Uma dinâmica que tem atraído a atenção dos comerciantes, principalmente com a perspectiva sistêmica de um apagão elétrico e de um racionamento de água, é investir em ações sustentáveis - que de quebra permitam, no médio e longo prazo, obter redução de custos. Empresas como a administradora de centros de compras Tenco Shopping Centers têm encontrado o caminho nesse sentido, com projetos que incluem iluminação natural, tratamento de esgoto para reutilização da água para ar condicionado, além de limpeza e irrigação.
Afora isso, analisar investimentos em energia limpa como a eólica ou a solar para o funcionamento dos empreendimentos pode ser determinante para o sucesso dos negócios nos próximos anos, pelo menos para os lojistas de centros de compras, indica o diretor comercial da Tenco, Júlio Macedo. "No curto prazo, realmente a questão sustentável custa mais caro. Entretanto, no médio e longo prazo está claro para o mercado que não há outra saída, tanto em termos de retorno sobre o investimento como principalmente na aceitação do "produto" pelos consumidores, cada vez mais atentos à questão".
A experiência no Rio Grande do Norte foi lembrada pelo executivo, quando referiu-se ao projeto do Mossoró West Shopping, realizado com energia limpa. "Mossoró é uma região que venta muito. Aproveitamos essa característica natural e implantamos o sistema de geração de energia eólica. Ele passou a ser responsável pela alimentação de todo nosso estacionamento, garantindo economia e, ao mesmo tempo, colaborando com a preservação do meio ambiente. Hoje, a Tenco não esta mais neste projeto, mas foi ela [a empresa] quem iniciou esta ação, dentro do seu conceito Garden", comentou Macedo. Estimativas do mercado apontam que o empreendimento envolveu investimento de R$ 55 milhões, mas o valor não foi confirmado pelo executivo.
Outra empresa também da indústria de shoppings no País, a Multiplan, com participação média de 75% nos empreendimentos administrados por ela (17), diz que o conceito tornou-se foco na gestão e no desenvolvimento dos negócios. "O mais difícil é viabilizar as novas tecnologias com o custo de investimento e amortização dos projetos", destacou Henrique Wendriner, diretor de operações da Multiplan. Ele acredita que o segmento adota várias práticas ecologicamente corretas, como o reúso de água e a utilização de sistemas eficientes de energia, como iluminação em Led, vidros low-e (que refletem o calor de volta para a fonte), além da reciclagem de lixo (papelão, alumínio, lâmpadas e ferro).
Na prática, o diretor da empresa destaca que há sete anos a Multiplan compra energia produzida por metano em aterro sanitário (usina São João) no mercado livre de energia. "Estamos estudando a compra de energia eólica de um parque na Bahia, assim como a colocação de fotovoltaicas nos telhados dos shoppings". Neste caso, Wendriner discorre sobre o uso de painéis solares, que são utilizados para converter energia da luz do sol em energia elétrica.
Setor supermercadista
Se há um ramo no comércio varejista interessado em novas soluções para reduzir custos e refletir a imagem de sustentabilidade, este certamente é o setor supermercadista. No caso de haver nos próximos meses racionamento de energia, por conta da falta de chuvas próximas a boa parte dos reservatórios do País, a Coop (Cooperativa de Consumo) não descarta alugar geradores para atender as demandas localizadas, apesar de boa parte das lojas já contar com o equipamento. A médio e longo prazo a política é atualizar o maquinário, substituindo-o por outros mais eficientes. A perspectiva da empresa é investir em torno de R$ 15 milhões nessa área, até o final de 2014.
"Em muitas lojas já iniciamos programas de retrofite [modernização] de equipamentos e instalações para redução do consumo de energia e impacto no meio ambiente", disse o engenheiro Marco Antonio Feresin, porta-voz da rede. Ele destacou que há estudos para a aquisição de equipamentos de refrigeração e iluminação, troca de balcões frigoríficos e melhorias nas casas de máquinas de refrigeração e sistemas de iluminação.
No que diz respeito a reutilização de água, o engenheiro argumenta que a captação e armazenamento de águas pluviais é lei e a integração desse sistema de armazenamento ao uso na descarga de banheiros e limpeza de pisos é realidade nos planos da rede composta pela Coop. Questionado a respeito dos custos para adaptar uma unidade ao viés sustentável, Feresin ressaltou que investir em equipamentos e instalações de menor consumo e custo operacional ajuda na amortização do investimento - mesmo que ele seja até 30% mais caro, em termos de infraestrutura. "O importante é partir de um projeto com conceito de eficiência comprovada, onde seja possível enxergar o retorno."
Incentivos fiscais
Entre os entrevistados, o senso comum é de que seria preciso mais incentivos fiscais e linhas de financiamento para quem está atento à nova cultura da luta contra o desperdício. "Seria uma ótima opção para o incremento de ações sustentáveis [mais incentivos fiscais]. Existem fóruns como o 'Greenbuilding Brasil', onde poderiam ser elaboradas propostas para as empresas que adotassem políticas sustentáveis. E poderíamos levar às autoridades competentes reivindicações nesse sentido", opinou o engenheiro da Cooperativa de Consumo.
O presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, o professor José Goldemberg também comentou sobre isso, ao dizer que não existem incentivos diretos, mas sim linhas de financiamento atraentes para adaptar estabelecimentos ao perfil ecoeficiente. "Mas muitos empresários têm de entender que ao se construir um imóvel sustentável, ele pode custar até 30% mais do que um imóvel tradicional. Contudo, isso retorna em quatro ou cinco anos. Antigamente demorava uma década." Para Goldemberg, racionalizar o uso da água e evitar os vazamentos são ações determinantes para o sucesso de qualquer negócio.
Veículo: DCI