Pão de Açúcar só teria ações ordinárias e seria fundido com subsidiárias do grupo francês em nova empresa até 2016
Mudança começaria a partir de 22 de junho, quando Diniz transfere controle ao Casino; projeto fere acordo
O empresário Abilio Diniz, presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, tentou, mas não conseguiu uma reconciliação com Jean-Charles Naouri, presidente do sócio francês Casino.
O grupo vai assumir o controle da maior varejista brasileira no dia 22 de junho, conforme foi acertado em 2005, dando início a uma reestruturação que prevê o agrupamento de todas as subsidiárias do Casino na América Latina. Além do Brasil, o grupo opera no Uruguai, na Argentina e na Colômbia.
A "virada" prevê a permanência vitalícia de Abilio na presidência do conselho e confere a ele poder para escolher o presidente da companhia a partir de uma lista tríplice indicada pelo Casino.
O acordo tem validade até 2045, mas poderá ser extinto caso um dos acionistas tenha sua participação reduzida a menos de 10% das ações com direito a voto. Isso deve ocorrer com o plano do Casino de fundir as subsidiárias latino-americanas.
A primeira etapa dessa reestruturação será a extinção das ações preferenciais (sem direito a voto) do Pão de Açúcar, que serão convertidas por ações ordinárias (com poder de voto), possibilitando à varejista brasileira ascender ao Novo Mercado da Bolsa, segmento de alta transparência e de respeito aos acionistas minoritários. A operação deverá agradar aos investidores e impulsionar as ações.
Com a nova estratégia, o grupo francês acredita que Abilio decidirá sair e já trabalha com a possibilidade de que ele venda suas ações.
Para isso, existe um outro acordo estabelecendo as condições de preço para a compra das ações do empresário brasileiro pelo Casino.
O francês Naouri não fala com Abilio desde meados de julho do ano passado, quando soube que o brasileiro conseguira apoio do BNDES e do banco BTG Pactual para fundir o Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil.
O Casino considerou o negócio uma "traição" por não ter sido informado previamente e porque levaria o grupo francês a uma diluição na nova empresa, pela qual pagou pelo controle em 2005.
Desde então, representantes de Abilio tentam uma reconciliação. A situação piorou após a proposta de "saída" de Abilio do Pão de Açúcar, em que ele ficaria com a Globex, empresa que surgiu após a união entre as Casas Bahia -que pertenciam à família Klein- e o Ponto Frio.
Especula-se que, com a Globex, Abilio poderia propor a compra do Carrefour e juntar as duas empresas.
A proposta desagradou a família Klein e também contraria os interesses do Casino, que pretende lançar em seu balanço 100% do Grupo Pão de Açúcar, melhorando sua capacidade financeira aos olhos dos investidores.
SEM BRECHAS
Procurados, o Grupo Pão de Açúcar, Abilio e o Casino não quiseram comentar.
A Folha apurou que Abilio considera que não existe brecha para o rompimento do acordo de acionistas com o Casino.
O acordo daria poder de veto a ele em qualquer reestruturação societária.
O Casino é conhecido por superar de forma controversa disputas societárias.
Em 1999, foi acusado de manobrar para comprar a participação do rival Carrefour no grupo belga Cora.
À época, o Carrefour foi obrigado a vendê-la porque comprara uma rede varejista portuguesa. O Casino tinha uma central de compras com o Cora e o acordo vedava a participação acionária de um no outro.
Hoje, o Casino trava disputa com as lojas Galeries Lafayette, sócia na rede de supermercados Monoprix. O acordo previa a compra do controle pelo Casino, mas o grupo pediu mais prazo.
A nova data venceu e a Lafayette fez oferta pela participação do Casino. A discussão foi parar em um tribunal independente de solução de controvérsias societárias.
Veículo: Folha de S.Paulo