Pesquisa revelou que os entrevistados não sabem a definição do termo.
Ao contrário do que se pensa, planos estratégicos de responsabilidade social anunciados por meio de campanhas publicitárias e de marketing não têm efeito automático sobre o comportamento dos consumidores. Pesquisa inédita realizada pelos institutos Akatu e Ethos, intitulada "O consumidor brasileiro e a sustentabilidade: atitudes e comportamentos frente o consumo consciente, percepção e expectativas sobre responsabilidade social empresarial", constatou que apenas 13% das pessoas acreditam nesse tipo de informação veiculada pelas organizações. Outros 44% simplesmente não creem nesses projetos. Já 32% alegaram que a credibilidade, nesses casos, depende da companhia responsável.
A pesquisa ouviu 800 pessoas com idade a partir de 16 anos, de todas as classes sociais e regiões do Brasil sobre a palavra "da moda": sustentabilidade. Segundo o pesquisador de consultor do Instituto Akatu e especialista em Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Consumo Sustentável, Aron Belinky, há que se diferenciar o perfil dos consumidores.
O grupo dos que estão incorporando valores e comportamentos mais sustentáveis aumentou em 5%. Entretanto, a faixa dos consumidores "indiferente" também cresceu. Já o segmento dos chamados "conscientes" corresponde a um em cada três pessoas que usam a internet e os outros meios de comunicação para conhecer o conceito de sustentabilidade e, assim, influenciar a conduta social e corporativa. "As pessoas se posicionam em dois grupos. Há aquelas que não entendem a expressão na teoria e o grupo dos que desconfiam da propaganda e dos belos discursos empresariais que, dificilmente, geram resultados práticos", enfatizou.
Segundo o estudo, o grupo de consumidores que afirmou conhecer o termo sustentabilidade alegou que há problemas com a definição da palavra. Uma parcela significativa não consegue dar nenhuma definição para o termo. Outra parcela apresenta uma compreensão incorreta de sustentabilidade, ligada ao conceito de autossustento, ou seja, ter renda para sustentar a família ou a si mesmo.
Entretanto, com maior ou menor conhecimento de causa os consumidores premiam as empresas mais responsáveis e, de alguma forma, punem aquelas que seguem o caminho oposto. De acordo com o relatório final da pesquisa, 80% dos entrevistados apontaram o desenvolvimento de alguma ação ligada à dimensão direito nas relações de trabalho como importante para a conduta de uma organização.
Em segundo lugar vem a relação de consumo, ou seja, a oferta de produtos e serviços de alto nível de qualidade e segurança. Só depois a questão do cuidado com o meio ambiente entrou na pauta, relacionada à redução dos impactos negativos do processo produtivo na natureza.
Em outras palavras, afirmou o consultor, responsabilidade social e sustentabilidade, na visão das pessoas, é algo que começa na empresa e, no estágio posterior, alcança a comunidade e o mercado. "Só falar a respeito é algo inócuo e até mesmo contraproducente. A propaganda vazia acaba fazendo mal para a empresa", alertou Belinky.
O interesse do consumidor brasileiro por sustentabilidade ou responsabilidade social é pequeno. O estudo comprovou que o fenômeno não tem qualquer ligação com a classe social. Nem por isso as organizações podem se descuidar. O que realmente importa é o resultado de ações concretas. "Até aqui muito foi feito, mas sabemos que há um longo caminho pela frente", apontou.
Criado em 2001 (Dia Mundial do Consumidor), o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização não-governamental (ONG) sem fins lucrativos que mobiliza a sociedade para o consumo consciente. A palavra Akatu vem do tupi e significa, ao mesmo tempo, "semente boa" e "mundo melhor", traduzindo a idéia de que o mundo melhor está contido nas ações de cada indivíduo. A instituição defende que consumir deve ser um ato de cidadania pelo qual qualquer consumidor pode contribuir para um mundo melhor.
Veículo: Diário do Comércio - MG