Paliativismo não é cura

Leia em 2min 10s

Para a conservação ecossistêmica, o melhor é que sejam imediatamente banidas as sacolas plásticas.

 

Só merece aplauso, portanto, a firmeza com que a jovem siciliana Stefania Prestigiacomo, titular do meio ambiente na Itália, luta para evitar que o Conselho de Ministros dilua decisão legislativa bem anterior de interditar a utilização dessa terrível praga a partir do início de 2011.

 

Todavia, é irrealismo querer que sociedades profundamente antiecológicas como as atuais deixem de sê-lo com tanta sofreguidão.
No processo que poderá levar à sustentabilidade, a ecologia estará necessariamente constrangida a fazer severas concessões a im- perativos econômicos, sociais e políticos.

 

É muito mais traumático inviabilizar repentinamente um forte segmento da indústria petroquímica -sobretudo em termos de rentabilidade, emprego e influência política- do que negociar com todos os agentes envolvidos a progressiva queda da disponibilidade dessas medonhas, mas úteis, sacolas plásticas.

 

A história das sociedades mercantis mostra que a melhor forma de reduzir o consumo de produtos nocivos é engendrar seu encarecimento mediante taxação, como ocorreu com os cigarros e as bebidas alcoólicas, por exemplo.

 

Além de deter o consumo desvairado e alavancar benéfica reconversão de boa parte do aparelho produtivo, a consequente arrecadação contribui para que o governo melhore a gestão social dos decorrentes malefícios.

 

Como no Brasil não há mais margem para elevação da carga tributária, uma nova contribuição fiscal que acabe com as sacolas plásticas menos biodegradáveis e minimize o uso das alternativas precisará ser compensada pelo fim de impostos antigos que só causam desvantagens competitivas a quase todos os setores produtivos.

 

Ora, é exatamente esse o sentido das melhores evoluções tributárias das últimas décadas: agravar punições de atividades que prejudicam a conservação dos ecossistemas com simultânea extinção de tributos que dificultam a expansão da oferta de empregos por empreendimentos mais propensos a assumir suas responsabilidades socioambientais.

 

O sistema tributário é a mais poderosa estrutura institucional de incentivos.
Claro, também podem ser bem eficazes outros tipos de iniciativas locais não tributárias e corporativas que estão pipocando pelo mundo todo.

 

Assim como são muito bem-vindas campanhas cívicas do tipo da "Saco é um saco", que foi realizada pelo Ministério do Meio Ambi- ente (MMA) com o apoio do Carrefour.
Mas é imperdoável que se crie qualquer confusão entre processo de cura e paliativismo. (JOSÉ ELI DA VEIGA, 62, professor titular de economia da USP, é autor do livro "Sustentabilidade",Editora Senac, 2010).

 


Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

Governo posterga para junho metas para reciclagem de resíduos sólidos

Ao contrário do que era esperado, decreto que regulamenta Política Nacional de Resíduos Sóli...

Veja mais
Sustentabilidade|: Assunto é pouco conhecido entre os consumidores

Pesquisa revelou que os entrevistados não sabem a definição do termo.   Ao contrário ...

Veja mais
Verallia inova com garrafa ecológica de 1500 ml

Dando continuidade ao desenvolvimento de produtos baseados no conceito ECOVA (eco sustentável), a Verallia aprese...

Veja mais
Água na caixinha

Mais um golpe nas embalagens plásticas. Desta vez, ele foi desferido pelo designer americano Benjamin Gott. Ele e...

Veja mais
Lei das sacolas plásticas tem adesão abaixo do esperado

Ecobags ainda não estão na preferência da maioria dos clientes de supermercados   A lei que i...

Veja mais
Sacolas plásticas começam a sair de cena

Os esforços dos produtores de sacolas plásticas em defesa do seu uso não estão dando certo. ...

Veja mais
Empreendedores da Sustentabilidade

Jovens empresários preocupados com a destinação correta de resíduos sólidos trazem pa...

Veja mais
Sacola dispara no Pão de Açúcar

O Grupo Pão de Açúcar (GPA) registrou em 2010 a vendas de mais de 1,8 milhão de sacolas reto...

Veja mais
Novo serviço ampliará a coleta de embalagens

Pela Internet, consumidores poderão saber qual é o ponto de destinação mais próximo. ...

Veja mais