Depois de o empresário Abilio Diniz deixar o bloco de controle do Pão de Açúcar, agora é a família Klein que prepara seu desembarque da Via Varejo, o braço de eletroeletrônicos do grupo que integra as redes Casas Bahia e Ponto Frio. Os Klein e o grupo francês Casino (que comanda o Pão de Açúcar) já acertaram os principais pontos para uma oferta pública de ações (OPA), o primeiro passo para viabilizar a saída dos fundadores das Casas Bahia do negócio.
Os Klein, que têm 47% do capital votante (ações ordinárias, ON) da Via Varejo, vão vender uma fatia de 16,6%. As ações da Via Varejo estão cotadas em torno de R$ 25, o que confere à empresa valor de mercado próximo a R$ 8,05 bilhões. Em valores de hoje, portanto, as ações dos 16,6% dos Klein que serão colocados à venda renderiam à família cerca de R$ 1,3 bilhão.
A operação deve ser registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na primeira quinzena de outubro, depois do fechamento do balanço do terceiro trimestre. A ideia é que o processo de reservas dos papéis pelos investidores (booking) ocorra entre dezembro e janeiro.
Saída organizada
Pelo acordo de acionistas, a empresa fará uma oferta de aumento de capital de pelo menos 10% do capital total da companhia. Para evitar que o Pão de Açúcar, que tem 52,4%, tenha seu controle diluído na operação, optou-se pela emissão de units, compostas por uma ação ordinária (ON) e duas preferenciais (PN).
— A decisão dos Klein é sair, e esse modelo permite uma saída organizada — diz uma fonte que acompanha de perto o processo. — A venda de 16,6% é um primeiro passo, que tende a dar maior liquidez aos papéis da Via Varejo e para os Klein, que não necessariamente vão sair da empresa no curto prazo.
Resultado de reorganização societária que tinha como base as ações da Globex (denominação na Bolsa dos papéis do Ponto Frio), a Via Varejo tem apenas 0,59% de suas ações nas mãos de acionistas na Bolsa (free floating), que por isso quase não são negociadas.
A oferta pública está sendo organizada pelo Bradesco Banco de Investimentos (BBI), escolhido pelos Klein, e pelo Credit Suísse, indicado pelo Casino. As instituições já bateram o martelo sobre a viabilidade econômica da operação, que apenas será postergada caso as condições de mercado se deteriorem nos próximos meses.
— A relação da família Klein com o Casino neste momento está super alinhada, não há questionamentos — assegura outro executivo.
Mas não foi sempre assim. As relações dos Klein tanto com Diniz (que negociou a fusão das Casas Bahia ao grupo, em 2009), quanto com o Casino (que sucedeu Diniz no comando do grupo em junho de 2012), nunca foram fáceis. Depois de anunciar a venda, os Klein pediram a revisão do acordo, empurrando o fechamento da transação para 2010. Na verdade, o ambiente entre os sócios da Via Varejo nunca foi tranquilo.
— Com Diniz era um problema, as reuniões do Conselho eram complicadíssimas, com mil advogados de cada lado. Agora, trata-se do negócio — diz um membro do colegiado.
O clima entre Casino e os Klein piorou no ano passado, depois que os franceses aprovaram a saída de Raphael Klein da presidência da Via Varejo, posto em que, pelo acordo de acionistas, ele poderia ficar por mais dois anos.
Ações para filho e netos
Contrariado, Michael Klein, pai de Raphael e presidente do Conselho da Via Varejo, chegou a fazer uma oferta para elevar sua fatia a 70% do capital e ficar com o controle da empresa. Era final de 2012 e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, disse não.
— Não teve negócio, vamos para a frente — conta um executivo sobre a decisão dos Klein, tomada logo em seguida, de sair da Via Varejo.
A movimentação dos Klein — esta semana o patriarca, Samuel Klein, transferiu suas ações para o filho e netos — é vista no mercado como positiva para a Via Varejo.
— Certamente vai ser benéfico para a governança da empresa, pois consolida o controle do Casino e reduz a percepção de risco entre os investidores — diz um analista.
Veículo: O Globo - RJ