Abilio Diniz, sócio fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, se prepara enfim para a vida depois de deixar o controle da empresa para o Casino. O Valor apurou que ele está se articulando com investidores para assumir a presidência do conselho de administração da BRF- Brasil Foods, resultado da combinação de Perdigão e Sadia.
O empresário, que fez a vida no varejo, deve contar com apoio tanto de investidores privados da BRF, como a Tarpon, como dos fundos de pensão, que até 2011 tinham um acordo de voto pelo qual geriam em conjunto a companhia.
Para que o plano dê certo, porém, será necessária a formação de uma chapa que tenha apoio não só dos acionistas como também da atual formação do conselho da empresa de alimentos, cuja presidência é ocupada por Nildemar Secches. O executivo foi presidente da Perdigão entre 1994 e 2007 e, neste período, além de reestruturar a empresa, igualou-a à então rival Sadia em receita, até absorvê-la após a perda com os derivativos, em 2008. Em outubro daquele ano passou o bastão à José Antônio Fay e acompanha o negócio apenas a partir do conselho. Nildemar está de férias, fora do Brasil, e não foi localizado para comentar o tema.
Para assumir qualquer vaga em conselho, mesmo a presidência, não há necessidade de ser acionista da empresa. Mas Abilio também pretende ter uma fatia significativa da BRF, avaliada em cerca de R$ 38 bilhões na bolsa. As primeiras compras já foram feitas. Contudo, uma fatia de 5% exigiria um investimento de quase R$ 2 bilhões.
Para Abilio transformar sua participação em preferenciais no Pão de Açúcar, avaliada em cerca de R$ 3,1 bilhões, em dinheiro vivo para aplicar na BRF não é simples. Ele corre o risco de depreciar a companhia de varejo com uma saída rápida e valorizar a empresa de alimentos. Portanto, o ideal seria encontrar um investidor disposto a uma troca de participações. Especialmente se o desejo for montar uma grande posição até a assembleia geral de BRF, que deve ocorrer no início de abril.
Quando começou a avaliar a possibilidade de comprar uma participação na BRF, atualmente uma companhia de capital pulverizado, Abilio teve inclusive conversas com os fundos de pensão para um possível acordo, mas a conversa não foi adiante. No momento, o diálogo está concentrado na Tarpon, que já foi uma acionista relevante do Pão de Açúcar. Procurada, a gestora de recursos preferiu não comentar o assunto.
Juntos, os fundos de pensão Previ, Petros, Sistel e Valia têm 27% da BRF. A Tarpon é o maior investidor privado e a terceira maior no geral da empresa, seguida pela BlackRock, com 4%. A BRF possui uma cláusula em seu estatuto - colocada pelos fundos de pensão quando levaram a empresa ao Novo Mercado - que encarece exageradamente qualquer iniciativa de um investidor ou grupo organizado comprar mais de 20% do negócio.
Também pensando em seu futuro, mas agora no Pão de Açúcar, Abilio Diniz decidiu profissionalizar sua atuação na companhia. Permanecerá na presidência do conselho de administração, mas substituirá o filho Pedro Paulo Diniz e a esposa, Geyze Diniz, por membros externos. Os nomes serão decididos e comunicados ao mercado nas próximas semanas.
Em dezembro, Abilio começou a diversificar seus investimentos, dando início a venda de algumas ações preferenciais do Pão de Açúcar.
Uma alternativa à troca de participações, é encontrar um comprador de um grande lote de Pão de Açúcar de uma única vez. O fundo francês Carmignac já mostrou disposição para adquirir uma fatia de até R$ 1 bilhão na empresa. A grande questão é preço.
A BRF pode não ser a única empresa em que Abilio tenha interesse de participar do conselho. Além dela, ele comprou pequenas participações numa companhia financeira e numa empresa de energia alternativa.
Apesar do clima de desconfiança e quase beligerante dos últimos meses com o controlador Casino, Abilio não teria interesse de vender sua participação no capital votante do Pão de Açúcar, de 20%. Ele possui o direito de alienar essa fatia ao grupo francês em condições já estabelecidas, entre 2014 e 2022. No momento, considera deixar a posição para seus herdeiros. Abilio preferiu não comentar nenhum dos temas.
Veículo: Valor Econômico