Em nova fase, Abilio Diniz investe na Brasil Foods

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Abilio Diniz, ex-controlador do Grupo Pão de Açúcar, está começando a fazer seus primeiros movimentos de diversificação de investimento. Os R$ 155 milhões que obteve com a primeira venda de ações da empresa que ajudou a fundar depois que passou o controle ao sócio francês Casino em junho foram para três ações de diferentes setores, em partes quase iguais. Mas a aposta que mais chamou atenção do mercado foi em BRF- Brasil Foods, que absorveu cerca de R$ 60 milhões - as outras duas escolhas foram mantidas em segredo, mas são do setor financeiro e outra de energia alternativa.

Por enquanto, a aplicação na empresa de alimentos ainda é irrelevante, já que a capitalização da companhia, resultado da combinação entre Sadia e Perdigão, ultrapassa R$ 38 bilhões. Mas a disposição do empresário para investir nas ações da empresa é maior.

Já houve até mesmo conversas com investidores e troca de ideias, inclusive com a gestora de recursos Tarpon, maior investidora privada da BRF, cujo capital é pulverizado na BM&FBovespa. Abilio estaria buscando uma participação significativa pois estaria disposto, inclusive, a participar do conselho de administração da empresa.

A BRF é gerida hoje por um acordo de voto entre os principais fundos de pensão do país (Previ, Petros, Sistel e Valia), que possuem participação somada de 27% - que já foi de 34%. A Tarpon detém 8% e a BlackRock, 4%. A Tarpon possui duas vagas no conselho, formado por dez membros.

O nome mais forte da empresa é Nildemar Secches, que promoveu a recuperação da antiga Perdigão após a compra pelas fundações e a transformou num símbolo da cultura de mercado, ao passar a rival Sadia em valor de mercado e iguala-lá em receita. Depois, com a crise em 2008 e os derivativos, absorveu a concorrente valendo o dobro.

Secches está atualmente apenas à frente do conselho de administração, depois de iniciar seu processo sucessório. A presidência executiva foi transferida para José Antônio Fay.

Comprar uma participação de, por exemplo, 5% na BRF exigiria investimento nada modesto: quase R$ 2 bilhões a preços de mercado. Esse valor equivale a 65% de toda a participação de Abilio em ações preferenciais (R$ 3,1 bilhões) do Pão de Açúcar - que vale cerca de R$ 23 bilhões na bolsa.

Consultado, Abilio informou que "não comenta rumores de mercado nem sua estratégia de investimentos". Sua assessoria de comunicação lembrou que, conforme informado ao mercado, o empresário contratou o UBS para gerenciar e diversificar seu portfólio.

Embora tenha o capital disperso, o que poderia tornar a BRF vulnerável ao assédio de compradores, a empresa tem uma das pílulas de veneno mais protetivas do mercado brasileiro. Qualquer investidor ou grupo organizado que alcance uma fatia de 20% no capital deve lançar uma oferta com prêmio elevado a todos os acionistas da companhia - o que torna qualquer investida pelo controle majoritário substancialmente cara.

Por enquanto, o empresário ainda está sondando todas as oportunidades de negócio que possa ter, no âmbito do processo de diversificação de investimentos.

Até novembro, ele negociava com o Casino uma antecipação de sua saída completa da varejista. Entretanto, as conversas ficaram paralisadas, o que terminou de azedar o clima entre os sócios, que não é bom desde meados de 2011.

A prioridade para Abílio ainda seria negociar uma saída amigável. Contudo, como adotou um comportamento defensivo, o Casino respondeu que não aceita negociar sob pressão.

Para o sócio francês, que já esta no comando dos negócios, a saída do empresário seria um facilitador, mas não é prioridade.

Abílio tem o direito de saída garantido entre 2014 e 2022, para os 20% do capital votante que possui. Entretanto, como as condições contratuais atualmente não são favoráveis para o vendedor, ele está disposto a permanecer no negócio e deixar essa fatia para os herdeiros decidirem o que fazer, já sem tantas emoções envolvidas. Existe, até mesmo, um plano para sua permanência no longo prazo.

Para o Casino, eventual migração de Abilio para o setor industrial acabaria com fantasmas de concorrência em varejo e poderia até ampliar a disposição para uma conversa a respeito de uma saída breve e negociada do empresário.



Veículo: Valor Econômico


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