Num ano marcado pelas queimadas na Amazônia e muitos países cobrando sustentabilidade produtiva do Brasil, o setor de orgânicos vai ganhando mais maioridade com players diversificando seu mix de itens sem agroquímicos (fertilizantes e defensivos). E esse cenário cada vez mais generalizado de preocupação com o ambiente ajuda a amadurecer o consumo, ampliando mercado, e as empresas já perceberam isso.
Na verdade, nem tão de agora se nota a movimentação das grandes marcas. As mais responsáveis e atentas aos mandatos dos consumidores em seus países de origem já começaram antes, explica Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência de Orgânicos (CI Orgânicos), que provê a cadeia com estudos e análises.
O Pão de Açúcar é pioneiro entre as redes, com mais de 10 anos vendendo de terceiros e de marca própria, e foi vendo a diversificação e variedade de produtos crescendo, sem que hoje dificilmente não se encontre alguma coisa produzida fora do método convencional. Em 2019, o grupo brasileiro do francês Casino está vendendo o leite Ninho orgânico da Nestlé, que também lançou papinhas para bebês.
A Pepsi Co veio com aveia e a Unilever amplia o portfólio, depois de há três anos entrar nesse nicho comprando uma fábrica de biscoitos.
Para ficarmos nos grupos mundiais, Sylvia acentua que o Carrefour investe mais no segmento, certamente a partir, também, se sua própria produção.
Apesar de muito associado a hortigranjeiros, com a imagem lúdica e romântica das feiras e lojas de nichos – e que são importantes para massificar a base consumidora e agregar pequenos fornecedores, especialmente familiares -, os orgânicos devem cada vez mais às redes de varejo e aos grandes fabricantes. A escala é tudo para diminuir os preços aos consumidores, que, segundo Sylvia, é algo cada vez mais visível.
Naturalmente que não se espera uma equivalência de preços entre o item convencional e o orgânico. Sem agroquímicos, com requisitos mais exigentes quanto à terra (necessita ser livre totalmente de resíduos), necessidade de certificação de (na maioria das vezes) empresas regiamente pagas, entre outros, sempre haverá menos oferta e custos maiores.
Exportações
“Mas é possível ampliar essa base, como já está sendo visto cada vez mais entre os mais jovens até, preocupados com a sustentabilidade”, avalia a coordenadora do CI Orgânicos, que está sob o guarda-chuva da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Ela tem certeza que 2019 será um divisor de águas e maturará mais ainda a atividade.
No mercado exportador já há muitas empresas maduras e alguns setores comoditizados estão presentes. Sylvia Wachsner lembra, por exemplo, que no açúcar orgânico, as usinas São Franciso e Jalles Machado devem ser donas de 50% do mercado mundial. Da primeira, a marca Native, pioneira, é mais conhecida, hoje agregada de outros itens diversificados pelo Grupo Balbo.
Na verdade, o setor é uma caixa preta no sentido de números abertos. Estimativas de movimentação monetária são sempre acompanhadas de desconfiança, mas não estariam, pensa a representante da CI Orgânicos, nem abaixo dos R$ 4 bilhões, nem acima dos R$ 5 bilhões, a cada 12 meses. “As empresas simplesmente se negam a falar de números específicos de suas linhas de orgânicos”, acentua a especialista, argumentando, ainda, que nem o governo domina os dados, apesar de algum esforço em apoiar o setor, com certificações “participativas” para agricultores familiares atuarem em pequenos comércios.
Até dados de exportações, inclusive, não são estatisticamente mensuráveis. Não há Nomenclatura Comum do Mercosul (NCMs), códigos para cada produto exportado, só para orgânicos.
A maioridade, relativizando a abrangência ainda restrita de consumo face a um Brasil de renda baixa, deverá ser engordada, avalia Sylvia, da CI Orgânicos/SNA eliminando alguns desafios da produção. Na proteína animal, há um gap por conta da quase ausência de ração orgânica (a base nutricional de soja e milho é das mais fracas sem agroquímicos). No bovino, a exceção é o boi orgânico do Pantanal, com alimentação basicamente natural.
Fonte: Money Times