Após meses de concepção e ajustes, a Siemens coloca em operação neste sábado - 1º de outubro, início do ano fiscal alemão - o seu novo setor de negócios voltado exclusivamente ao mercado "verde". O Cidades e Infraestrutura nasce com 80 mil dos cerca de 100 mil funcionários da multinacional alemã no mundo, uma carteira de dezenas de centenas de produtos e respondendo a 27,6% do faturamento total do grupo.
À frente do novo setor estará o físico alemão Ronald Busch, 47 anos de idade, 17 deles de Siemens. Em entrevista exclusiva ao Valor, o executivo ressaltou por que as expectativas são altas e promissoras: "As grandes cidades do mundo deverão investir uma média de € 2 trilhões por ano no desenvolvimento de sistemas de energia, água e transportes nos próximos anos. O mercado de cidades representa em torno de € 300 bilhões para a Siemens", diz ele. "Dedicar o foco do negócio a esses setores é fundamental."
As cidades são um mercado atrativo não só para a Siemens, mas para qualquer um que faça negócios. Em nenhum outro lugar o crescimento econômico será tão acelerado daqui para frente. A consultoria Global Insight estima que até 2025 a expansão média das cidades será de 4,4% ao ano. O mundo vai crescer menos que isso - 3,5%. De acordo com a consultoria, metade da expansão econômica global já é gerada hoje pelas 600 maiores do mundo.
Com a nova estrutura operacional, quase 80% do portfólio relacionado a cidades - hoje distribuído em Indústria, Energia e Saúde - será levado para o quarto setor, desde soluções para transportes públicos até o "smart grid", o sistema inteligente de distribuição de energia que moldará as cidades no futuro. Cinco divisões estarão sob o guarda-chuva desse setor: Mobilidade e Logística; Alta e Média Tensão; Tecnologias Prediais; Sistemas para Veículos sobre Trilhos e Smart Grid.
Sob o Cidades e Infraestrutura haverá também "account managers" específicos para o acompanhamento atento das necessidades de 60 cidades selecionadas pela Siemens. A ideia é que esses "gerentes de conta" estudem a fundo as deficiências urbanas e apresentem às autoridades municipais projetos de solução com a tecnologia Siemens, tal como faz com seus clientes empresariais.
Megacidades com mega problemas logísticos e energéticos, por exemplo, certamente estão na lista não divulgada oficialmente. Busch antecipa alguns nomes: Nova York, Chicago, Berlim, Munique (sede da Siemens) e Pequim. No Brasil, essa atenção maior será voltada no primeiro momento a São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, conhecida por suas soluções sustentáveis.
A empresa conta com a expertise e carteira de projetos internacionais para angariar contratos. As suas tecnologias estão presentes em 300 aeroportos, no gerenciamento de tráfego de Londres, na expansão do metrô de Buenos Aires, nos trens-bala da China, Alemanha e Espanha e na iluminação com LED no Rio. Além disso, a Siemens está criando três centros de referência global em soluções sustentáveis para exibir tudo o que lançar de mais avançado. Segundo o principal executivo, Peter Löscher, o primeiro deles será inaugurado em Londres e coincidirá com as Olimpíadas. Os outros dois serão na Ásia e nas Américas.
O lançamento neste sábado do Cidades e Infraestrutura é resultado de uma mudança de rota iniciada em 2007 pela matriz alemã. O setor dará profundidade à orientação de sustentabilidade que a cúpula da Siemens começou a imprimir ao grupo, e é também uma resposta à rápida expansão da demanda internacional por tecnologias "verdes".
Veículo: Valor Econômico