De inimiga número 1 do movimento ambientalista, a multinacional sueca se tornou, a partir de iniciativas no Brasil, referência mundial na reciclagem de embalagens Houve um tempo em que os ambientalistas brasileiros tinham crises de urticária só de ouvir falar na Tetra Pak.
A multinacional sueca era espinafrada pelos “verdes” por não mexer nem um dedo mindinho em prol da reciclagem de suas embalagens, formadas por “sanduíches” de plástico, alumínio e papelão. Na Europa, as caixinhas da “família” longa vida ainda tinham alguma serventia pósuso: eram queimadas, para a geração de energia elétrica.
Por aqui, contudo, causavam apenas problemas ao serem descartadas pelos consumidores. O mal-estar só começou a perder força em meados da década de 1990, quando um engenheiro químico que pertencia aos quadros da empresa conseguiu vender a seus superiores a ideia de que era possível, sim, reciclar os polêmicos invólucros.
“Primeiro ponto a nosso favor: o antigo presidente da operação local empunhou a bandeira, e o atual também.
Começamos, então, a conversar com o pessoal das fábricas, das áreas de marketing, comunicação e vendas. A turma percebeu que todos tinham a ganhar com a proposta e entrou no barco sem pestanejar”, conta o diretor de meio ambiente, Fernando von Zuben. Ele mesmo, o deflagrador da “revolução” interna.
Logo no início do desafio, uma dúvida de percurso: o que fazer primeiro, organizar a estrutura de coleta ou a de reciclagem? A opção foi atacar em ambas as frentes. Em 1995, a Tetra Pak colocou seu bloco ambiental na rua.
“Começamos com coletas- piloto em Campinas e Porto Alegre, onde também desenvolvemos recicladores - em alguns casos, com subsídios”, recorda o executivo. “Mostramos que a iniciativa seria positiva para as cidades, pois as prefeituras não teriam mais que enviar todo aquele material para os lixões, e os cidadãos, por sua vez, poderiam ganhar dinheiro com novos negócios.”
O projeto deu tão certo que cruzou as fronteiras. Das 65 unidades de processamento hoje instaladas nas Américas Central e do Sul, 35 estão por aqui e outras 30 se espalham por diversos países, casos de Guatemala, Costa Rica, Venezuela, Peru, Equador etc. Detalhe: além de ter “exportado” o modelo, a Tetra Pak do Brasil deu uma forcinha a mais para esses empreendedores, cedendo equipamentos em regime de comodato. “Nossas previsões se concretizaram: a reciclagem de caixinhas longa vida dá retorno. Prova disso é que as recicladoras pagam hoje R$ 0,35 por quilo de embalagens descartadas, 600% a mais do que costumavam desembolsar há cerca de 15 anos”, destaca von Zuben.
Não é difícil, portanto, entender o interesse despertado por esse material antes tão rejeitado. Entre 2002 e o ano retrasado, seu índice de reciclagem praticamente dobrou— de 15% para 29%— e, tudo indica, deve continuar na mesma toada. O salto, em boa parte, deveu-se ao início das operações, em 2005, de uma fábrica bancada em conjunto por Tetra Pak, Klabin, Alcoa e TSL Ambiental. Instalada em Piracicaba (SP), a unidade tem capacidade de processamento de 8 mil toneladas de plástico e alumínio — o equivalente a 32 mil embalagens longa vida por ano — e utiliza uma nova tecnologia desenvolvida com o auxílio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Trata-se de um jato de plasma a 15 mil graus centígrados que aquece a mistura de plástico e alumínio, permitindo a perfeita separação dos materiais. “É a primeira aplicação prática desse processo no mundo”, orgulha-se o diretor de meio ambiente da Tetra Pak.
Veículo: Brasil Econômico