Na capital gaúcha, a tábua de salvação das bancas de jornais é feita de doces, balas, gomas de mascar, biscoitos, picolés, café espresso, refrigerantes, cartões telefônicos e cigarros. Liberados pela prefeitura para venda entre 2008 e 2010, eles já representam, em média, 50% do faturamento do setor na cidade, estima o presidente do Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas do Rio Grande do Sul, Ernesto Pereira da Silva.
Apesar da diversificação do portfólio, o setor vem encolhendo gradativamente. Segundo a Secretaria Municipal da Indústria e Comércio (SMIC), existem 302 bancas licenciadas na cidade, mas o sindicato calcula que apenas 200 estão em operação, ante 350 há pouco mais de 20 anos. Metade delas tem faturamento diário de até R$ 1,2 mil, outras oscilam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil e poucas passam deste valor. Até agora não há nenhum estudo para receber o vale-cultura, diz Silva.
Conforme o empresário, o declínio começou ainda na década de 1980 com a concorrência de pontos como supermercados, lojas de conveniência e até farmácias. Depois veio a expansão das assinaturas de jornais e o inimigo mais recente é a internet. O número dos chamados "pontos alternativos" de comercialização de jornais na cidade, sem contar as vendas avulsas nas ruas, já passa de 500, mais do que o dobro da quantidade de bancas, estima o sindicato.
Os novos produtos vendidos nas bancas também têm margens mais atraentes. O ganho pode chegar a 100%, ante a comissão de 25% sobre jornais e revistas. O setor fatura ainda com a locação de espaço publicitário para indústrias de refrigerantes, operadoras de telefonia e outras empresas. Segundo Silva, na onda de manifestações contra os preços da tarifa de ônibus que atravessa o país, algumas bancas tiveram a publicidade arrancada nos últimos dias, mas até agora nenhuma foi depredada mais seriamente.
Pela lei municipal, as bancas só podem ser instaladas nas calçadas em que sobrar um espaço livre de 1,8 metro para trânsito de pedestres. Quando há um edifício em frente, o dono ou o síndico do prédio deve autorizar o funcionamento do ponto, o que causa insegurança para o setor. "Já tentamos mudar esta regra, mas não conseguimos", explica Silva. A SMIC não quis se manifestar sobre o assunto.
Segundo o presidente do sindicato, cada empresário tem direito a receber apenas um alvará de funcionamento da prefeitura, o que garante o perfil familiar das operações. É o caso de Lenir Pereira, há 20 anos dona da banca Cultura, em um bairro da zona sul de Porto Alegre. Professora por formação e casada com um administrador de empresas, ela encontra no pequeno negócio uma contribuição importante para o sustento da família.
Lenir ainda obtém 60% do faturamento com a venda de jornais e revistas, principalmente as especializadas em temas como artesanato, arquitetura, história e geografia. As revistas de variedades populares, que custam entre R$ 1,25 e R$ 2, saem como "pão quente", em uma média diária superior a cem unidades, diz a empresária.
Veículo: Valor Econômico