Nos corredores de um grande supermercado da M'Boi Mirim, na zona sul de São Paulo, moradores que fazem compras acompanhados de um membro da família segura na palma da mão uma lista de compras e na outra o celular, um aliado estratégico para calcular o valor da compra e se comunicar com o grupo de WhatsApp da família para difundir imagens de promoções e comparar preços de alguns produtos.
"O celular serve pra gente ter uma noção de valor total no momento de chegar ao caixa né", afirma Gilson, morador do Jardim Ângela. Acompanhado da sua sobrinha Jessy, ele conta que a calculadora do celular ajuda também na administração dos preços de cada item da compra. "De repente a gente pega uma mercadoria calculando um valor e chegando lá dá outro. Então a gente já faz essa base de calculo para chegar lá e não ter que devolver a mercadoria."
A dupla percorre os corredores do mercado comparando preços e produtos, no entanto, essa verificação permanece no interior da loja e não chega as páginas da internet, mesmo com o recurso de wi-fi grátis disponível no local. "Pra eu ser sincero, eu não pensei nisso ainda. Porque a nossa vida é tão corrida, que até calcular aqui, pesquisar no Google ou em outro site dá muito trabalho. Então a gente não está muito conectada com esse negócio ai não", argumenta o morador.
Gilson acredita que acessar a internet somente não ajuda o consumidor a aprimorar o processo de compra. "A gente gostaria de passar em vários mercados e fazer uma lista dessas com produtos, para a gente chegar à conclusão de qual deles é mais barato, mas o nosso tempo é muito corrido."
Gesso concorda com o seu tio e destaca que na periferia não é todo mercado que disponibiliza internet gratuita para os usuários. "Eu não sabia que tinha internet livre aqui. E também não é todo mercado que tem uma internet liberada para usar. Então a gente acaba não se preocupando em pesquisar nos sites por conta do sinal também."
Em outro corredor do supermercado, a moradora Regina Eva enfatiza a importância de ter uma lista de compras pronta, para também utilizar o celular como uma calculadora, em busca de ter uma melhor noção do valor total da compra mensal e não se deparar com surpresas indesejáveis no momento de realizar o pagamento no caixa. "Eu olho a dispensa, faço a relação de produtos e já venho de casa com a lista pronta. Eu nunca pensei em comparar preços, eu uso o celular mais para calcular o valor da compra."
Para Eva, o acesso ao wi-fi estimularia a comparação de preços no ato da compra. "Eu não gosto de passar susto no caixa. Por isso, com o wi-fi grátis seria bem natural ir atrás de outros mercados na internet para fazer essa apuração de preços."
De acordo com Leandro Saltini, gerente de marketing do supermercado, a instalação do wi-fi não está conectada com uma estratégia comercial, mas sim em oferecer conforto e conectividade para os usuários. "Para se ter uma ideia, não utilizamos nenhum dado fornecido pelos clientes no momento do registro na nossa Rede Livre para quaisquer fins comerciais", diz ela, afirmando que o único registro necessário para usar a rede se deve exclusivamente por determinação da Lei do Marco Civil da Internet.
Dados fornecidos pelo departamento de tecnologia da informação do supermercado apontam que os picos de trafego de usuários conectados a rede de wi-fi livre seguem os padrões de datas de maior consumo, como o quinto dia útil do mês, feriados e datas comemorativas com forte apelo comercial.
A tradição de comparar preços de maneira analógica acompanha a trajetória de ambos os moradores. Antes mesmo da era digital, eles já utilizavam um caderno de compras para auxiliar a aquisição de mercadorias durante a compra mensal. Ainda hoje, esse hábito se mantém, ao passo que o celular, segundo os usuários ainda pode ser mais explorado, a partir da criação de serviços de comparação de preços online, que estimule o uso da internet dentro dos mercados das periferias.
Fonte: Uol