Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA), enviou ontem à noite uma notificação ao presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, em que afirma que o sócio francês tem um "mal-dissimulado objetivo [...] perseguido de forma persistente" de retirá-lo da função no conselho do grupo para que o Casino consiga o "controle absoluto" da companhia. Entre as possíveis reações de Abilio para defender a sua posição no conselho do Pão de Açúcar, apurou o Valor, está o pedido de uma liminar no Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio da câmara empresarial, para que tenha os seus direitos respeitados a frente do colegiado.
A decisão de Abilio de enviar essa carta de notificação ao Casino, com sete páginas, é uma espécie de aviso, segundo fontes ligadas ao empresário: quer deixar claro que se o Casino chamar uma reunião extraordinária do conselho de Wilkes Participações, holding do grupo, e posteriormente uma assembleia de acionistas do GPA, para solicitar a sua renúncia, ele vai reagir. O Casino entende que Abilio não pode ocupar a presidência de dois conselhos de empresas que são parcerias comerciais - no caso, GPA e BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. O sócio francês já teria uma estratégia jurídica definida no sentido de afastar Abilio do cargo.
Abilio foi indicado para a presidência do conselho da BRF na semana passada. Por isso, o Casino acredita que pode pedir a renúncia do empresário em assembleia, baseado na existência de conflito de interesses, algo que Abilio nega existir. Se o assunto for para votação no conselho de Wilkes e em assembleia do GPA, o Casino tem o voto da maioria dos membros, hoje indicados pelos sócio francês, o que levaria à derrota de Abilio.
Na notificação a Naouri, o sócio brasileiro diz que "a 'questão BRF' vem sendo explorada de forma ardilosa. O objetivo é transformá-la num pretexto, numa escusa, para buscar o torpe objetivo de afastar AD [Abilio Diniz] da presidência do Conselho de Administração da CBD, o que permitiria ao Casino assumir o controle absoluto e incontrastável da companhia", escreve Abilio.
Há informações no mercado de que a Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) deve buscar formas, nos próximos dias, de enfraquecer o nome de Abilio entre os acionistas da BRF. Para reforçar sua posição, pode usar, por exemplo, o código de ética da BRF, que observa condições de conflito de interesse na empresa. O recado já foi dado quando a Petros citou a questão do conflito de interesses em sua posição oficial divulgada na semana passada.
Em nota, a Petros informou que foi favorável à composição da nova chapa do conselho, "exceto em relação à indicação para a presidência", ou seja, o nome de Abilio. E que o conflito é um dos fatos que ainda precisam ser melhor "compreendidos" entre os acionistas. Previ e Tarpon votaram a favor do nome de Abilio na reunião da BRF. Ainda há informações de que a Petros estaria planejando ampliar mais sua participação acionária na BRF, hoje em 12,9%.
Veículo: Valor Econômico