Em meados da década passada, a PepsiCo impôs-se a meta de reduzir em 20% seu consumo de água em um intervalo de dez anos. Não era uma tarefa simples: afinal, trata-se de uma das maiores fabricantes de bebidas do mundo, que tem na água um de seus insumos mais importantes. A empresa atingiu o objetivo - e não em 2015, como havia planejado, mas em 2012.
Naquele mesmo ano, a PepsiCo recebeu o Stockholm Industry Water Award, um prêmio oferecido anualmente pelo prestigiado Stockholm International Water Institute a empresas, pessoas e instituições que contribuem melhorar a oferta e a qualidade da água no planeta.
Desde então, a PepsiCo virou referência internacional entre grandes empresas que trabalham para reduzir o consumo de água. Dan Bena é o diretor de desenvolvimento sustentável da companhia, e nessa função ele coordena ações como a que foi premiada pelo Instituto de Estocolmo.
Na próxima semana, na terça e na quarta-feira, Bena será um dos palestrantes do fórum A Cidade e as Águas, em São Paulo. O evento, organizado pelo Arq.Futuro, vai reunir especialistas para discutir a relação das grandes metrópoles com a água. Dos Estados Unidos, antes de embarcar para o Brasil, Bena falou ao Valor.
Leia os principais trechos a seguir:
Valor: O debate entre pessoas, companhias e governos sobre os problemas relacionados à água só faz aumentar. Existe um risco real de escassez de água no mundo ou todas essas visões são muito apocalípticas?
Dan Bena: Eu definitivamente não acho que as visões são muito apocalípticas, e é bom que a consciência sobre a escassez de água e insegurança sobre o fornecimento tenha crescido nos últimos anos. O aumento de eventos climáticos também vai levar a mais tempestades severas e inundações. Além disso, devemos considerar também o desafio de água de qualidade, e não apenas quantidade.
Valor: Como a sua empresa conseguiu reduzir o consumo de água, e até antes do previsto?
Bena: Na PepsiCo, temos um programa chamado Conservação dos Recursos (ReCon), que tem sido utilizado em todo o mundo para identificar oportunidades de economia de água e energia. Criamos soluções que vão do conserto de vazamentos à adoção de filtros que levam às torneiras água ionizada. Um dos passos mais importantes em um programa de conservação é medir o uso da água da forma mais detalhada possível. Só em 2013, economizamos 14 bilhões de litros de água. Economizamos US$ 15 milhões.
Valor: Em 2002, o professor holandês Arjen Hoekstra (University of Twente) desenvolveu o conceito da "pegada de água". Desde então, muitas grandes empresas começaram a calcular o volume de água consumido em sua cadeia de produção, da matéria-prima até o produto final. Esse conceito realmente faz diferença na tomada de decisão das empresas?
Bena: A PepsiCo deu uma grande atenção ao projeto e fomos um dos primeiros apoiadores da Water Footprint Network. O conceito de comparar a pegada de água pode ser uma boa maneira de melhorar o conhecimento do público em geral, mas não se deve usá-lo para a tomada de decisão nos negócios. Concluímos que, como os riscos e impactos da água têm alcance eminentemente local, há pouco valor no cálculo agregado da "pegada".
Valor: "Metas do Milênio", "pegada de água", "crédito de carbono"... Esses não são conceitos muito complicados para as pessoas comuns? Isso não dificulta os esforços para atrair a população para temas como o do uso racional da água?
Bena: De fato, os termos podem ser complicados para o público em geral. Mas é por isso que é importante definir o canal correto de comunicação. Os governos precisam dos programas certos de sensibilização do público. As escolas precisam ensinar os alunos sobre esses desafios desde o início para que as crianças cresçam sabendo por que a administração da água é importante. E as empresas podem usar o poder de suas marcas para dizer aos consumidores que há um problema - e uma solução para ele. Todos têm um papel a desempenhar na educação da população.
Valor: E no Brasil? Quais os projetos da PepsiCo relacionadas com a água?
Bena: Com o apoio do Centro de Água Columbia, no Instituto Terra da Universidade Columbia [uma das parceiras no tema água da PepsiCo Foundation], moradores do Ceará construíram infraestrutura de distribuição de água sustentável para levar água potável para mais de 60 mil pessoas. A Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará aprovou o programa para desenvolver sistemas para outras comunidades do Estado. O projeto melhorou o acesso à água segura e de segurança para mais de 4 milhões de habitantes.
Veículo: Valor Econômico