Ações sustentáveis ainda deixam a desejar, diz estudo

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Grandes empresas alimentícias, como a Kellogg, receberam notas baixas na classificação da Oxfam International sobre o apoio a temas de sustentabilidade e direitos humanos, incluindo o tratamento a mulheres.

A Associated British Foods, fabricante londrina dos chás Twinings e do Ovomaltine, teve a pontuação mais baixa no relatório, segundo o grupo de defesa dos direitos humanos. Acima dela, as outras duas com pontuações mais baixas foram a Kellogg e a General Mills. Nestlé, Unilever e Coca-Cola tiveram os melhores resultados, embora nenhuma tenha feito mais de 38 entre 70 pontos possíveis.

"O que queremos fazer é direcionar os refletores e chamar a atenção para essas questões", diz Chris Jochnick, diretor do departamento encarregado do setor privado da Oxfam America, o braço nos Estados Unidos do grupo britânico. O estudo avaliou as políticas das empresas sobre direitos à propriedade dos pequenos fazendeiros; sua relação com mulheres, agricultores e trabalhadores; mudanças climáticas; transparência empresarial; e uso da água.

A Associates British Foods criticou o informe em comunicado, sustentando que qualquer acusação de que esconde maus-tratos a pessoas em sua cadeia de fornecimento é "simplesmente ridícula". "Tratamos o ambiente, as comunidades e os produtores locais com o máximo respeito", segundo o comunicado da empresa, enviado por e-mail. "Quando se encontram problemas, eles são resolvidos apropriadamente."

Kris Charles, porta-voz da Kellogg, disse que a empresa, cuja sede fica em Battle Creek, em Michigan, entrou em contato com a Oxfam quando o informe era preparado e que a multinacional valoriza essas discussões.

"A Kellogg está comprometida com uma cadeia de fornecimento transparente, ética e sustentável e estamos trabalhando com os agricultores que plantam nossos grãos para incentivar melhorias colaborativas de sustentabilidade", escreveu Charles, em e-mail.

As dez empresas estudadas no informe estão entre as principais produtoras do mercado mundial de bebidas e alimentos, que a firma de consultoria IMAP, de Istambul, avalia em quase US$ 7 trilhões. A Nestlé, maior empresa alimentícia do mundo, teve receita de US$ 92,2 bilhões em 2012, quase o Produto Interno Bruto (PIB) da Eslováquia e suficiente para deixá-la à frente de quase 70% dos países naquele ano, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Ao trabalhar de forma cooperativa com mais de 600 mil agricultores que fornecem nossas matérias-primas, estamos em posição única para provocar impacto real", destacou a Nestlé em comunicado. "O uso sustentável da água também é uma de nossas maiores prioridades".

Cada uma das sete categorias foi classificada em uma escala de 1 a 10 e as empresas se saíram melhor nas de transparência e uso da água, nas quais houve grandes avanços nos últimos anos, segundo Jochnick. "Há um modelo de negócios a ser feito nessas áreas, e elas entendem isso", disse.

O tratamento às mulheres e as políticas que buscam proteger os direitos dos pequenos agricultores quando empresas tentam comprar grandes áreas de terra tiveram as menores pontuações. Muitas empresas nem tocaram no assunto ou suas iniciativas não abordaram os problemas de forma abrangente, de acordo com o relatório.

Nenhuma das dez empresas soube informar ou tentou descobrir quantas agricultoras estavam envolvidas em suas cadeias de fornecimento ou que tipo de atividades agrícolas elas faziam, de acordo com o informe da Oxfam.

Os projetos para fortalecer as mulheres em vigor na Coca-Cola e na PepsiCo "são apenas o começo da jornada, não o fim", segundo o relatório da Oxfam.

Com a classificação em mãos, o próximo passo da Oxfam é colocar em evidência problemas individuais, para pressionar as empresas e suas políticas, de acordo com Jochnick. O tratamento às mulheres será o primeiro a receber o foco, com eventos feitos em coordenação com o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.

Em comunicado, a Unilever defendeu que "progressos significativos" apenas poderão ser alcançados se produtores, processadores, comercializadores, varejistas e governos trabalharem juntos. "Também acreditamos que é preciso dedicar mais atenção à importância de uma melhor nutrição."

Foram selecionadas para o relatório empresas de bens de consumo por terem marcas reconhecíveis, segundo Jochnik.

As outras empresas estudadas foram Mars, Danone e Mondelez International. As notas das dez empresas foram: Nestlé, 38 pontos; Unilever, 34; Coca-Cola, 29; PepsiCo, 22; Mars, 21; Danone e Mondelez, 20; General Mills e Kellogg, 16; e Associated British Foods, 13.

A Nestlé que recebeu 7 pontos em transparência e uso da água, e a Unilever, com a mesma pontuação no tratamento aos agricultores, foram as únicas a ter pontuações tão altas em qualquer uma das categorias.

A Coca-Cola e a Mars afirmaram estar ansiosas para entrar em contato com a Oxfam para discutir algumas das questões levantadas pelo estudo. "Acreditamos em criar oportunidades econômicas para mulheres e pequenos fazendeiros, assim como em cuidar da água e de outros recursos naturais", indicou a Coca-Cola, em comunicado por e-mail.

A Mondelez, desmembrada em 2012 da Kraft Foods, ficou surpresa com a classificação da Oxfam. "Sua avaliação é uma oportunidade perdida de engajar as empresas em mudanças positivas", escreveu Richard Buino, porta-voz da empresa de Deerfield, Illinois, em e-mail. "Trabalhando em conjunto e levando o foco a nosso denominador comum - em vez de direcionando-o ao que não temos em comum - teremos um progresso muito maior."

A General Mills não quis comentar o assunto antes do anúncio do relatório. A PepsiCo não retornou contatos por telefone e e-mail para comentar o estudo. A Danone informou que não comentaria o assunto no momento.



Veículo: Valor Econômico




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