A varejista de alimentos Grupo Mateus fez um dos maiores IPOs do ano até agora e segue dando boas notícias aos investidores. Os resultados do terceiro trimestre do grupo mostraram alta de 51,6% na receita, para 3,6 bilhões de reais, e de 64,6% no lucro, para 236 milhões de reais, em relação ao mesmo período de 2019.
Na visão do BTG Pactual, a rede pode muito mais – e por isso o banco passa a cobrir a companhia, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 11. Em relatório divulgado ontem, os analistas do banco ressaltaram os trunfos e a história de sucesso do Mateus, que cresceu nas regiões Norte e Nordeste, tornando mais difícil a vida das varejistas nacionais.
“Temos falado que alguns players regionais no varejo de alimentos no Brasil têm tido uma história de crescimento de sucesso, ajudados pelo crescimento de escala (e barganhando poder com a indústria), boa localização de lojas, força de marca e boa execução. Isso tem feito a vida de players nacionais e listados muito mais difícil”, disseram os analistas.
Este é exatamente o caso do Grupo Mateus. Com 137 lojas nos estados de Maranhão, Pará e Piauí, o grupo combina conhecimento do mercado local, escala, logística eficiente, espaço para crescer nas regiões onde já atua e um modelo de negócio multiformato, destaca o banco.
O BTG acredita que a varejista pode abrir lojas em 37 cidades de estados onde ela possui operações de varejo. O número de cidades novas em potencial sobe para 116 se forem levadas em consideração Ceará, Bahia e Tocantins, onde atualmente atua somente no atacado. O banco espera 179 novas lojas do grupo até 2025, e crescimento de receita de 24% em 2021.
O banco não descarta que players nacionais, como Pão de Açúcar, Carrefour e Grupo Big tentem aumentar sua presença nas regiões de origem do Grupo Mateus – 12% das lojas do GPA e 23% das lojas do Carrefour estão nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, “a capilaridade de suas lojas, sua estrutura logística e sua escala criam um ambiente mais duro para novos (e antigos) entrantes”, dizem os analistas do banco.
O Grupo possui operações de supermercados (com as marcas Mateus Supermercado, Mateus Hipermercado e Camiño), atacarejo (com a marca Mix Atacarejo), atacado (com o Armazém Mateus) e móveis e eletrodomésticos (Eletro Mateus). Possui também uma indústria de panificação (com o nome de Bumba Meu Pão) e uma central de fatiamento e porcionamento. Tem ainda o MateusCard, cartão de crédito em parceira com o Bradesco, que pode ser usado dentro e fora de suas lojas e tem hoje 215 mil contas.
Na visão dos analistas do BTG, “embora o Grupo Mateus tenha superado os jogadores nacionais, a verdadeira competição nos próximos anos virá de pares regionais com muito menos escala”. Para vencer essa disputa, o Grupo Mateus tem algumas cartas na manga, dentre elas a verticalização de negócios complementares. O Mateus é dono por exemplo de uma indústria pães, a Bumba Meu Pão, o que dá à empresa ganhos de margem e garantia de qualidade.
Os analistas ressaltam que é importante observar os riscos para o negócio, uma vez que o setor de alimentos pode ser afetado pelo fim do auxílio emergencial e pela crise econômica causada pelo novo coronavírus. Apesar das incertezas do mercado, o banco acredita que “a maturação das lojas abertas recentemente, e a resiliência do setor em períodos difíceis, e o plano de expansão agressiva deve sustentar sólido crescimento”.
IPO histórico
O Grupo Mateus foi criado há 34 anos por Ilson Mateus, um ex-garimpeiro de Serra Pelada, e chegou à B3 quebrando dois recordes. Com arrecadação de R$ 4,63 bilhões, foi um dos maiores IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) de 2020. Além disso, a companhia fez a maior estreia de uma empresa com origem na Região Nordeste da história da Bolsa brasileira. A demanda foi robusta desde o lançamento da oferta, batendo cinco vezes o volume ofertado. Além do lote principal, a companhia também colocou no mercado cerca de 75% do lote adicional.
O grupo é a quarta maior empresa de varejo alimentar do Brasil. Dentre os diferenciais destacados pela companhia está a sua operação logística. O grupo possui nove centros de distribuição e faz suas entregas com uma frota de 926 caminhões, sendo 330 de frota própria. “A posição estratégica dos CDs garante atendimento ágil com baixo custo, além, claro, de permitir a abertura de novas lojas ao longo das rotas, o que gera otimização de viagens, redução de custos e aumento da competitividade”, diz a empresa no prospecto da oferta inicial de ações.
Com a pandemia do novo coronavírus, o grupo acelerou a implantação do seu e-commerce, com o lançamento de um app para vendas nas modalidades delivery e drive-thru. Outros pontos destacados pelo varejista aos investidores são sua operação de crédito, o investimento em tecnologia, e a cultura organizacional.
O plano do grupo Mateus no longo prazo é fortalecer sua presença regional, ampliando de forma significativa o número de lojas, através da expansão orgânica. O foco da expansão são principalmente os formatos de atacarejo, com a marca Mix Atacarejo, e loja de vizinhança, com a marca Camiño.
Fonte: Exame