A MasterCard acredita que o aumento da competição no setor, fruto das mudanças regulatórias que a indústria vem sofrendo nos últimos meses, pode ser positivo para a companhia. O fim da exclusividade entre bandeira e credenciador pode até mesmo contribuir para a busca da liderança no mercado brasileiro de cartões, uma das metas da empresa.
Há poucos meses, o Banco Central soltou duro relatório em que aponta forte concentração na mão de poucas instituições. Em seguida, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) determinou o fim do contrato de exclusividade entre Visa e VisaNet, o que abriu espaço para que as credenciadoras de estabelecimentos comerciais possam oferecer as diferentes bandeiras ao lojistas.
Agora, o Banco Central prepara um documento final, prometido para o dia 30 de setembro, com possíveis mudanças na estrutura atual do mercado de cartões. O foco da autoridade monetária é justamente diminuir a concentração no setor, já que cerca de 80% do mercado está nas mãos das duas maiores adquirentes, Redecard e VisaNet.
Segundo o presidente da empresa no Brasil, Gilberto Caldart, a MasterCard já não tem acordos de exclusividade, o que, segundo ele, mostra que a companhia é "claramente" a favor da concorrência entre as empresas. "Competição é bom e estamos competindo fortemente para atingir a liderança", disse. "Vemos isso como uma evolução da indústria, que está crescendo, mudando o tempo todo. Somos muito favoráveis a competição, que é a melhor forma de se desenvolver os mercados."
Essa competição parece já ter começado. Segundo Caldart, outras instituições já sinalizam que também vão operar como credenciadoras de lojistas para a MasterCard. "Tem gente nos procurando para obter licenças", disse, sem revelar nomes.
Walt Macnee, presidente de Mercados Internacionais da MasterCard, em visita ao país, lembra que esses movimentos não são exclusividade do mercado brasileiro e o próprio governo americano pressiona as empresas por mudanças. "Os governos ao redor do mundo estão constantemente olham para todos os negócios, em termos do equilíbrio entre os consumidores e as companhias", disse. Mas, segundo ele, esse é um negocio com diferentes graus de maturidade ao redor do mundo e as demandas são diferentes nos diversos países.
Segundo ele, o melhor a se fazer é dialogar com os governos para se encontrar a melhor solução. "Na nossa experiência, se você trabalha junto com os governos, completamente abertos e transparentes, explicando seu negocio e deixando que eles vejam completamente o modo como você trabalha, os governantes entendem o sua posição e você termina em uma posição melhor", disse ele.
Ainda de acordo com Macnee, o governo brasileiro tem sido "muito eficiente e está tentando fazer a coisa certa". "Estamos trabalhando junto com o governo, sendo o mais aberto que podemos. Achamos que algumas das recomendações são boas, outras não são tão boas para a economia como um todo. Mas os meios de pagamentos são muito positivos para a sociedade e acho que o governo entenderá isso", disse.
Dentro desse contexto de mudanças, novas oportunidades surgem para um dos mercados que mais crescem para a MasterCard. E a liderança é um dos objetivos da companhia. Segundo Macnee, a própria vinda de Caldart, que assumiu a presidência no Brasil em outubro do ano passado, vindo do Citigroup, faz parte dessa estratégia. "Pensávamos na liderança quando trouxemos Caldart, que tem muita experiência no mercado bancário brasileiro", afirmou.
O Brasil é central no negócio da MasterCard na região da América Latina por conta do forte ritmo de crescimento de dois dígitos, acima da média de 7% observada na América Latina no segundo trimestre. Além de ter sofrido menos com a crise mundial, Macnee aponta que muito dos problemas do mundo está concentrado nos bancos, enquanto no Brasil as instituições financeiras são muito sólidas e capitalizadas.
A MasterCard também está olhando para as camadas de renda mais baixa, disse Macnee. "Alguns números na economia brasileira me impressionam, como o fato de 20 milhões de pessoas terem emergido para a classe média nos últimos anos".
Para se aproximar dessa população, a companhia lançou uma campanha de consumo consciente, que inclui recursos eletrônicos como um blog e um portal na Internet, que também serve como um banco de dados sobre hábitos de consumo da população de baixa renda.
Veículo: Valor Econômico