Martins, maior atacadista do país, define sucessão

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Foi definida a sucessão na maior empresa atacadista brasileira


Alair Martins, fundador do Grupo Martins, o maior atacadista do Brasil, transferiu o controle acionário da empresa para seus três filhos. Eles assumirão o grupo somente quando o pai decidir se afastar do comando ou quando a saúde não mais permitir uma rotina diária de trabalho. Mas já a partir do ano que vem, os herdeiros passarão a ter mais poder de decisão. Eles integrarão ao lado de Martins um conselho de família, cujas regras estão sendo definidas. As medidas fazem parte do plano de sucessão assinado em 12 de julho e que até agora vinha sendo tratado como assunto reservado no grupo.

Ao Valor, Martins disse que tira um peso das costas ao resolver a questão sucessória. "Perdi muitas noites de sono. Nos últimos quatro ou cinco anos, isso me ocupou mais, mas já tem uns 15 anos que comecei a pensar em fazer isso", disse ele. "Estou muito mais leve depois que chegamos a esse entendimento."

O empresário completa 79 anos em 2013 e sua empresa, 60. O que começou como uma mercearia em Uberlândia, cidade no leste de Minas, é hoje um gigante que distribui uma gama imensa de produtos a todos - todos - os municípios do país; que tem um banco e uma escola para capacitar mão de obra para o varejo e 350 mil clientes ativos. Em 2012, o principal negócio, de atacado e distribuição, deve faturar R$ 3,83 bilhões, 11% a mais do que no ano passado. A receita do banco deve crescer 15%, para cerca de R$ 420 milhões.

As gestões da distribuidora e do banco estão a cargo desde 2009 de dois executivos de São Paulo, que não são da família: Walter Faria e João Ayres Rabello Filho, respectivamente. Alair Martins preside o conselho do grupo e continua dando a última palavra sobre decisões estratégicas.

Mas com a idade avançando e sem um substituto claro, Alair Martins passou a ouvir perguntas e ler especulações, mais frequentemente, sobre o futuro da empresa. Entre elas que teria avaliado a possibilidade de vender uma parte minoritária da empresa a um fundo de private equity. É um tema que volta e meia surge e que deixa interrogações entre grandes fornecedores, clientes, bancos, investidores e analistas.

Na entrevista, na sede da empresa em Uberlândia, ele negou enfaticamente qualquer movimento de venda. "Não, eu nem dou espaço para essa conversa. Quando começam a sondar, e nem diretamente comigo, digo logo 'sem chances'." Seu sonho é ver a empresa tornar-se a primeira atacadista do país a chegar aos 100 anos. Além dos filhos, diz, já há uma geração de netos (nove, atualmente) que poderão assumir as rédeas do negócio. "Tem alguns que já manifestam entusiasmo", diz ele.

Ao definir um plano de sucessão, a expectativa do patriarca é que as dúvidas sobre o futuro da empresa sumam. Martins não terá um substituto, terá três. Os filhos Renato, Juscelino e Alair Júnior ocupam hoje assentos no conselho do grupo. Mas dedicam mais tempo aos próprios negócios, segundo o pai. O único que teve uma atuação mais intensa na empresa foi Juscelino; presidiu o Martins e o banco do grupo, o Tribanco. Hoje, é membro do conselho do grupo e preside o conselho do banco.

O novo conselho de família, que será formado pelo pai e os três filhos, deverá começar a operar no primeiro trimestre de 2013.

Alair Martins diz que as discussões que ocorrerão no novo conselho já acontecem em casa com os filhos. A diferença é que agora isso se dará de maneira mais formal. Alair continuará tendo a prerrogativa da decisão final, mas os filhos passarão a ter mais protagonismo do que têm hoje no grupo.

Será o conselho de família que decidirá, por exemplo, questões estratégicas como futuras parcerias, investimentos maiores numa determinada área, nomeação do CEO, substituição de um membro do conselho de administração, abertura de capital ou a estreia em operações no exterior. Muitas dessas questões têm sido discutidas nos conselhos de administração do Martins e do Tribanco. Agora, a pauta destes conselhos ficará mais focada nas questões que lhes dizem respeito mais diretamente.

Para os herdeiros, a instância será um meio de terem uma participação maior nas tomadas de decisão e uma forma de se familiarizarem mais com um negócio do qual serão os controladores, de fato, no futuro. Para os clientes (fornecedores e varejistas), o novo conselho funcionará como um sinal de que a empresa está preparando a sucessão sem atropelos.

Martins parece lidar bem com a ideia de que precisa deixar o caminho aberto e definido para quando não estiver mais à testa do grupo. "Eu já estou com 78 anos [completos este ano]. Tenho plena saúde, amo o que faço, mas tenho que ser realista, não vou ficar para sempre." Por quanto tempo terá ele saúde para se ocupar das diretrizes do grupo? "Eu cuido bem da saúde, vai demorar muito. A meta é viver até 100 anos com saúde. Faço 50 horas de academia por mês, sou disciplinado com a alimentação e escolhi ser uma pessoa do bem e sempre otimista. Imagine que eu com 78 anos, graças a Deus, não tenho nenhuma patologia."

O processo sucessório do Grupo Martins foi desenhado inicialmente por John Davis, um dos consultores mais reconhecidos na área de negócios familiares. O plano também leva a assinatura de Paulo Aragão, sócio do escritório Barbosa, Müsnich & Aragão Advogados.

Do plano faz parte a doação em vida das ações de Alair Martins para os três, em partes iguais. Ele continuará a ter o usufruto das ações em caráter vitalício - ou seja, continua com o poder econômico, o poder de voto, em caráter vitalício.

"O efeito prático é trazer segurança e tranquilidade; para que a gente não tenha que passar por um processo de inventário, por uma sucessão complicada. Será um processo que já está definido, o que traz segurança para todos", diz Pauliran Gomes e Silva, diretor jurídico do grupo Martins.

Os herdeiros controlarão os negócios financeiros (Tribanco e Tricard) e não financeiros (Almart, Martins, Smart e demais operações). A peculiaridade desse processo é que quando Renato, de 52 anos, Juscelino, de 49, e Alair Júnior, de 48, forem os controladores da empresa, não estarão sozinhos. Eles terão a ajuda de conselheiros profissionais.

O papel destes será o de reduzir eventuais divergências e evitar que a empresa estanque diante de uma falta de consenso entre os irmãos. Essa é a ideia-chave: ajudar a construir consensos.

"As principais decisões precisarão ser tomadas por consenso entre os três e a eventual falta de consenso pode, em determinado momento, impedir uma decisão que seja importante para os negócios. Para evitar isso, existirão três conselheiros, três 'advisors', dentro desse conselho de família. Eles irão auxiliar nas decisões. E poderão até substituir a decisão de um filho em benefício dos objetivos da empresa", diz Silva.

Alair Martins se convenceu de que essa é a parte mais sensível do plano sucessório, o ponto da amarração que garantirá que a empresa seguirá no passo certo, em direção ao crescimento. "Os 'advisors' serão pessoas independentes, que conhecem a família, com grande experiência, bom senso, espírito de justiça, pessoas de primeiríssima linha", diz Martins.

Segundo Maria Teresa de Azeredo Roscoe, professora da Fundação Dom Cabral, uma das escolas de negócios mais bem avaliadas do mundo, a figura do conselheiro ("advisor") nos termos que o Grupo Martins pretende adotar é ainda pouco comum. "É menos comum do que deveria ser porque sendo pessoas experientes, esses 'advisors' podem oferecer ponderações importantes, capazes de contribuir para o negócio".

Martins se diz satisfeito, feliz e confiante com o acordo. E no que depender do entendimento que segundo ele há entre os filhos, a empresa seguirá o rumo de seus sonhos. A relação entre os futuros controladores da empresa, nascidos e criados em Uberlândia, é boa, diz o patriarca. "Não tem preocupação sobre a convivência, eles são amigos, estão sempre lá em casa, almoçando juntos."


Atacadista registra melhor outubro em três anos


   

Num ano de desempenho acanhado da economia, as famílias que tocam o pequeno comércio brasileiro, em particular o de produtos de bens de consumo, não viram nem sombra de crise. É o que diz o maior atacadista do Brasil, o Martins. Seu alcance nacional oferece uma medição bastante precisa do ritmo do comércio pulverizado e de pequena escala no Brasil.

"Este ano estamos tendo evolução muito boa de higiene e beleza. Estamos batendo recordes este ano com P&G, Colgate e Unilever, com crescimento [das vendas] acima de 10%, 15%", diz Walter Faria, presidente da atacadista e distribuidora Martins. Com chocolates, as vendas também batem recorde: "A indústria não está dando conta do abastecimento da demanda."

A julgar pelo crescimento do Martins este ano, o pequeno varejo, abastecido pela empresa mineira, teve muito a festejar. "Este é o melhor ano desde 2008", diz Faria. A projeção é que o faturamento do Martins cresça 11% em 2012, chegando a R$ 3,83 bilhões. E o ritmo do último trimestre indica que em 2013 a empresa crescerá a dois dígitos de novo, diz o executivo. Outubro foi o melhor mês dos últimos três anos para os negócios.

Como atacadista e distribuidor, o Martins é líder nacional. Seu cliente típico é o mercadinho de bairro. O fundador Alair Martins orgulha-se da capacidade de despachar, a qualquer município do país, produtos em quantidades pequenas e de forma rentável.

Na tarde do dia 8, por exemplo, funcionários do centro distribuição de Uberlândia, separavam a encomenda de um pequeno comerciante de Maraú (RS). Na caixinha de plástico azul que percorre uma esteira na linha de 'montagem', colocavam três cartelas de Prestobarba, dois pacotinhos de fio dental Oral B e seis xampus. Para outro cliente, da também gaúcha Pelotas, embalavam seis pacotes de sabonete Phebo, cinco cartelas da aparelho de barbear da BIC e dois pacotes de Oral B.

Mais adiante, já sobre paletes e prestes a serem colocadas num caminhão, estavam compras de comerciantes de Belém (PA). Um deles encomendou cinco panelas de pressão, duas caixas de uísque Natu Nobilis, três de salgadinho Troféu, entre outros itens. Ao lado, outro palete também para Belém, levava uma TV LCD da LG, e uma impressora da HP entre caixas de sandálias Havaianas.

Segundo Faria, a desaceleração da economia teve um efeito mais visível nas vendas de bens duráveis do Martins. "Este ano, o consumidor brasileiro teve um endividamento um pouco maior. E bens duráveis, linha branca [como fogão, geladeira, lavadoras] e linha marrom [como aparelhos de TV e de som] não vêm tendo a mesma performance de anos anteriores. A exceção é celular. Continua com crescimento muito acentuado."

Para Faria, o aumento das vendas deve-se, basicamente, ao desemprego baixo, ao aumento da renda e às estratégias do Martins para ajudar os clientes. Entre elas, novos layouts de lojas e formas de expor produtos. Em agosto, a Fitch Ratings elevou a classificação de risco da empresa para BBB+.

O fato de uma boa parte dos consumidores ter voltado a comprar em lojas menores, em vez de randes hipermercados, tem ajudado os negócios. São, no Brasil, 75 mil supermercados, segundo Faria, e mais 300 mil pequenos armazéns e mercearias. Vários destes viraram supermercados nos últimos anos, parte deles com ajuda do próprio Martins. Por isso a base de supermercados no Brasil cresceu tanto. Mas mesmo um pouco maiores, eles ainda estão longe de terem logística própria de distribuição para suas lojas - como têm as poucas grandes redes, diz Faria.

A empresa não tem enfrentado problemas com inadimplência (que é pequena, 0,1% ao mês, segundo Faria), nem com demanda. É a mão de obra que tem encarecido a operação.

A disputa por trabalhadores, com outros setores, pressiona o custos. Para atrair e reter profissionais, a empresa mineira tem tido de recorrer a aumento de salários e benefícios. "Esse é um problema. Isso tem aumentado os custos de produção, por isso temos trabalhado para aumentar a produtividade", diz Faria.


Veículo: Valor Econômico




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