No fim de setembro, o grupo catarinense de moda Malwee, a empresa paulista de cosméticos Natura e a também paulista Klabin, uma das maiores produtoras de papel do mundo, se tornaram as primeiras companhias brasileiras a assinar um compromisso com a Organização das Nações Unidas (ONU) para combater as mudanças climáticas que ameaçam o planeta.
Entre outras medidas, as signatárias se comprometem a fazer a sua parte para limitar o aumento da temperatura no planeta e eliminar as emissões de gases do efeito estufa. Lançada no mês passado, a proposta foi assinada até agora por 87 empresas de diversos países e setores, como a francesa Danone, a britânica Unilever e a espanhola Telefónica.
Por mais que diversos segmentos da sociedade ainda neguem os efeitos perversos das mudanças climáticas, eles são visíveis em diversas partes do mundo. Nos Estados Unidos, a última década tem sido palco das maiores inundações em 100 anos, que provocaram perdas bilionárias de lavouras e deixaram milhares de desabrigados.
Na Europa, os cinco verões mais quentes desde o ano 1500 foram registrados a partir do início deste século, em 2002, 2003, 2010, 2016 e 2018, e as ondas de calor mataram pessoas na França, Alemanha e Inglaterra. Na África, secas extremas aumentaram os já elevados índices de mortalidade infantil e, no Brasil, o aquecimento global pode estar associado ao crescimento da intensidade e frequência das tempestades tropicais.
Para além das questões relativas à própria sobrevivência do planeta, as mudanças climáticas são péssimas para os negócios. Um estudo realizado pela consultoria CDP concluiu que, nos próximos cinco anos, as 200 maiores empresas do mundo vão desembolsar US$ 1 trilhão em custos extras decorrentes de fatores que incluem temperaturas mais altas, clima caótico e preço das emissões de gases do efeito estufa.
“Tão certo quanto o fato de que as mudanças climáticas representam uma tragédia para a humanidade é que as grandes companhias vão perder muito dinheiro com o aumento dramático da temperatura do planeta”, diz o consultor Ricardo Pereira Levy, especializado no mercado de crédito de carbono. “Isso explica por que muitas delas começaram a se mexer”.
É obvio que ninguém quer que o planeta arda em chamas, mas é mais evidente ainda que nenhuma empresa gosta de perder dinheiro. Além dos prejuízos tangíveis gerados pelas mudanças climáticas, aquelas que não fizeram nada em prol do planeta poderão perder o seu ativo mais valioso: a reputação.
“Se todos nós começarmos a ser afetados pelos riscos físicos da mudança climática, ficaremos muito mais atentos a comprar produtos que causem menos impacto”, disse Carole Ferguson, diretora de pesquisa da CDP, em entrevista para a Bloomberg. Em outras palavras: quem não ligar para a preservação do planeta estará fora do jogo.
A boa notícia é que muitas empresas estão se mobilizando — e o número das que lançam medidas sustentáveis é crescente. Em uma recente lista divulgada pela CDP, a britânica Unilever, gigante do setor de bens de consumo, aparece em primeiro lugar entre as empresas comprometidas com boas práticas sustentáveis.
Nos últimos três anos, a empresa acelerou a aquisição de marcas de produtos sustentáveis e naturais. No fim do ano passado, comprou a italiana Equilibra, especializada no setor de higiene e beleza. Antes, no fim de 2017, havia incorporado a brasileira Mãe Terra, que produz alimentos saudáveis. A mais recente aquisição na área foi a The Laundress, marca de produtos de limpeza feitos com insumos naturais.
Segunda colocada do ranking, a fabricante francesa de cosméticos L’Oréal se destaca, segundo a CDP, por seus programas de energia renovável que estão em andamento em todas as unidades da empresa espalhadas pelo mundo. Na lista da CDP, a terceira colocada é a francesa Danone, uma das maiores fabricantes de produtos alimentícios do mundo. A Danone foi reconhecida especialmente por seu trabalho de manejo de água.
A sustentabilidade entrou de vez no radar das empresas. A cervejaria belgo-brasileira AB Inbev desenvolveu novas variedades de cevada que, segundo estudos preliminares, podem reduzir em até 40% o consumo de água. A gigante de alimentos Kraft Heinz, controlada pelo grupo brasileiro 3G, comprometeu-se recentemente a definir metas agressivas de controle de emissões de gases do efeito estufa.
As grandes empresas de tecnologia que despontaram no século 21 estão ainda mais comprometidas com a preservação do planeta. Na verdade, essa preocupação já está no DNA da maioria delas. Há alguns dias, a Amazon anunciou o compromissou de se tornar neutra em carbono até 2040. A empresa foi a primeira a assinar um pacto global conhecido como “Climate Pledge”, que tem por objetivo fazer com que as empresas acompanhem indicadores de emissão de efeito estufa.
Jeff Bezos, homem mais rico do mundo e fundador da Amazon, afirmou em entrevista recente que, sem um planeta saudável, nenhum dinheiro do mundo valerá a pena. Segundo ele, 40% da energia usada pela companhia vem de fontes renováveis, mas o objetivo é elevar esse índice para 80% nos próximos cinco anos e para 100% até 2030.
Fonte: Correio Braziliense