São Paulo - Apesar da atividade da indústria ainda estar se recuperando neste ano, as áreas de eletroeletrônicos e informática começam a respirar aliviadas graças à queda dos juros, que melhorou as condições de crediário, e a leve retomada do emprego no País. Com isso, o setor em geral já vê uma evolução consistente no horizonte.
A fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos cresceu 6% entre julho e setembro em relação a abril e junho, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa, inclusive, foi uma das poucas categorias que apresentou crescimento trimestral consecutivo em termos de volume ao longo de 2017 - avançou 5,8% no segundo trimestre, após incremento de 0,4% no primeiro trimestre.
"Esses são segmentos favorecidos pela normalização do crédito às famílias. As concessões voltaram a crescer e os juros recuaram. Houve ainda um efeito favorável da liberação dos recursos do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço]", analisa o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin. Segundo ele, os eletrônicos se beneficiam da dinâmica dos ciclos tecnológicos cada vez menores, estimulando a troca dos aparelhos, principalmente de celulares. Neste caso, eles vêm ganhando espaço entre os consumidores, que estão deixando de comprar computadores, optando pelos smartphones. "Há cinco ou seis anos, as pessoas estão trocando os computadores e os notebooks pelos celulares", destaca o diretor de pesquisa da consultoria IT Data, Ivair Rodrigues.
De toda forma, a área de informática vem obtendo uma evolução positiva neste ano, com uma alta de 10% no primeiro semestre, destaca Rodrigues, beneficiada, em parte, pela baixa base de comparação, mas também pelo incremento de postos de trabalho. "A melhora do emprego deve puxar um pouco o mercado para Pessoa Jurídica. A abertura de um novo negócio incrementa a venda de computadores", diz.
Para Rodrigues, em termos de volume, a produção de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e informática deverão avançar entre 10% e 15% este ano. Já a GfK projeta uma alta de 8,5% das vendas de eletroeletrônicos (que incluem telefonia, informática, linha branca, eletrônicos e eletroportáveis) em 2017, em termos de faturamento real, ante 2016. Enquanto isso, o índice GfK-4E, que mede a atividade no varejo de eletroeletrônico, registrou uma alta de 8,2% no acumulado entre janeiro e setembro.
Outro fator que amplia a demanda de eletroeletrônicos, especialmente de televisores, é o processo de desligamento do sinal analógico. A partir deste ano, está previsto que o sinal digital seja a única opção em cidades dos estados de São Paulo, Goiás, Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Para 2018, o corte deverá atingir as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste. Recentemente, a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) projetou que as vendas de televisores atinjam 9,5 milhões de unidades, alta de 13% sobre o desempenho de 2016.
Um dos indutores da alta das vendas de bens de consumo duráveis é a melhora das condições de financiamento. Segundo um levantamento da consultoria GfK, entre janeiro e julho, ampliou-se o pagamento acima de dez parcelas por parte do varejo, que atingiu 74% ante 72% um ano antes. Já as vendas em até dez vezes atingiram 13% ante 12% na comparação anual. Assim, vendas à vista perderam importância, recuando de 16% para 13%.
Zona Franca de Manaus
As boas perspectivas vêm se consolidando nos dados de produção do Polo Industrial de Manaus. Até agosto deste ano, o faturamento das empresas instaladas na região apresentou uma elevação, em reais, de 6,9% em comparação aos oito primeiros meses de 2016, enquanto a receita contabilizada em dólares registrou alta de 18,3%.
Esse desempenho deverá se configurar como a primeira expansão desde 2014, quando calculada em reais, e desde 2013, considerando o faturamento em dólares. Como a região importa insumos para a produção, o cálculo na moeda norte-americana é relevante na variação do faturamento.
Apenas o segmento que contempla as atividades eletroeletrônicas registrou um avanço de 17,6%, em reais, e de 30,6% em dólar, após dois anos em queda. Já a área de bens de informática apresenta incremento de 18,5% e 30,8%, respectivamente, este ano, em reais e em dólares.
"No comércio há uma demanda maior, com um crescimento das encomendas", afirma o consultor do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Alfredo Lopes. Segundo ele, há uma mobilização inclusive pelo aumento do número de contratações de temporários em relação ao ano passado. Lopes acrescenta que as novas regras trabalhistas também devem melhorar as condições de contratação por parte da indústria. Ele destaca que o polo deverá gerar 1.500 vagas líquidas este ano, na primeira alta desde 2013. Neste período, porém, foram perdidas mais de 37 mil postos.
Para 2018, as perspectivas iniciais são pela manutenção da evolução do faturamento, em eletroeletrônicos e informática, impulsionada pelo crédito. Especialmente para televisores, historicamente, a Copa do Mundo gera um estímulo adicional à produção. No entanto, a turbulência política, em meio às eleições presidenciais, ainda deve respingar sobre a produção, postergando a retomada consolidada da indústria.
Fonte: DCI São Paulo