Algumas empresas utilizam os termos e selos ecológicos para atrair consumidor - orgânicos produzidos e comercializados no Brasil terão um selo oficial que deverá ser usado junto com o das certificadoras
Uma pesquisa feita no começo do ano mostra que há mais marketing do que verdade nos rótulos dos itens que se dizem "verdes" vendidos no mercado brasileiro.
O estudo, realizado pela Market Analyses no primeiro trimestre, examinou 501 produtos vendidos nos supermercados do país. Todos tinham algum tipo de mensagem alusiva ao meio ambiente e a conclusão é a de que 90% deles apresentavam problemas de rotulagem. Apenas 87 produtos estampavam selos em conformidade com as normas internacionais para o uso de mensagens de sustentabilidade ambiental. A Market Analyses é uma empresa brasileira de pesquisa de mercado com mais de 10 anos de atuação no país e na América Latina.
A pesquisa dividiu os problemas encontrados em sete "pecados", que vão desde camuflar o real impacto ambiental causado durante o processo de produção até mentir para o consumidor.
"Em um dos casos, encontramos um produto com selo de eficiência energética. Quando fomos consultar o registro, descobrimos que não havia nada na organização certificadora para essa empresa e produto", afirmou Thayse Kiatkoski Neves, assistente de projeto e responsável pela pesquisa sobre greenwashing (lavagem verde, em tradução livre), expressão utilizada para definir a prática de citar termos ecológicos para atribuir uma imagem falsa a uma empresa ou produto.
Atração - A gerente de operações do Instituto Akatu, Heloísa Torres de Mello, explica que algumas empresas utilizam os termos e selos ecológicos como forma de atrair o consumidor. "Infelizmente há empresas que usam o selos como marketing, mas isso é como dar um tiro no pé. Uma hora o consumidor vai perceber que está sendo enganado e vai deixar de comprar o produto como forma de punição", disse.
Uma pesquisa feita no ano passado pelo grupo francês Havas em 10 países mostra que 64% dos consumidores brasileiros aceitariam pagar até 10% a mais por um produto que fosse feito de forma sustentável ambientalmente e socialmente. "O resultado é superior ao da média internacional, de 48%. E esse comprador ainda recomendaria o produto para outras pessoas, o que mostra uma vontade efetiva de participar desse mercado", explicou a diretora de Marketing e estratégia da Havas Digital, braço do grupo no país, Luciana Iodice.
Certificações - Em meio à profusão de selos e certificações nem sempre confiáveis, como mostra a pesquisa a Market Analyses, o consumidor que quer se assegurar de que está comprando um produto que apresente menor impacto ao meio ambiente vai ter trabalho.
A primeira coisa a verificar é a procedência do selo, que deve ser atestado por terceiros e não pela própria empresa. E este deve ter um número de registro.
"O importante é procurar evidências no próprio produto, como nome da certificadora, número de registro. Se ainda houver desconfiança, consulte o site da empresa, pois uma companhia transparente terá informações sobre seu trabalho na área de sustentabilidade", recomendou Thayse Kiatkoski Neves. Os Serviços de Atendimento ao Cliente (SAC) também podem ajudar.
"Só não somos melhores consumidores porque não temos informação suficiente para exercermos a cidadania no consumo", disse o diretor do Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro), Alfredo Lobo, uma das entidades oficiais certificadoras do país.
Padronização - O Brasil começou a entrar em um movimento de padronização das certificações, tornando mais fácil a compreensão dos consumidores quanto à identidade visual de produtos sustentáveis. Um tipo de produto que passou a contar com selo único é o orgânico, que está sendo implantado neste ano conforme o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISOrg), um programa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
"Teremos uma padronização das mais de 20 certificadoras de orgânicos. Isso deve favorecer e muito o consumidor, pois ele terá um selo oficial junto com os das certificadoras", comentou Adriana Charoux, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Até então, os selos padronizados de órgãos oficiais estavam ligados à exportação, ou seja, a exigência do mercado consumidor europeu, na maioria dos casos. Para isso, o Inmetro desenvolveu selos específicos de responsabilidade ambiental para alguns itens, como para cachaça e frutas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) também trabalha para atestar alguns setores. "Temos um programa de certificação ambiental desde 1993, mas só agora temos demanda. E isso ocorreu mais para atender ao mercado externo. Mas observamos um crescimento da exigência do consumidor brasileiro", afirmou o gerente de certificação de sistemas da ABNT, Guy Ladvocat.
Veículo: Diário do Comércio - MG