Varejista investirá R$ 40 milhões no projeto, que prevê a abertura de 50 unidades na cidade de São Paulo em cinco anos
SÃO PAULO - Um dos cartões postais da cidade de São Paulo, o edifício Itália, localizado no entroncamento das avenidas Ipiranga e São Luís, passou a abrigar uma loja de supermercado de vizinhança no piso térreo. A terceira unidade do Hirota Food Express certamente surpreenderia os idealizadores do projeto arquitetônico do início dos anos 1950 e que representou a ascensão social e econômica dos imigrantes italianos, num território marcado por luxo e glamour.
Também surpreenderia o imigrante japonês Katsumi Hirota, fundador da rede que leva seu sobrenome, falecido seis anos atrás e que ingressou no País para trabalhar na lavoura de café. Ele não poderia imaginar onde chegaria a pequena mercearia aberta nos anos 1970, na zona sul de São Paulo. Essa unidade é o pontapé inicial de um plano ambicioso de expansão. A rede quer abrir 50 lojas de conveniência no modelo japonês, chamado de Konbini, em cinco anos na cidade de São Paulo. A expectativa é que 20 lojas sejam inauguradas no ano que vem, com a admissão de 300 trabalhadores. Neste ano já foram três: além da unidade do edifício Itália, uma na avenida Paulista e outra no shopping Eldorado.
"Esse modelo é adequado à crise e ao estilo de vida do paulistano", diz Leandro Kamada, gerente de novos negócios e neto do fundador. O investimento total estimado nesse projeto é de quase R$ 40 milhões, o equivalente ao que seria gasto para erguer de duas a três lojas tradicionais de supermercado. A expectativa é que o faturamento da empresa cresça 300% no ano que vem, puxado pelas lojas de conveniência e que esse formato responda por metade das vendas ao final de cinco anos. A outra metade viria das lojas de supermercados.
A empresa não revela o faturamento. Mas, nas contas de especialistas do varejo, a receita da rede hoje seria de R$ 400 milhões por ano com 15 lojas de supermercados. Com esse faturamento, a empresa estaria entre as 200 maiores do setor supermercados no País. Konbini. O modelo de conveniência japonês são lojas pequenas, com 150 a 300 metros quadrados, localizadas em regiões com grande fluxo de pessoas em áreas centrais. Em Tóquio há 4 mil lojas no formato konbini. Eugênia Fonseca, gerente da empresa, explica que esse formato é diferente das lojas dos concorrentes em operação no País. No Japão, a loja de conveniência é um lugar onde o consumidor pode se encontrar de tudo e com uma grande oferta de pratos prontos e saudáveis. "É onde você pode resolver a vida", diz ela. Na sua avaliação, as lojas concorrentes em operação hoje em São Paulo são "mais do mesmo". Isto é, reproduzem em menores proporções o que já é oferecido num supermercado tradicional.
Para dar suporte a esse modelo, a empresa investiu numa cozinha industrial, com 150 profissionais da área de nutrição. Até a importou do Japão uma máquina para fazer sushi. A cozinha tem capacidade para produzir pratos para abastecer 30 lojas de conveniência e não se restringe à culinária japonesa. Além da comida pronta fresca, Eugenia ressalta que o outro pilar de diferenciação do projeto é a grande oferta de produtos orientais. Os produtos orientais representam 6% do faturamento da varejista e cresceram na casa de dois dígitos nos últimos três anos. A intenção é atrair o público que tradicionalmente vai ao bairro paulistano da Liberdade comprar produtos orientais.
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) avalia positivamente a estratégia da empresa. "Uma rede desse porte ou se diferencia com esse modelo de loja de conveniência ou acaba sendo engolida pela concorrência." Ele destaca que esse caminho de enfatizar a venda de produto étnicos e uma tendência mundial e no caso do Brasil vem a calhar. "Hoje existe mais restaurante japonês no País do que churrascaria."
Em relação às lojas de conveniência, Terra diz que o grande número de mulheres trabalhando fora amplia a necessidade das compras de última hora e de pratos prontos. Além disso, com a crise, abrir lojas menores em pontos centrais da cidade ficou mais fácil por causa da crise, uma vez que aluguel desses pontos até pouco tempo atrás estava muito elevado.
Fonte: O Estado de São Paulo