Representantes de produtores de arroz e de leite, além de políticos do Rio Grande do Sul ligados ao agronegócio, ocuparam boa parte da agenda da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na tarde de ontem. A romaria levou ao gabinete da ministra antigos e novos pedidos de soluções para diferentes problemas que estão deixando orizicultores e pecuaristas com as finanças combalidas. Apesar de não terem saído dos dois encontros com medidas já definidas de apoio, representantes dos dois segmentos retornaram a Porto Alegre animados com as perspectivas a seus pleitos.
O primeiro encontro, com arrozeiros, teve pauta extensa: dos problemas com o grão mais barato vindo do Mercosul a disparidades estaduais no ICMS e apoio para regularização de crédito ao setor, que acumula endividamento de mais R$ 2,5 bilhões. Henrique Dornelles, presidente da Federarroz, destacou a "sensibilidade" demonstrada pela responsável pela Agricultura ao momento de crise vivido pelos arrozeiros gaúchos, e não apenas aos afetados duramente pelas enxurradas na Fronteira-Oeste. "Agendamos encontros para 12 e 20 de março para tratar de questões importantes que ficaram de ter andamento até lá, parte delas pelo Ministério da Economia, como o endividamento dos produtores", diz Dornelles.
De acordo com a assessoria do ministério, Tereza Cristina tem como prioridade ajudar a resolver os problemas estruturais que prejudica a atividade como um todo. No encontro, a ministra destacou que está para ser concluído o acordo com o governo do México para exportação de arroz beneficiado. Além da importância da abertura desse mercado, que o economista Antônio da Luz, da Farsul, também espera ver aberto em breve, ele destacou a presença da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) no encontro. "Os supermercados se comprometeram e ajudar o setor diferentes questões, inclusive promovendo campanhas junto aos clientes para estimular o consumo de arroz", sinalizou Luz.
Dornelles lembrou, ainda, que o encontrou serviu também para tratar da venda irregular de arroz Tipo 1 que chega ao varejo misturado aos tipos 2 e 3, de menor qualidade, lesando produtores e consumidores. O caso, tema de reportagem recente publicada pelo Jornal do Comércio, está sendo investigado inclusive pelo Ministério Público Federal. Para o setor leiteiro, que teve agendamento marcado pelo deputado federal Heitor Schuch (PSB/RS), houve a sinalização de que alguns temas colocados em pauta terão andamento monitorado de perto. Entres os tópicos urgentes está o adiamento da entrada em vigor de normativas que dificultarão ainda mais as já enfraquecidas finanças do setor, segundo o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra. As Instruções Normativas (INs) 76 e 77 entram em vigor entre maio e junho, e vão exigir, por exemplo, melhor resfriamento entre a coleta e a entrega para beneficiamento.
"Precisamos de mais tempo para adaptação e linhas de crédito para que todos possam atender a exigências e aquisição de equipamentos. Sem falar dos altos custos de energia, cujos incentivos para o setor rural ainda estão por ser retirados", lembra Guerra.
Para um tema pendente há quase um mês, a anunciada taxação extra sobre o leite europeu, que ainda não foi publicada, Tereza Cristina também afirmou que o caso não foi deixado de lado, disse o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), o deputado federal Alceu Moreira (MDB/RS). O encontro, porém, não deixou claro qual será a solução, que de acordo com Moreira não poderá ser uma taxação que implique violação ao livre comércio com tradicionais parceiros internacionais do Brasil. E garantiu que o problema está sendo estudado pelo Ministério da Economia para encontrar medidas compensatórias. "O que importa é que nos foi garantido que o ingresso desse leite importando está sendo monitorado dia a dia pelo ministério e que a equipe econômica estuda formas de garantir que não haverá uma invasão ou prejuízos ao setor no Brasil, resume Moreira.
Fonte: Jornal do Comércio - Porto Alegre