Escritor denuncia rejeição por supermercados do Reino Unido de alimentos esteticamente defeituosos, mas em condições de consumo
O desperdício e perda de alimentos no mundo tem causado cada vez mais preocupação em especialistas ambientais, geógrafos e alguns governos. Anualmente, segundo estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), há uma estimativa de um desperdício de cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida em todo o mundo por ano. Em janeiro deste ano, a FAO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançaram uma campanha que tem como tema "Pensar. Comer. Preservar. Diga não ao Desperdício". Nesta quarta-feira, uma das mesas de discussão durante a primeira sessão universal da Pnuma com ministros de meio ambiente de todos os estados membros da ONU, Tristram Stuart, autor de um livro sobre desperdício de alimentos e fundador da ONG Alimentando 5.000 Pessoas, alertou que é um escândalo não aproveitar muitos alimentos que estão em boas condições para o consumo humano, enquanto milhões passam fome.
Stuart vem denunciando que supermercados do Reino Unido não aceitam produtos que consideram ruins mas, que, na verdade, segundo ele, têm apenas "defeitos cosméticos", como a cor do vegetal que não está tão verde, o tamanho do feijão que não é considerado bom. Ele percorreu algumas fazendas no Kenia e, conforme analisou, os produtos que os fazendeiros desse país africano tentam vender para a Europa, sobretudo para o Reino Unido, estão em perfeitas condições, mas são rejeitados, provocando problemas econômicos no Kênia. Muitas vezes, esses produtos não podem ser reaproveitados porque passaram da validade com o transporte de ida e volta.
Para Stuart, uma campanha como a que foi lançada em janeiro pela FAO e pelo Pnuma só dará certo se os governos e empresários se engajarem. Ele disse que somente a Noruega conseguiu bons resultados com um programa contra desperdício de alimentos.
- Se as grandes companhias começarem a pensar na questão do desperdício, isso terá um impacto positivo sobre os consumidores - disse ele durante entrevista coletiva.
Fanny Demassieux, pesquisadora do Pnuma sofre eficiência, observou que o tema é oportuno porque todos os países estão sendo afetados.
- Há muito o que se pode fazer para evitar o desperdício. A campanha não é uma imposição aos países, até porque cada um tem sua cultura. Mas o que queremos é criar uma dinâmica que envolva governos, empresas, produtores rurais com ideias de boas práticas que ajudem a conter esse desperdício - disse ela.
Na noite de terça-feira, Stuart promoveu um jantar para as delegações que participam dos debates no Pnuma com alimentos que foram rejeitados por supermercados do Reino Unido. O objetivo foi encorajar membros dos governos a repensarem o desperdício de alimentos.
Veículo: O Globo - RJ