ao ano passado, passamos de 37,5 mil lojas fechadas. Foi o fundo do poço da crise", afirmou o economista da CNC, Fábio Bentes.
Para Stockler, da BA Stockler, os sobreviventes à onda de fechamentos não continuam em operação à toa. "Todo o varejo teve que fazer mais com menos durante a crise econômica. Também tiveram de rever custos, aperfeiçoar tecnologias de processos, serem mais eficientes e se adaptar ao consumidor com menor poder aquisitivo. Os que conseguiram reagir assim e superaram esse período estão prontos para enfrentar outras crises" explica.
Os que patinaram, segundo Stockler, não souberam avaliar bem o novo momento pelo qual o consumidor passa. "Ele quer comprar mais por menos. Trabalhar opções acessíveis, em questão de preços e mix, e rever onde era possível ampliar margens e onde era possível reduzi-las, eram formas de não ser atraído pela crise".
Sinais de retomada
Como informado na edição de ontem (29) do DCI, o varejo começa a observar sinais de que uma retomada nos índices de vendas possam começar a surgir nas próximas análises, visão que é compartilhada também por representantes do setor supermercadista.
Apesar de registrar queda de 2,16% nas vendas no mês de maio, sobre um ano antes, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), sinaliza que o pior da crise já passou. "Esse decréscimo, desta vez, mostra uma certa estabilidade. É a tendência que estamos observando, mas que terá de ser comprovada nas próximas leituras", afirma o presidente do Conselho Consultivo da Abras, Sussumu Honda. Ainda assim, no acumulado dos últimos 12 meses, o recuo é de 0,23%.
2º semestre
A confiança de Honda deve ser refletida em uma possível mudança nas estimativas de fechamento do consolidado do ano. Se antes a Abras esperava uma queda real de 1,8%, agora o recuo poderá ser menor. "Estamos finalizando os indicadores de junho, mas posso adiantar que possivelmente a queda no ano será menor do que a que imaginávamos", indica.
Para ele, o segundo semestre pode representar uma virada do setor se indicadores de confiança, por exemplo, continuarem melhorando. "Podemos observar que a expectativa do consumidor começa a melhorar, mas a atividade econômica ainda se ressente das dificuldades do ano passado e por isso, o nível de desemprego continua subindo, o que reflete nas vendas do setor", afirma.
Questionado sobre o grande número de encerramentos de operações, Honda crê que as lojas menores são as mais atingidas, já que possuem menor capacidade financeira e estratégica para efetivar mudanças.
Veículo: Abióptica