As "megaforças" de sustentabilidade global vão incrementar a complexidade do ambiente de negócios. Os riscos que uma empresa enfrenta com as mudanças climáticas incluem novas leis e iniciativas governamentais de contenção, como tarifas para combustível, normas para neutralização da emissão de carbono, requerimentos de eficiência energética, entre outros. Além disso, a demanda por mais energia e combustível, a escassez de água e materiais advindos do declínio do ecossistema pressionam as companhias a buscar alternativas mais sustentáveis.
"As corporações estão vendo a conexão entre sustentabilidade e resultados financeiros se tornar cada vez mais clara. Aquelas que reconhecem as influências externas em suas organizações e aproveitam como oportunidades estão percebendo uma vantagem competitiva", afirmou o chefe das KPMG nas Américas e presidente das KPMG LLP nos Estados Unidos, John B. Veihmeyer. O crescimento populacional, o enriquecimento da população, a migração para centros urbanos, o desmatamento e a pressão sobre o sistema global de produção de alimentos são as outras ‘megaforças’ detalhadas no estudo.
Uma oportunidade para os governos incentivarem a ação dos líderes de negócios no desenvolvimento de proteção ao ambiente é cobrar pelo uso de materiais escassos. Conforme explicou o professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC) e sócio da NHK Sustentabilidade, Rafael Tello, se o uso da água for gratuito, por exemplo, a empresa não vai ter interesse em investir na melhoria do processo de utilização. No entanto, caso exista restrições para a utilização da água, "a empresa vai fazer uma análise do investimento de uso e manutenção deste produto, reduzindo os gastos e investindo em alternativas com menos impacto na natureza", disse.
Atualmente, no Brasil, existem alguns incentivos para pesquisas de alternativas sustentáveis ecoamigáveis. O país é signatário da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CBD), que propõe regras para assegurar a conservação da biodiversidade e seu uso sustentável, formulada durante o Eco-92 no Rio de Janeiro. "Mas é preciso que a sociedade também abrace o tema", alertou Tello. "O certo é que a pressão para uma mudança dentro das empresas venha de todos os lados", completou.
Para enfrentar esses novos desafios e conseguir crescimento sem sacrificar o lucro, as empresas devem conhecer bem seu modelo de negócios, quem são os clientes, valores, recursos estratégicos e grupos com quem lida, informou Tello. "Elas devem entender também qual o ciclo de vida do produto ou serviço prestado, desde a sua extração até o pós-consumo. Entender os recursos que entraram e os resídios que saíram para mapear os riscos dessas mercadorias", disse. Tello cita, ainda, um terceiro processo que os líderes de negócios devem estar atentos. "Esses grupos devem visar oportunidades, como a busca por alternativas mais baratas e sustentáveis para a mercadoria, antes que ela se torne escassa ou que haja legislação nova para ser adaptada", afirmou.
Valor agregado - As palavras sustentabilidade, ambiental e verde, são usadas em estratégias empresariais para aprovar projetos econômicos ou para alterar políticas públicas, angariar fundos e conquistar mercados. Mas nem sempre este certificado de preocupação com o impacto ambiental da produção condiz com a verdade. Segundo o relatório da KMPG, as empresas podem estar em risco de ‘manchar’ sua marca se utilizarem desses recursos de forma errada ou serem pegas descumprindo normas ambientais. "Por isso é preciso que as companhias reconheçam seu público e associados", disse Tello.
No caso contrário, os certificados de sustentabilidade podem agregar valor ao produto ofertado. Tello cita o caso de construções "verdes", que são extremamente demandadas por empresas multinacionais, o que aumenta seu preço no mercado. "As corporações estão reconhecendo que há valor e oportunidade na responsabilidade que vai além dos resultados do próximo trimestre, e que o que é bom para as pessoas e para o planeta também pode ser bom para os resultados no longo prazo e para a geração de valor aos acionistas", avaliou o assessor especial da KPMG para assuntos de Mudanças Climáticas, Yvo de Boer. (CK)
Veículo: Diário do Comércio - MG