ABRAS monitora caminhoneiros e não vê risco de desabastecimento

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Para brecar aumentos abusivos, supermercados se baseiam em dados para negociar com a indústria. FIA levanta o custo de produção e os impactos da alta dos combustíveis  

 

Os supermercados não veem qualquer risco de desabastecimento nas lojas por conta da paralisação de caminhoneiros em certos Estados do país, disse a associação do setor (ABRAS), nesta quinta-feira. A entidade ainda afirma que as empresas estão bem estocadas e que já há sinais de desmobilização em algumas rodovias. O estoque de alimentos no setor varia de 30 a 60 dias a depender do produto e da rede.

 

“Estamos monitorando junto ao governo federal, e principalmente junto à assessoria da presidência e à Abin, para identificar possíveis movimentos [de desabastecimento] e não identificamos nada nesse sentido. Não teremos que nos antecipar a isso até porque isso já vem perdendo o foco e calculamos que em um a dois dias estará totalmente desmobilizada [a paralisação]”, disse o vice-presidente institucional e Administrativo da Abras, Marcio Milan.

 

“As lojas estão abastecidas, e não temos nenhum sinal nesse sentido [de falta de produtos]”, disse. Milan ainda comentou a questão da crise energética. Segundo ele, os impactos da falta de chuvas variam de região a região, e as companhias não identificam.

 

Os supermercados contrataram a Fundação Instituto de Administração (FIA) para fornecer dados às lojas nas negociações envolvendo aumentos de preços das indústrias. A ideia é que o setor, com mais dados, consiga se antecipar a movimentos e possa evitar aumento abusivo de preços.

 

“Queremos que os supermercados conheçam melhor o processo produtivo e se antecipe a movimentos que possam levar a aumentos abusivos de preço e para melhorar o consumo das famílias”, disse Marcio Milan, vice-presidente da associação do setor (Abras), em entrevista a jornalistas.

 

Uma análise já foi entregue pela FIA, relativa ao arroz, e os dados mostram concentração de venda para mercado interno e produção localizada no Sul. Os supermercados também foram informados que o aumento de “custo de produção” e alta dos “combustíveis” não são capazes de explicar o avanço no preço do arroz. Logo, as lojas associadas da entidade que recebem essas análises podem usar essas informações para pressionar os fornecedores.

 

Devem ser feitos outros estudos com óleo, carne bovina e suína, ovos, leite, milho e trigo.

Milan negou que essas informações sejam “uma reação do setor às altas da indústrias”, mas questionado sobre ações recentes das lojas — como aumento de ofertas de marcas alternativas nas gôndolas — ele disse que “nessas negociações, se os supermercados encontrarem dificuldades [nas conversas com fabricantes], vão levar alternativas ao consumidor”.

 

Novas marcas

A ABRAS disse que aumentaram as ofertas de novas marcas a clientes nas gôndolas. Há produtos, segundo a entidade, com até dez opções — em leite, tem chegado a sete em certas redes — e se espantou com o volume de novos fornecedores aparecendo nas prateleiras. “Em feijão, apareceram várias novas marcas, às vezes há produtos passando de 3 a 4 para 5, 6, 7 marcas. Isso é uma forma de tentarmos ajudar o consumidor a controlar orçamento.”

 

Essas mudanças envolvem renegociações comerciais entre varejo e indústria, um ponto sensível, a depender no estágio das conversas. É que espaço ou local de exposição faz parte dos acordos comerciais e incentivos de venda.

Quando a loja põe novas marcas nas prateleiras, isso envolve renegociar certas condições com marcas líderes, até porque há espaços limitados.

 

Sobre isso, Milan não quis comentar. “Isso é algo que cabe a cada empresa negociar”, disse.

Os supermercados ainda informaram um aumento de consumo de produtos para lanches, como bolos e pães, e de produtos menos saudáveis, na visão de nutricionistas, como massas instantâneas.

 

A alta na venda de bolos e rocamboles foi de 10%, de pães industrializados, de 11,5%, e de massas instantâneas, 3,7%, em julho, com base em dados da Nielsen. Milan ressalta que essa expansão tem relação com a volta às aulas. Perguntado se o brasileiro pode estar buscando produtos mais baratos para se alimentar, ele disse que isso mostra preocupação com preparo mais rápido.

 

A ABRAS ainda disse que há uma desaceleração na taxa de crescimento do setor no ano, em parte, pela base de comparação mais forte de 2020 a partir de março. Mas se esse desaquecimento continuar, a entidade pode rever a projeção do ano, numa análise a ser feita em setembro. Até junho, a alta era de 4% e foi para 3,2% em julho. A projeção da Abras é de um aumento de 4,5%, em termos reais, em 2021.

 

A associação entende que a economia “está se recuperando”, apesar dos indicadores de PIB estarem sendo revistos para baixo pelo mercado. “Vemos que se as reformas avançarem, isso vai contribuir para o crescimento”, disse Milan.

 

Fonte: Valor Econômico 


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