A articulação para a entrada de Abilio Diniz na presidência do conselho da Brasil Foods ocorre no momento em que a atual gestão da empresa vem sendo pressionada pelos acionistas a ser mais agressiva. Um dos principais pontos de discordância está na política de preços. Os fundos de investimento, principais acionistas da BRF, avaliam que a empresa deveria utilizar mais o poder de fogo conquistado com a fusão entre Sadia e Perdigão. "A BRF tem potencial para ser a Ambev dos alimentos", diz uma fonte ligada a um dos fundos.
Os maiores acionistas da Brasil Foods são os fundos de pensão estatais Previ (12% das ações) e Petros (10%), além do fundo privado Tarpon (8%). Apesar do valor de mercado da BRF ter dobrado desde 2009, quando a fusão foi anunciada, os fundos estão descontentes com a estratégia adotada pela empresa.
O ano de 2012 não foi fácil para a BRF. A empresa apresentou margens de lucro menores por causa da alta no preço dos grãos, dos custos envolvidos na venda de ativos imposta pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da desaceleração das exportações. De janeiro a setembro, a margem bruta foi de 21,4%, ante 25,3% no mesmo período em 2011.
Na visão dos analistas, o ano de 2012 não foi dos melhores, mas também não foi catastrófico. "O problema é que o mercado estava acostumado com crescimento de dois dígitos", diz Sandra Peres, da Coinvalores. "É normal os acionistas questionarem a diretoria em um ano difícil", diz Gabriel Vaz de Lima, do Barclays.
Troca – Para um acionista da BRF, o ciclo de Nildemar Secches, presidente do conselho de administração, que liderou o crescimento da Perdigão e a fusão com a Sadia, chegou ao fim. "Ele hoje tem se dedicado aos diversos conselhos em que atua e está caminhando para se tornar um conselheiro profissional."
Se a troca de Nildemar por Abilio Diniz realmente ocorrer na próxima reunião do conselho no dia 9 de abril, pode significar uma mudança profunda na BRF. O presidente, José Antonio do Prado Fay, e sete dos oito vice-presidentes estão fortemente ligados a Nildemar.
O nome de Abilio teria sido sugerido pelo Tarpon, que já foi um sócio relevante do empresário no Pão de Açúcar. No fim de 2012, Abilio tratou do tema em reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega – os fundos estatais, Previ e Petros, têm 22% da BRF.
Desde 2011, Abilio está envolvido em uma disputa com o seu sócio no Pão de Açúcar, a rede francesa Casino.
Veículo: Diário do Comércio - SP