Todos os dias pela manhã, depois de trabalhar a noite toda, Rafael Strack, proprietário da Woods, casa noturna na Vila Olímpia, tinha o mesmo problema. O que fazer com tantas latinhas e garrafas de vidro de bebidas? Juntava diariamente 40 sacos de lixo que eram retirados por uma empresa especializada. Ao fim do mês, eram pelo menos 16 mil long necks, 23 mil latinhas de energéticos e 12 mil latinhas de refrigerantes, sem falar nas garrafas vodca e uísque.
Quando apareceu a oportunidade de fazer uma parceria de logística reversa com a Diageo, Strack abraçou a causa. "Aqui nunca jogamos lixo fora, mas a ideia de fazer parte de um ciclo me deixou motivado", diz. "O pessoal da cooperativa veio nos apresentar o projeto e desde então tudo funciona perfeitamente. Todos os dias às 7h da manhã eles estão aqui."
Rafael é um dos 15 proprietários de bares que participam do Glass Is Good, projeto piloto de logística reversa iniciado pela Diageo em novembro de 2010, que tem como objetivo dar um destino adequado ao vidro. Em seis meses, quase 1 milhão de garrafas foram coletadas, recicladas e transformadas de novo em produto. A parceria envolve o fabricante, o distribuidor, catadores, bares e restaurantes.
Segundo a organização Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), o Brasil descarta anualmente 890 mil toneladas de vidro e somente 40% desse material é reaproveitado. O vidro pode ser 100% reciclado e leva 4 mil anos para se decompor.
"Vidro não tem tanto valor quanto alumínio e Pet", diz Tatiana Correia, coordenadora de responsabilidade social da Diageo. "É um material pesado e perigoso na coleta. Por isso, é importante ajudar o cliente a dar um destino final."
O projeto também é gerador de renda. Mesmo não sendo tão atraente para o catador, Carlos Antônio dos Reis, presidente da cooperativa Vira Lata, assumiu o compromisso de coletar dez toneladas mensais de vidro. O negócio acabou valendo a pena. O quilo do vidro, que inicialmente custava R$ 0,80, passou a ser cotado a R$ 0,20. Na logística reversa, o catador negocia diretamente com a indústria, sem a figura do atravessador que acaba ficando com parte do lucro. A Vira Lata conta com 70 cooperados. Com o projeto, o salário mensal de cada um passou a ser R$ 850. "Parece que estamos ajudando o país. Sinto que mudamos de consciência", diz Reis. "Criamos uma logística fantástica."
No final do processo, a indústria também sai satisfeita. Os cacos de vidro que chegam são fundidos e derretidos com outras matérias-primas para a fabricação de novos vidros. "A empresa chega a reduzir 2,5% de energia com o material reciclado. A matéria-prima virgem gasta muito mais energia para ser derretida", explica Ricardo Leonel Vieira, diretor de marketing da Owens-Illinois Brasil, fabricante de vidro e parceira no projeto.
E o ciclo se complementa. "A aproximação com o projeto foi natural. A parceria cria conscientização para muitas pessoas, de nossos funcionários até transportadores, catadores e consumidores." (S.A.)
Veículo: Valor Econõmico