Francesa acelerou desinvestimentos, mudou gestores e criou novos negócios para tentar sair da crise
O grupo francês Carrefour arregaçou as mangas em 2012 para tentar tirar a empresa da crise iniciada alguns anos antes. Mudança de gestores, aceleração dos desinvestimentos, apostas em novos negócios e foco em mercados rentáveis vêm ajudando a empresa a equilibrar as contas. Só no ano passado, a empresa conseguiu captar ¤ 2,8 bilhões com a venda de ativos na Colômbia, Malásia e Indonésia. Além disso, fechou de janeiro a setembro 101 lojas, principalmente na Europa.
Paralelamente, a empresa voltou a investir na Argentina, um de seus mercados de maior crescimento mundial, com a aquisição de 129 unidades da rede de lojas de conveniência EKI. Também abriu até setembro 176 unidades, a maioria (135) de lojas de conveniência, que exigem menos investimentos, mas também trazem resultados mais modestos.
Consultores de varejo ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO são unânimes: a companhia está fazendo a lição de casa, mas ainda está longe de atingir o patamar de conforto nos negócios que tinha no início da década de 1990. Porém, algumas estratégias já marcam o caminho que a companhia deve seguir nos próximos doze meses.
Franquias e licenciamento
O modelo de franquia de negócios é conhecido na companhia graças ao sucesso da marca de varejo popular Dia%, que há dois anos ganhou independência nos negócios do Carrefour. Mas a empresa já vem mostrando que essa é uma forma de manter-se em mercados menos atrativos, sem o custo da operação. Foi o que aconteceu na Grécia, onde o Carrefour passou a ser uma das marcas operadas pelo Grupo Marinopoulos, que detém a licença de exploração de negócios como Gap e Starbucks na região. “Este tipo de iniciativa é importante para que a empresa deixe de operar em mercados pouco lucrativos e foque no que é realmente relevante”, afirma especialista em varejo Silvio Laban, professor do Insper.
Na Indonésia, a empresa vendeuem novembro sua participação de 60% do negócio para seu parceiro local CT Corp, por ¤ 525 milhões. Mas não deixou o mercado. O CT Corp se tornou franqueador exclusivo da marca na região. E uma fila de outros mercados podem ter o mesmo destino comoTurquia, Polônia, Romênia e Taiwan, onde a empresa conseguiria levantar mais ¤ 1,5 bilhão com a venda de ativos.
Mercado imobiliário
O Carrefour anunciou no começo do ano passado a consolidação de sua expertise imobiliária na França, Espanha e Itália dentro da Carrefour Properties, que conta com 900 imóveis, inclusive áreas de shoppings para comercialização. A tendência é que o negócio cresça além destes países.
O modelo de negócio é o mesmo utilizado por outras varejistas, como o Pão de Açúcar e o GPA Malls & Properties, braço do grupo responsável pela gestão, compra, venda e aluguel de imóveis para o varejo. “É uma tendência do setor”, afirma Laban, que diz que o segmento está um pouco atrasado em relação a outros mercados, como bancos.
Com os aportes na Argentina, o grupo deu uma mostra de que os mercados de alto crescimento vão continuar recebendo sua atenção—apesar do coro apocalíptico que ainda anuncia a possível venda dos negócios no Brasil. “O problema é que eles continuam patinando no Brasil”, afirma Adir Ribeiro, sócio-diretor da consultoria Praxis Education. Mesmo anunciando o crescimento de vendas no país, puxado pelo Atacadão, a unidade brasileira perdeu credibilidade em relação àmatriz, que, literalmente, deixou a gestão nacional sem voz. Eles não têm sequer porta-voz autorizado a falar com a imprensa no país, informou a assessoria de comunicação responsável pela operação nacional. Até o fechamento desta edição, a companhia não se manifestou.
Fantasmas da gestão passada assombram empresa
Velhos problemas no relacionamento com consumidor ainda são realidade nos negócios
Na China, o Carrefour enfrenta desde o final do ano passado uma briga com a justiça da província de Shanxi por cobrança de preços abusivos ao consumidor. A empresa pode receber uma multa entre US$ 8 mil e US$ 80 mil, de acordo com informações do departamento de preços em Taiyuan, a capital da província de Shanxi. A empresa apenas pediu desculpas pelo problema, afirmando que se trata de um “erro não intencional de trabalho”.
A reclamação veio de um consumidor local que se queixou às autoridades regionais após perceber discrepância entre o preço exibido na prateleira e que o cobrado pelo caixa na saída do Carrefour. A empresa também é acusada de propaganda enganosa por fornecer informações pouco precisas sobre produtos vendidos.
Apesar do interesse da companhia em apresentar o caso como um fato isolado, o Carrefour é conhecido dos órgãos de consumidores do Brasil por problemas como validade de produtos. Na Fundação Procon- SP, a empresa já assinou vários Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) para tentar driblar os velhos hábitos. A diferença é que aqui a punição émais branda, como confecção de material escolar para distribuição gratuita.
Veículo: Brasil Econômico