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A indústria da reciclagem do aço está diante do desafio de ganhar volume. Em 2005, quando o Brasil consumiu 18,7 milhões de toneladas de aço e computou produção total de 31,6 milhões de toneladas, as siderúrgicas aproveitaram em seu processo produtivo 8,1 milhões de toneladas de sucatas metálicas. Em 2011 o consumo brasileiro alcançou 25 milhões de toneladas, as siderúrgicas também produziram mais, 35,2 milhões de toneladas, mas o uso de sucatas nas aciarias não acompanhou o ritmo da evolução, ficou em 8,5 milhões de toneladas.

O uso da sucata representou 24% da produção de aço brasileira em 2011, próximo da média mundial, de 28%, mas bem distante do quadro nos Estados Unidos, que abastece suas aciarias com 70% de material já usado. A produção do aço é dividida em duas rotas tecnológicas. Há as siderúrgicas integradas, que usam o minério de ferro como base produtiva, e as semi-integradas, também chamadas de mini-mills, aciarias elétricas que utilizam em seu processo ferro gusa e sucata. Entre as 28 usinas brasileiras, 15 possuem esse perfil. ArcelorMital, Votorantim, Sinobras usam o sistema. Mas é a Gerdau a maior produtora mini-mills das Américas: 75% de sua produção é realizada em aciarias elétricas.

Maria Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais e sustentabilidade do Instituto Aço Brasil, avalia que existe hoje um equilíbrio entre a oferta de sucata e demanda nas siderúrgicas. Para ela, o mercado de reciclagem vai evoluir a partir do crescimento do país, com o aumento do consumo de aço e a consequente geração de sucata. O brasileiro tem por hábito prolongar o uso de bens como carros, geladeiras e fogões. Com maior poder aquisitivo, a renovação desses produtos é cada vez rápida e vai acelerar a disponibilidade de sucata.

Outro entrave para aumentar a reciclagem no curto prazo é a falta de novos projetos mini-mills. "A conjuntura não anima investimentos, existe excesso de capacidade de produção no país", diz a executiva. Em 2010, com uma capacidade produtiva de 44,6 milhões de toneladas, o Brasil produziu apenas 32,9 milhões de toneladas de aço bruto.

As siderúrgicas conseguem sucatas para abastecer seus processos produtivos de três formas: sobras de seu próprio processo produtivo; sobras do processo produtivo industrial de terceiros - caso em que a coleta de material é grande, uma vez que é do interesse das próprias indústrias venderem a sobra de aço em vez de gastar com o encaminhamento para aterros -; e ainda a sucata de obsolescência, proveniente de produtos colocados em desuso. É nessa área que a atividade de coleta pode ser aperfeiçoada.

No Brasil, menos de 1% dos eletrodomésticos, por exemplo, retorna aos fabricantes para ter destinação final adequada, enquanto a média europeia é de 25%. Mesmo assim, Victor Bicca Neto, presidente do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), avalia que o país conta com uma estrutura funcional para a coleta pós-consumo de produtos de grande porte, como carros, refrigeradores e fogões, que acabam chegando, de uma maneira ou outra, aos sucateiros.

O problema maior está nos produtos de pequeno porte. Entre eles, embalagens de alimentos e bebidas. Segundo a Associação Brasileira de Embalagens de Aço (Abeaço), em 2011 das 600 mil toneladas de embalagens de aço produzidas, 280 mil foram recicladas. Em países como Bélgica e Suíça a reciclagem atinge 98% e a média europeia supera 60%.

Bicca acredita que o quadro irá evoluir a partir da implementação da Lei de Resíduos Sólidos que, entre outras determinações, prevê que as empresas deverão, até 2014, estabelecer políticas de logística reversa, ou seja, como recolher o seu material em desuso. No momento, o setor de embalagens discute um acordo setorial para estabelecer um esquema em conjunto de coleta seletiva.

O Ministério do Meio Ambiente, que coordena pelo lado do governo as ações para a implementação da Lei de Resíduos Sólidos, encomendou ao Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) uma análise sobre a economia da reciclagem e políticas públicas que a poderiam incentivar. O estudo "Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos", coordenado por Liana Maria Carleial e Bruno Oliveira Cruz, detectou em 2010 que o uso de material encaminhado a aterros tem potencial de gerar economia anual de R$ 8 bilhões para a indústria brasileira, mas gera apenas R$ 3,3 bilhões.

No segmento de aço, a estimativa é que um milhão de toneladas chegue aos aterros por ano. O reaproveitamento desse material traria benefícios ambientais e econômicos, calculados em R$ 88,00 por tonelada. Cada tonelada de aço reciclado representa economia de 1.140 kg de minério de ferro e 154 kg de carvão, reduzindo a pressão sobre recursos naturais. A reciclagem também implica em corte de mais de 70% no consumo de água e queda nas emissões, na proporção de 1,44 tonelada de CO2 equivalente por tonelada produzida.

Segundo o Ipea, o grande problema da sucata de aço é o preço muito variável do material, que acompanha a dança de valores do produto acabado. Quando há excesso de capacidade produtiva, como hoje, os preços caem, desestimulando a coleta.



Veículo: Valor Econômico


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