Restos de calçados viram piso e adubo

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Setor investe no reaproveitamento de resíduos e economiza em itens como aterro

 

Visto como altamente poluidor em décadas passadas, o setor calçadista hoje reaproveita materiais para novos produtos, reutiliza água e até fornece matéria-prima para outros setores.

 

Na fábrica Amazonas, em Franca (SP) --principal produtora de sapatos masculinos do país--, os restos de borracha viram xaxim, piso de playground infantil e de metrô e borracha colorida para piso direcional de bancos.

 

A empresa hoje produz 550 toneladas por mês de borracha reciclada. "Praticamente não usamos o aterro [específico para resíduos de couro]", diz o diretor da Amazonas, Saulo Pucci Bueno.

 

A Sapatoterapia, de Franca, obteve em 2010 um certificado por ter criado o primeiro sapato biodegradável do país, segundo o diretor Leonildo Lopes Ferreira.
O solado é de borracha biodegradável, o couro não tem cromo e o forro é de fibra de bambu. O adesivo é à base de água. A linha responde atualmente por 10% dos 2.000 pares diários.

 

No Rio Grande do Sul, outro polo calçadista do país, um dos curtumes utiliza restos de couro na produção de um fertilizante orgânico, que é exportado.
"Já foi reconhecido até por vários órgãos ambientais que a indústria tem tido avanço notável no respeito ao ambiente", afirmou Heitor Klein, diretor-executivo da Abicalçados, a associação brasileira do setor.

 

Além de ambiental, a preocupação das empresas é também financeira. A lei exige aterro próprio para descarte dos resíduos. Em Franca, por exemplo, o custo chega a R$ 120 por tonelada.

 

Pesquisas acadêmicas tentam promover revoluções no setor ao reaproveitar restos de couro. Um desafio é criar um couro menos poluente e viável economicamente.
Um dos estudos torna o resto de couro em colágeno líquido, para as indústrias cosmética e farmacêutica.

 


O consumidor está atento à atuação das indústrias

 


A pressão sobre as empresas para que elas atuem com consciência ambiental e social é cada vez maior.

 

Não interessa saber apenas se o produto tem qualidade. Entra na conta se aquela indústria usa matéria-prima legítima, se não há exploração da mão de obra, se os resíduos são descartados corretamente, entre outros fatores.
O Brasil é o segundo país em consumo sustentável, atrás apenas da Índia, na pesquisa anual Greendex, da National Geographic Society.

 

Segundo o estudo, 44% dos consumidores se sentem desmotivados a agir ecologicamente porque as empresas mentem sobre o impacto ambiental de seus produtos.
Além disso, 40% dos entrevistados disseram que não vale a pena ser sustentável se os governos e as indústrias não agirem também.

 

O mercado já entende que sustentabilidade não é só o que as indústrias fazem dentro das fábricas. A empresa é responsável pela sua atuação em toda a cadeia produtiva.
É preciso saber a procedência da matéria-prima, garantir que a logística seja feita por uma frota mais ecológica e cuidar para que os produtos sejam reciclados, se isso for possível.

 

Algumas vezes, por iniciativa própria, as marcas agem de forma sustentável. Outras vezes se faz necessária uma medida legal.
Vale destacar a norma ISO 26000, lançada em Genebra, na Suíça, no ano passado, para as instituições que seguirem os conceitos da responsabilidade social.

 

Assim, a gestão das empresas não se reflete mais apenas no controle financeiro. A administração sustentável considera a dimensão econômica, ambiental e social das organizações.
Aos poucos, essa filosofia vai sendo incorporada no mercado, até o dia em que se tornar regra em todos os setores da indústria.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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