A política de redução de preços implementada pelo braço alimentar do Grupo Pão de Açúcar nos últimos meses, e defendida pelo controlador Casino, deve afetar o nível de rentabilidade da companhia no quarto trimestre de 2013, na avaliação de analistas que acompanham a empresa. Há expectativa, porém, de bom desempenho para as vendas, com aumento no volume por conta dos preços mais competitivos nas lojas.
A empresa divulga seus números do quarto trimestre amanhã, após o fechamento do mercado.
Para os especialistas, o que pode equilibrar uma provável perda de lucratividade no último trimestre de 2013 são as ações que têm sido tomadas pela companhia no sentido de reduzir o peso das despesas com vendas, gerais e administrativas, dizem as equipes do HSBC e do J.P.Morgan. A empresa congelou projetos de investimentos não ligados diretamente ao "core" do negócio - por exemplo, um desembolso para a área administrativa - e demitiu funcionários nos últimos meses, reduzindo níveis hieráquicos, o que acaba gerando economias no grupo.
Para a operação de eletroeletrônicos, com a Via Varejo, a "Black Friday", realizada em 29 de novembro, provavelmente impulsionou as vendas do quarto trimestre. No entanto, como a ação é fortemente promocional - assim como ocorreu na área alimentar - pode existir algum impacto na rentabilidade do negócio. Se reduções de custos (que também acontecem na Via Varejo) trouxerem impactos positivos no balanço, essa pressão pode ser diminuída.
Os principais relatórios de analistas - o Valor verificou previsões para a empresa na Votorantim Corretora, na Bradesco Corretora e no J.P.Morgan - ressaltam essas questões, com expectativa de alta média de 17% na receita líquida do grupo (alimentar e eletrônico) e expansão de 15,5% no lucro antes de impostos, depreciação e amortização. Para o lucro líquido, a estimativa é expansão mais tímida, de 4,1% em média.
"Nós acreditamos que a estratégia de preço do GPA para a divisão de alimentos provavelmente continuará a impactar negativamente na margem bruta [expectativa de queda de 0,9 ponto, para 26%] no quatro trimestre", escreveu Ricardo Boiati, analista da Bradesco Corretora. "Mas melhorias na despesa com vendas, gerais e administrativas [aumento de 1,1 ponto percentual na relação despesas e receitas, para 19,2%] devem compensar o declínio", escreve.
A margem Ebitda deve mostrar crescimento modesto, de 0,08 ponto no período para 9,2%, com um Ebitda de R$ 846 milhões, informa o relatório. A corretora prevê um lucro por ação ajustado (consolidado) de R$ 1,55, um aumento de 2% no período, em relação ao ano anterior.
A Votorantim Corretora reforça em sua análise a prévia de resultados do GPA. O grupo informou alta de 10,8% nas vendas brutas da área de alimentos e de eletroeletrônico para "mesmas lojas" (abertas há mais de 12 meses). Apenas na área alimentar a expansão foi de 8,8% e no varejo eletrônico (Casas Bahia e Ponto Frio), alta de 9%.
A equipe da corretora, formada por Luiz Cesta e Paulo Prado, prevê alta de 16% na receita líquida de outubro a dezembro e queda de um ponto percentual na margem bruta, para 26,9%. Para o lucro líquido, estima alta de 6,2%. "Isso acontece em decorrência da política de descontos em alimentos, também do Black Friday e da alta representatividade da Nova Pontocom nas vendas consolidadas."
A analista Andrea Teixeira, do J.P.Morgan também ressalta as maiores pressões na lucratividade e a possível compensação desses efeitos com as ações de redução de despesas. A previsão é de uma alta de 19% nas vendas líquidas da área alimentar, puxada pela receita dos sites de venda eletrônica (previsão de alta de 26%) e crescimento de 35% nas vendas do atacado Assaí.
Para o Ebitda, a expectativa é de alta de 16% de outubro a dezembro, para R$ 1,5 bilhão, com margem Ebitda estável (8,7%) em relação ao mesmo período de 2012.
Em relação à operação da Via Varejo, por conta das ações com preços mais agressivos também nesse negócio, Boiati, do Bradesco, prevê redução de 1,5 ponto na margem bruta da empresa no quarto trimestre (atingiu 29,1% no mesmo período do ano passado). A estimativa é de queda na relação entre despesas e receita de 0,65 ponto (estava em 20,3%) e redução de 0,85 ponto na margem Ebitda, em 8,7% no quarto trimestre do ano passado.
Veículo: Valor Econômico