O brasileiro Guilherme Loureiro será o terceiro CEO da da gigante varejista no Brasil, desde 2008. Ele assume em um momento de vendas fracas e prejuízo
Por Rosenildo Gomes FERREIRA
Dificilmente algum executivo conseguirá bater o recorde do espanhol Vicente Trius na posição de presidente da subsidiária da rede varejista americana Walmart, com faturamento de R$ 25,93 bilhões, no ano passado. Seu mandato foi longevo sob qualquer base de comparação. Começou em 1997 e se estendeu até 2008, nada menos de 11 anos. O mesmo não se pode dizer de seus sucessores, o cubano Hector Nuñez e o brasileiro Marcos Samaha. Por razões diversas, nenhum deles esquentou a cadeira de CEO. Na terça-feira 13, a direção da empresa anunciou a saída de Samaha, que estava no comando desde 2010. O posto será ocupado por Guilherme Loureiro, que ingressou na empresa no final de 2012, como vice-presidente executivo.
O novo CEO do Walmart gosta de relacionamentos longos. Passou os últimos 24 anos na anglo-holandesa Unilever, atuando nas áreas de finanças e de operações e no desenvolvimento de novos negócios e países como México, Reino Unido e Estados Unidos. A partir de 31 de agosto, quando assume de fato o cargo, Loureiro terá duas missões espinhosas: completar a integração das redes adquiridas desde a gestão de Trius, a pernambucana Bompreço e as lojas do português Sonae, na região Sul, e concluir a implantação do controvertido conceito preço baixo todo dia. Com essa estratégia, a varejista tenta convencer o consumidor de que é vantajoso ser fiel à bandeira, pois, na média, gastará menos do que se optar pela concorrência. É aí que reside o problema.
“Os brasileiros gostam mesmo é de promoções agressivas”, afirma o consultor Alberto Serrentino, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza, de São Paulo. Serrentino diz que essa política faz mais sentido nos Estados Unidos e no México, onde o Walmart, maior varejista do planeta, com vendas anuais de US$ 466,7 bilhões, possui uma dimensão avassaladora. Bem diferente de sua situação por aqui, onde ocupa o terceiro lugar do ranking, muito distante da líder Carrefour e da vice colocada, o grupo Pão de Açúcar. Oficialmente, o Walmart nega que existam problemas na subsidiária – esse mesmo tipo de reação, por sinal, foi adotado até à véspera da saída de Nuñez, o antecessor de Samanha.
Mas, na matriz o discurso é outro. O balanço global, divulgado na última semana e referente ao período abril-junho, mostra que as vendas líquidas no Brasil cresceram só 2,8%, ante 10,6%, do Pão de Açúcar e 9,5% do Carrefour. Insuficiente para cobrir as despesas, o que resultou em prejuízo operacional, de acordo com Doug McMillon, presidente do Walmart International. Procurada, a direção da rede não quis se pronunciar. “Enquanto a economia brasileira avançava em um ritmo forte, não era necessário muito esforço para crescer”, diz o consultor Sérgio Nardi, especialista em varejo para baixa renda. “Agora, é preciso ter uma gestão mais criativa e saber acompanhar as mudanças do mercado.”
Nardi acredita que Loureiro reúne as condições para dar conta do recado. Graduado em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), com mestrado e doutorado pela mesma instituição, ele consegue dialogar bem com os dois lados do balcão: varejo e indústria. Se estivesse no posto, talvez tivesse evitado o fechamento da única loja que a rede possuía na avenida das Américas, na Barra da Tijuca, bairro de classe média da zona oeste do Rio de Janeiro, região que mais cresce na cidade. O negócio ocorreu no final de dezembro de 2012 e o terreno foi absorvido pela administradora de shopping centers Multiplan, que pagou R$ 231 milhões por 36 mil metros de área.
“Foi uma decisão equivocada”, afirma o consultor Ricardo Scaroni, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ). “Hoje, a ambição de qualquer comerciante é ter um espaço privilegiado no bairro.” Uma loja a menos pode fazer diferença para quem tem como opção preferencial o crescimento das atividades de forma orgânica. Nos últimos dez anos, enquanto as rivais Carrefour e Pão de Açúcar acirraram a briga pela liderança, o Walmart praticamente parou de ampliar sua rede e encerrou 2012 com 547 pontos de venda, ante 521 do ano anterior.
É muito pouco para quem atua por aqui desde 1995. Como efeito de comparação, basta lembrar que a chilena Cencosud, que desembarcou no Brasil em 2011 e cresce em alta velocidade graças a aquisições de redes locais como GBarbosa, Perini e Bretãs, encerrou o ano passado com 205 lojas e uma receita de R$ 9,3 bilhões, 55,8% acima do obtido em 2012, segundo o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Resta saber se a direção do Walmart concederá a Loureiro tempo bastante para colocar a subsidiária brasileira nos eixos. Afinal, territorialmente, o Brasil é tão grande quanto os EUA, mas hoje contribuiu com menos de 3% dos US$ 466 bilhões de vendas globais da empresa fundada por Sam Walton.
Veículo: Istoé Dinheiro