Os supermercados brasileiros perderam R$ 7,11 bilhões em 2016 só com perdas, como hortaliças estragadas, produtos vencidos, embalagens quebradas e itens furtados. O montante corresponde a 2,1% do faturamento do setor e é tão significativo que supera a receita de muitas das principais redes varejistas do País. Prova disso é que, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as perdas ocupariam a quinta posição do ranking que aponta os maiores mercados brasileiros em termos de faturamento.
“Supermercadista não gosta de falar sobre isso, mas o que se pesa no bolso precisa ser tratado”, alertou o presidente da Abras, João Sanzovo Neto, ao divulgar o resultado da 17ª Avaliação de Perdas nos Supermercados Brasileiros, ontem, durante a 51ª Convenção ABRAS, realizada em Atibaia (SP). “Na atual conjuntura econômica, manter vendas e lucratividade virou um grande desafio. Então, evitar prejuízos é uma grande prioridade”, justificou, explicando que “evitar perdas e danos tem um impacto direto na lucratividade da empresa”. “Como este é um setor de margens muito apertadas, o volume de perdas às vezes é maior que a rentabilidade da própria empresa”, reconheceu o diretor de sustentabilidade e responsabilidade social do Carrefour Brasil, Paulo Pianez.
Os números mostram que o setor realmente precisa ficar de olho no que não é transformado em vendas dentro das lojas. É que, em apenas um ano, esse montante cresceu em R$ 1 bilhão – em 2015, as perdas somaram R$ 6,19 bilhões ou 1,96% do faturamento do setor. E a maior parte desse prejuízo reflete falhas dos próprios atacadistas: 28,6% das perdas são provocadas por quebras operacionais. “É uma lata que quebra, um vidro que cai da gôndola”, comentou Sanzovo, contando que, além do manuseio inadequado, há perdas grandes por falhas de inventário (14,8%). “Um mercado pode ter 20 mil itens. É grande a quantidade que precisa ser contada, então erros acontecem”, explicou o presidente da Abras.
Mas causas externas também causam muito prejuízo. Os furtos, por exemplo, correspondem a 18,2% do que foi perdido nos supermercados brasileiros no ano passado. Ou seja, R$ 1,29 bilhão. Segundo Sanzovo, esse número cresceu no último ano e representa mais um efeito da crise econômica. “Em momentos difíceis economicamente, isso costuma acontecer”, disse, relacionando os furtos à queda na renda do brasileiro. E é por isso que as perdas mudaram de setor dentro dos supermercados.
Segundo a Abras, antes, o desperdício estava centrado na área de perecíveis, mas isso foi amenizado com o surgimento de melhores técnicas de armazenamento e manuseio de produtos como peixes e carnes. “Hoje, as seções de mercearia seca, higiene e perfumaria, e mercearia líquida representam 45% do volume de perdas, provavelmente porque essas áreas são mais suscetíveis a fraudes e houve um aumento nos furtos”, afirmou Sanzovo, contando que, hoje, os produtos mais furtados nos mercados são chocolates, bebidas, perfumes, carnes e desodorantes.
O presidente da Abras garantiu, por sua vez, que os supermercados estão atentos a esse problema e vêm implementando programas para reduzir o desperdício interno e aumentar a segurança das lojas, coibindo furtos. “De 2012 para 2016, o número de empresas que tem uma área específica para a prevenção de perdas saiu de 28% para 59,7% e a maior parte desses programas, 42%, estão dentro da presidência ou do conselho da empresa”, concluiu Sanzovo.
Fonte: Folha de Pernambuco