Ações trabalhistas no Brasil prejudicam balanço do Walmart

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Uma baixa de US$ 69 milhões (R$ 138 milhões) relacionada a perdas com ações trabalhistas em andamento no Walmart Brasil reduziu o ritmo de crescimento do lucro das operações internacionais da companhia, informou ontem a varejista. O impacto foi maior do que o causado pelo furacão Sandy, cujas perdas somaram US$ 36 milhões. A empresa também confirmou ontem que a rede no Brasil está sendo investigada devido a denúncias de violações às normas do programa global de combate à corrupção da matriz.

As informações foram dadas ontem pelo comando da empresa nos Estados Unidos, em conferência com analistas. A decisão de provisionar US$ 69 milhões como encargos trabalhistas nos resultados do balanço do terceiro trimestre no país afetou o lucro operacional do Walmart International - que atingiu US$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre. Segundo Doug McMillon, presidente do Walmart International, o aumento nesse número foi de 6,8% e, se não tivesse ocorrido a provisão, a expansão seria de 12,5% em relação ao mesmo período de 2011. O faturamento no Brasil chegou a R$ 23,4 bilhões em 2011, com 82 mil funcionários.

As ações ainda estão em andamento na Justiça do Trabalho, mas a empresa decidiu fazer a provisão porque, provavelmente, deve perder os processos. Walmart não detalha o teor das ações e entende que o fato de o lucro operacional crescer 12,5% (ao excluir a provisão) é um sinal de desempenho sólido. "Se não fossem as contingências trabalhistas, o Walmart Brasil teria tido lucro no [terceiro] trimestre", disse McMillon.

As vendas brutas no Brasil cresceram 11% de julho a setembro, taxa superior ao crescimento no Grupo Pão de Açúcar (9,5%), mas ligeiramente abaixo do Carrefour (11,3%), que considera as vendas do Atacadão. As vendas "mesmas lojas" (abertas há mais de 12 meses) cresceram 6,6% no Walmart Brasil (no GPA, foi 6,8% e no Carrefour, 8,9%). Houve aumento do tíquete médio de 9,8% e queda de 3,2% no tráfego de consumidores nas lojas do Walmart.

Isso quer dizer que menos pessoas estiveram nas mais de 530 lojas do Walmart no país, mas os clientes que frequentaram, compraram e gastaram mais.

McMillon avalia que os brasileiros estão aceitando o modelo do "preço baixo todo dia", que orienta a estratégia do Walmart no mundo desde a sua criação. Começou a ser implantado no Brasil em 2011, na gestão do atual presidente Marcos Samaha. A meta é vender itens com preços médios abaixo dos praticados pelo mercado, sem promoções- relâmpago ou ofertas pontuais. "Nós acreditamos que a conversão total [para o modelo] será concluída até o final do próximo ano", disse o executivo. Michael Duke, CEO mundial do Walmart, também disse aos analistas que está melhorando a oferta na internet de produtos no Brasil, na China e no Reino Unido.

A direção do Walmart nos EUA informou que tem conduzido uma revisão mundial de suas políticas, práticas e controles internos para cumprimento de regras anticorrupção em subsidiárias. O Brasil faz parte dessa investigação.

A informação já havia sido comentada cinco meses atrás, quando um congressista americano relatou a existência de uma investigação em alguns países, como o Brasil. O Valor publicou em junho a notícia. O estopim desse processo se deu em abril, quando surgiram informações de que o Departamento de Justiça dos EUA conduzia uma investigação criminal sobre acusações de que a filial no México subornaria autoridades para conseguir abrir lojas mais rapidamente.

A empresa relatou ontem que, nos últimos 18 meses, gastou mais de US$ 35 milhões em medidas para colocar as suas operações no exterior dentro de normas anticorrupção. Os custos da rede com o processo de investigação somam US$ 99 milhões em 2011.

"Nós temos inquéritos ou investigações sobre denúncias [ de corrupção] em um número de mercados estrangeiros onde atuamos incluindo, mas não limitado ao Brasil, China e Índia", informou em comunicado David Tovar, porta-voz da rede. A companhia também enviou ontem esclarecimento à Securities and Exchange Commission (SEC).

Segundo a nota, "a empresa tem feito melhorias em seus programas de conformidade em todo o mundo e tem tomado uma série de ações específicas e concretas com relação aos nossos processos, procedimentos e pessoas". O Walmart, segundo a nota, leva o cumprimento do seu programa de normas anticorrupção "muito a sério" e não vai "tolerar descumprimento em qualquer lugar ou em qualquer nível da empresa".



Veículo: Valor Econômico


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