6 negócios sustentáveis

Leia em 8min

Conheça empresas que poupam recursos naturais sem deixar de lado o lucro e a competitividade



O brasileiro está aprendendo a ganhar dinheiro com o conceito de sustentabilidade.

Antes observada à distância e com certo receio por parte do empresariado, hoje, a causa verde faz parte das estratégias de negócios. E a mudança vem exatamente de onde menos se podia esperar: do bolso.

Qualquer brasileiro disposto a abrir uma empresa sabe que parte considerável de seus custos virá das contas de energia elétrica.

Não por acaso, todos os responsáveis por montar empresas sustentáveis -orientadas para lucrar mais poupando recursos naturais finitos- citam ações que resultaram em economia de energia elétrica.

É o que mostram as histórias a seguir: seis tipos de negócios possíveis de serem elaborados ou adaptados para operar colaborando com o ambiente.

A lista -restaurante, lavanderia, produção de biojoias, pousada, gráfica e salão de beleza- ganhará companhia na Rio+20, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre desenvolvimento sustentável que começa nesta quarta. Essas e outras ideias serão apresentadas em uma feira de negócios comandada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O objetivo é mostrar aos futuros donos de boas ideias que os negócios sustentáveis, a exemplo do que acontece com os convencionais, também podem ser rentáveis e competitivos.

"Hoje, os negócios sustentáveis ainda representam um nicho. Estamos estimulando para que se tornem o mercado como um todo. Se isso acontecer, quem chegar antes terá vantagens competitivas", acredita Luiz Barretto, presidente do Sebrae.

Embora o foco sejam novas e promissoras ideias de empreendedores, é impossível esquecer o papel que as grandes empresas devem desempenhar quando se fala em sustentabilidade.

Um exemplo de como ações sustentáveis também podem ganhar peso social é o programa Consulado da Mulher, da multinacional Whirlpool.

A empresa doa refrigeradores à mulheres de comunidades carentes e auxilia a montagem de pequenos comércios.

"No país, 30 mil mulheres foram assessoradas pelo programa", conta Vanderlei Niehues, gerente-geral de sustentabilidade da Whirlpool.

Pode parecer pouco, mas contribui para aquecer um dos temas que devem receber destaque na Rio+20.

"Será uma boa ocasião para discutirmos a importância de dar mais ênfase à inclusão social na sustentabilidade", diz Paulo Branco, coordenador do Programa Inovação da Criação de Valor, da Fundação Getulio Vargas.

1) SALÃO DE BELEZA

Tintura e química na medida certa

Há dez anos, a administradora e esteticista Fabiana Gondim, 39, criou um sistema de gestão de salão de beleza que inclui práticas sustentáveis.

Batizado de HairSize, esse sistema é formado por réguas que permitem medir o tamanho dos fios, o volume do cabelo e a velocidade de crescimento da raiz.

Os dados permitem preparar tabelas com a quantidade necessária de tintura e o prazo de duração dos estoques.

"Minha ideia era acabar com a gestão na base do 'olhômetro', criando um método que evitasse o desperdício e estimulasse a prática da sustentabilidade. Pelos produtos que utiliza, um salão de beleza polui tanto quanto uma oficina mecânica ou uma lavanderia", compara.

As ferramentas de gestão criadas por Fabiana vêm ganhando novos adeptos. Atualmente, 30 salões de beleza espalhados pelo país já usam o método. Um dos que adotaram sua técnica foi Leandro Pires, 31, dono do salão Fizz Cabelo e Imagem, em São Paulo. O empresário afirma ter conseguido uma economia de 50% dos produtos químicos em pouco mais de um ano.

"Incorporei esses conceitos ao meu negócio e sei exatamente quanto custa uma lavagem de cabelo com determinado xampu ou cinco minutos de secador ligado."

Negócio: salão de beleza

Como torná-lo sustentável: evitar o desperdício de produtos químicos, água e energia elétrica e descartar adequadamente o lixo

Investimento inicial: de R$ 30 mil a R$ 50 mil; para adotar o HairSize, cerca de R$ 2.400

2) BIOJOIAS

Chifre de boi e borracha servem de matéria-prima

A Joias do Pantanal surgiu a partir de uma tradição dos moradores do Mato Grosso do Sul, que transformam o chifre de boi em um recipiente para tomar tereré, bebida à base de erva-mate.

Comandada por Isabel Muxfeldt, 52, e Verhuska Pereira, 40, a Joias do Pantanal produz biojoias 100% artesanais -e conta com a mão de obra das comunidades locais para produzir anéis, pulseiras, brincos e colares com chifres comprados de frigoríficos. As peças custam de R$ 15 a R$ 250 e são exportadas para Portugal e Estados Unidos.

Já a designer Flávia Amadeu, 33, usa borracha sustentável para confeccionar suas peças. Segundo ela, o processo de produção agride menos o ambiente. "O objetivo é aproveitar o máximo da borracha sem desperdício", diz. Ela faz doutorado na Inglaterra sobre comunidades seringueiras do Acre como as que lhe fornecem material.

Negócio: biojoias

Como torná-lo sustentável: trabalhar com mão de obra local e não usar produtos tóxicos

Investimento inicial: R$ 30 mil

3) LAVANDERIAS

Calor e baixa umidade fazem a sua parte em MT

Quando assumiu a lavanderia Prillav, há dez anos, o engenheiro Paulo Gomes, 55, logo identificou o que levava boa parte dos ganhos financeiros para o ralo.

As máquinas usadas para lavar roupa eram muito velhas e funcionavam manualmente. Com a troca do equipamento, o consumo de luz foi reduzido em 20%.

Hoje, a lavanderia, que fica em Rondonópolis (a 220 km de Cuiabá), usa dosadores que controlam a quantidade de sabão e outros produtos químicos.

Entre outras medidas, uma delas recorre a um hábito caseiro: todas as roupas que chegam à loja com prazo de entrega superior a 24 horas secam no varal. "Como não precisam ser devolvidas com rapidez, podem secar naturalmente, aproveitando o calor e a baixa umidade", diz o empresário.

Negócio: lavanderia

Como torná-lo sustentável: usar máquinas que economizem água, energia e produtos químicos, além de aproveitar o calor

Investimento inicial: R$ 150 mil

4) POUSADA

É possível obter resultado com medidas simples

Há pouco menos de dois anos, a paulista Silvana Montenegro Rondelli, 39, conseguiu realizar aquele que é o sonho de muitos brasileiros: montar uma pousada no arquipélago de Fernando de Noronha, no litoral de Pernambuco, um dos mais belos e procurados destinos turísticos do país.

Desde o início, a proposta da Beco de Noronha Pousada foi incorporar a sustentabilidade como diferencial.

Ela foi construída com paredes vazadas, feitas de madeira de demolição ou de reflorestamento. A água utilizada é aquecida com energia solar.

Para reduzir o consumo de energia, o local adotou medidas que parecem simples, mas que se mostraram eficientes -como claraboias no teto das instalações, o que garante a luz e a ventilação natural. As áreas sociais têm telhas de vidro.

"Hoje, economizamos 40% na conta de energia, mas ainda queremos ir além, neutralizando as emissões de carbono da pousada", conta Silvana.

Mas não é apenas pelo lado ambiental que o empreendimento pratica sustentabilidade.

A Beco de Noronha ajuda a reciclar o lixo. Fornece resíduos para que artesãos produzam objetos a partir desse material, que depois são comprados pela pousada e distribuídos como mimos aos clientes.

Negócio: pousada

Como torná-lo sustentável: economizar água e energia elétrica, reciclar o lixo e estimular a produção do artesanato local

Investimento inicial: R$ 300 mil

5) GRÁFICA

330 mil páginas impressas e 189 quilos a menos

O empresário José Cláudio Fonseca, 47, sempre quis ter um negócio sustentável.

A intenção virou realidade há quase um ano, quando Fonseca abriu, em Belo Horizonte, a Ekofootprint, gráfica que usa máquinas que geram 90% menos resíduos do que as convencionais.

As 40 mil impressões diárias da empresa saem de máquinas que só trabalham com cartuchos feitos a partir de produtos vegetais. A tinta é produzida com corantes sem solventes tóxicos.

Enquanto uma impressora a laser comum gera 200 quilos de detritos para imprimir 330 mil páginas, uma máquina desse tipo produz pouco mais de 10,5 quilos.

Os efeitos também podem ser sentidos na cadeia de transporte e logística.

"As impressoras da Ekofootprint usam quatro cartuchos, e as convencionais, 12. Para abastecer as máquinas comuns, é necessário ter muito mais caminhões poluentes nas ruas", afirma Fonseca.

A empresa também é sustentável no uso do papel. As sobras vão para a reciclagem. Recentemente, a Ekofootprint encontrou um fornecedor que tem um modelo de produção mais coerente com a filosofia da gráfica. "Ele usa bagaço de cana para a produção. Ou seja, não é preciso derrubar eucaliptos", afirma Fonseca.

Negócio: gráfica

Como torná-lo sustentável: usar papel reciclado e impressoras e copiadoras que trabalhem com menos resíduos tóxicos

Investimento inicial: R$ 250 mil (franquia)

6) RESTAURANTE

Para ser verde, é preciso escolher fornecedores

O restaurante Moinho Velho, em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, já nasceu sustentável. O local foi construído com madeira de demolição.

Outros hábitos para preservar o ambiente foram incorporados. Mensalmente, 120 quilos de alimentos são transformados em adubo para a horta. O restaurante também recicla óleo de cozinha, que vira sabão.

"É difícil dizer que temos um negócio sustentável, pois dependemos de uma cadeia de fornecedores. Mas temos feito a nossa parte", diz o consultor que está à frente do restaurante, Fernando Salles Martins, 32.

"Observamos com muita atenção os cuidados que os fornecedores têm com o plantio dos produtos antes de decidir de quem comprar. É uma forma de estimular práticas sustentáveis", afirma Francisco Carnevalli, 62, um dos sócios do Bio Alternativa, restaurante especializado em comida orgânica em São Paulo.

Segundo Wagner Packer, 59, outro sócio do estabelecimento, a preocupação com o ambiente faz parte do conceito do Bio Alternativa desde sua criação, há cerca de 30 anos. "Quando montamos o restaurante, uma de nossas ideias era incluir tudo o que é saudável e diz respeito à preservação da natureza e de seus recursos no contexto da alimentação", afirma o empresário.

Negócio: restaurante

O que pode fazer para ser sustentável: reciclar lixo, comprar produtos orgânicos e reaproveitar os alimentos

Investimento inicial: R$ 150 mil


Veículo: Folha de S.Paulo


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