A base instalada de mais de 150 milhões de celulares no Brasil é terreno fértil para o desenvolvimento de novas tecnologias que fazem do terminal móvel muito mais do que um dispositivo para a transmissão de voz. Estudos do instituto de pesquisas Gartner já mostram o crescimento das aplicações de mobile payment ou m-payment, que transformam o celular em uma carteira eletrônica, capaz de aposentar o cartão de crédito e o dinheiro vivo na hora de pagar as compras. Segundo o Gartner, o número de usuários do pagamento móvel deve saltar de 32,9 milhões em 2008 para 104 milhões de pessoas em 2011, em todo o mundo. A Ásia deve ficar com a maior fatia do bolo, com até 65% desse total.
No Brasil, empresas locais desenvolvem soluções sob medida para redes de supermercado, companhias de e-commerce e sistemas de recargas de celulares pré-pagos. Para Marcelo Condé, presidente da Spring Wireless, empresa de tecnologia sediada em São Paulo com escritórios em 11 países, as soluções de m-payment podem ser utilizadas para pagamentos em geral e caracterizam-se pela facilidade de uso para o dono do celular. "Análises do setor mostram que mais de 30% dos consumidores têm interesse em utilizar seus telefones móveis como forma de pagamento e relacionamento bancário."
Para Condé, o grande desafio dos projetos de m-payment é disponibilizar soluções com uma interface intuitiva e que suportem a maior quantidade de celulares existentes no mercado. "Tudo com baixo custo e segurança nas operações." A Spring Wireless, com faturamento mundial de US$ 93 milhões em 2008, já conquistou clientes como AmBev e Nivea, e reserva 20% da receita para pesquisa e desenvolvimento. "Mais de 70% de nossos colaboradores são da área técnica e a expectativa para 2009 é aumentar a base instalada de clientes em 200%, com contratos nacionais e internacionais."
Para isso, a empresa já iniciou estudos sobre a tecnologia Near Field Communication (NFC), que permite que, com a aproximação do celular a um sensor, o usuário possa efetuar pagamentos de pequenas contas, como cafés e jornais, ou comprar ingressos para o cinema ou metrô.
Em Florianópolis (SC), a Wiaxis cria novas tecnologias para a gestão de serviços por meio de celulares, smartphones e PDAs. Considerada uma das pioneiras do setor de pagamento via terminal móvel no Brasil, tem como carro-chefe a solução WI-Payment, que pode transformar o celular em um equipamento POS (Point-of-Sale).
"Transações originadas no POS convencional ou num PDV podem ser autorizadas pelo celular do cliente, que digita uma senha no aparelho e finaliza a compra", explica Leonardo Rochadel, CEO da Wiaxis, que investiu R$ 500 mil no desenvolvimento do produto.
A novidade já laçou a empresa de captura de transações financeiras GetNet Tecnologia, responsável por negócios com mais de 15 operadoras de cartões. Em 2009, o plano da Wiaxis é personalizar soluções para atender a demanda do microcrédito. "O assinante não vai mais precisar ir ao banco. Pode receber o valor pedido no celular e gastá-lo em estabelecimentos conveniados."
Na curitibana Fazion, que também desenvolve softwares para celulares, a estratégia é implementar sistemas de m-payment em empresas online. Em março, deve sair do papel um projeto feito para o site de comparação de preços BuscaPé. "Vamos levar para o celular o mesmo aplicativo de análise de preços que o BuscaPé tem na internet, com listas de produtos e ofertas. Se o usuário estiver interessado em uma mercadoria numa vitrine, pode usar o celular para pesquisar o melhor preço na hora", explica Mauro Faccioni Filho, diretor da Fazion.
Em São Paulo, a JCN entrou no mercado de soluções móveis como desenvolvedora de softwares para a recarga de celulares pré-pagos, com clientes como a Vivo. Hoje, o forte da empresa é um sistema de vendas que permite que toda a operação de compra e pagamento de créditos telefônicos seja feita via celular. "O usuário liga para uma central de atendimento e realiza o pagamento com cartão de crédito", explica o diretor Frederico Assis.
Veículo: Valor Econômico