O Martins, um dos maiores distribuidores de produtos de consumo do país, criou em quase uma década e meia uma rede de pequenos supermercados franqueados, com menos de mil metros quadrados, que se tornou a maior deste segmento no Brasil. A Smart terá 950 pontos ao fim do ano, equivalente a uma Lojas Americanas e mais de três vezes o número de lojas do Carrefour no país.
Em 2013, a Smart, que está abrindo mais 50 lojas neste ano, faturou R$ 5,9 bilhões, uma expansão nominal de 18%.
Este modelo de lojas de vizinhança enfrenta concorrência mais pesada de grandes cadeias nacionais, como o Grupo Pão de Açúcar (GPA), e isso só deve se acentuar. O GPA estuda operar franquias após 2015. Há outras cadeias analisando projetos de "mercadinhos" no Brasil. O Martins vai, então, tentar ocupar novos espaços pelo país, para verificar se consegue aumentar a sua base de operação e defender o próprio terreno, após ajustes já feitos no formato da Smart anos atrás.
Em agosto, 20 pontos no Acre serão convertidos em unidades da Smart, triplicando o número de suas lojas no Estado. No fim de 2013, a rede entrou no Rio Grande do Norte, com 15 pontos. O Nordeste, assim, está totalmente ocupado. "Estamos com foco maior no Norte e Nordeste e temos buscado nos espalhar pelo interior e periferia no Sudeste", diz Gilmario Cavalcante, diretor da Smart. O maior mercado na região é a Bahia, com 108 unidades. Em Minas Gerais, sede do Martins, são 226 pontos.
O modelo funciona pelo sistema de conversão de lojas, administradas por pequenos varejistas, aceitam trocar suas marcas pela Smart. O associado paga ao Martins uma taxa de adesão fixa ao se tornar franqueado e uma taxa de administração mensal. O grupo atacadista fecha acordos de distribuição para uma massa de pontos considerável - uma loja Smart compra até 20 vezes mais mercadorias do Martins do que uma loja que não pertence à rede.
A existência da Smart, seu modelo em si, não é novidade neste mercado. Mas a movimentação das empresas aponta para um aumento da competição no setor de lojas de vizinhança.
O GPA prevê abrir 360 lojas de vizinhança do "Minimercado Extra" entre 2014 e 2016 (cerca de um terço da rede Smart hoje) e deve se expandir para regiões de atuação das lojas Smart, como o Nordeste. São 183 minimercados, que faturaram até junho R$ 300 milhões, alta de 53%. O Carrefour, por sua vez, estuda abrir lojas de supermercados de "hard discount" (supermercados com descontos agressivos) e de lojas de vizinhança, segundo informações no setor. A empresa não comenta.
Sobre essa maior competição com o GPA, Walter Faria, presidente do Martins, diz que os modelos das empresas não são comparáveis. "Nós mantemos na loja [franqueada] o antigo dono, com amplo conhecimento daquela área onde atua. E buscamos aprimorar a gestão, sistemas de tecnologia e lay-out em parceria com o varejista", diz Faria. "O desafio deles [GPA] é aprender a operar loja pequena, e entender a logística desses pontos".
A respeito da possibilidade de o GPA comprar lojas de vizinhança que são atendidas pelo Martins hoje, Faria acredita que isso deverá ser uma questão a ser tratada "mais a longo prazo". "Tudo leva a crer que eles [GPA] vão se expandir comprando pontos pequenos, mas não é algo que possa afetar tanto o mercado no curto prazo", disse faria. Se o GPA comprar lojas pequenas, há o risco de o Martins perder contratos de distribuição - o GPA compra diretamente da indústria. O Martins atende cerca de 300 mil varejistas no país.
"Martins e o Pão de Açúcar tem modelos diferentes em lojas de vizinhança, então não vejo competição a curto prazo tão forte. Esse setor é pulverizado no país e cabe muita gente nele", diz Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria.
O Martins informou que cresceu cerca de 15% em 2013, com receita líquida passando de R$ 3,2 bilhões a R$ 3,7 bilhões. A previsão é de um índice de expansão menor neste ano, na faixa de 13% - mesma taxa de crescimento registrada até metade do ano. "Este é um ano mais difícil e também a base de comparação de 2013 é alta", disse Faria.
Veículo: Valor Econômico