Aos 32 anos, diretor de inovação testa novos modelos de entrega no Brasil e cobiça mercado hoje ocupado pela B2W
Gabriel Naouri, mestre em matemática aplicada, diz que aprendeu com o pai a confiar nos números. As palavras podem mentir, mas os números não.
É dessa forma que Gabriel Naouri, 32, cita o que aprendeu (e aprende) com Jean-Charles Naouri, 64, presidente do Casino, desde que aceitou, em 2007, o convite do executivo (a quem chama pelo nome, e não de pai) para entrar na companhia.A aproximação de Gabriel com o varejo começara em 2006, quando virou diretor de marketing da marca de xampu Garnier, da L'Oréal.
"Aprendi a força da relação entre fabricante e varejo quando o Walmart era responsável por 50% das vendas do Garnier Fructis. Se dissessem que queriam que a tampa do produto fosse redonda, e não quadrada, mesmo que tivéssemos investido milhões e milhões em marketing, tínhamos de mudar tudo", diz.Sua carreira havia se iniciado no setor de fusões e aquisições do banco de investimento Rothschild & Cie, em Nova York, há dez anos, após um mestrado em matemática aplicada na Universidade Paris-Dauphine.
Do coração financeiro de Nova York, Gabriel mudou-se para uma vila de 3.000 habitantes no interior da França, onde trabalhou por nove meses como padeiro, açougueiro, faxineiro, caixa e vigilante, até aprender todas as funções do hipermercado.
Foram mais cinco anos em diferentes lojas do Géant, uma das bandeiras do Casino, até assumir a função de responsável por operações e divisão de alimentos da rede.Há pouco mais de um ano, assumiu a diretoria de marcas próprias, marketing digital e inovação do Casino.
A primeira marca própria surgiu no Casino em 1901; hoje são 20 mil. "Ainda há espaço para avançar no Brasil. Não será em um ano nem dois, mas vai crescer", afirma. No Brasil, a venda de itens dessa categoria representa 6% do faturamento. Na Europa, representa 20%.O segredo, diz, é o preço. "Se for muito barato, ninguém comprará. As pessoas pensam que não tem qualidade. É preciso saber precificar", afirma.
INOVAÇÃO
Quando chegou ao cargo de diretor de inovação em 2012, Gabriel propôs investir a metade do orçamento, com foco na mobilidade e em tecnologia. O projeto é investir cada vez mais no marketing digital, com e-mails diários."Na França, rádio e TV funcionam bem para promoções. Redes sociais, para a marca, e o e-mail, para o cliente."
No Brasil e em outros países em que o grupo atua --Colômbia, Argentina, Uruguai, Tailândia e Vietnã--, Gabriel diz que a ideia é "aumentar a troca de experiências".A partir deste ano, por exemplo, um chef francês virá ao Brasil dar aulas no setor de padarias. Na contramão, produtos brasileiros serão vendidos em lojas na França.
O modelo de vendas da Via Varejo (eletroeletrônicos) e da Nova Pontocom (empresa de comércio eletrônico formada pelos sites de Casas Bahia, Ponto Frio e Extra) deve ser alvo de cada vez mais intercâmbio com os franceses.
A retirada de produtos no sistema drive do grupo --o consumidor compra on-line e pode retirar em mais de cem lojas-- é um dos sistemas "importado" da França.No Brasil, o serviço começou em novembro, na loja do Morumbi (para alimentos e bebidas comprados do Extra-Delivery) e deve ser levado para oito lojas da capital paulista já neste trimestre.
Nas vendas on-line no Brasil, a meta é ambiciosa. "Queremos ser o número 1, como na França", diz Gabriel, ao repetir o que outros executivos do grupo já têm dito, como um mantra. A liderança do e-commerce brasileiro hoje é da B2W, que reúne Lojas Americanas e Submarino.Gabriel é econômico nas palavras ao mencionar como foi o período de conflito entre o grupo e o empresário Abilio Diniz, que deixou recentemente a companhia fundada pelo pai em 1948.
"Foi uma época difícil. Mas negócios são negócios", diz. Os Diniz e os Naouris, apesar de separados no mundo dos negócios, guardam semelhanças. Assim como um dos seis herdeiros de Abilio (o esportista e empresário João Paulo Diniz), Gabriel (um dos três herdeiros de Jean-Charles) é jovem, rico e bonito.
Mas, diferentemente de João Paulo, que já declarou que preferia trilhar caminhos diferentes porque nunca iriam existir "dois Abilio Diniz", Gabriel, filho mais velho de Naouri, faz questão de dizer: "No grupo só tem dois Naouris".
Veículo: Folha de S. Paulo