Brasileiro faz vinho argentino conceituado

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Era para ser um pequeno agrado e nada mais. Os clientes da Transportadora Coral, uma das primeiras do Brasil a explorar a distribuição de mercadorias entre os países do Mercosul, costumavam receber algumas garrafas de vinho argentino ou chileno todo fim de ano. Cortesia do gaúcho Bernardo Weinert, neto de alemães, bom gourmet e amante dos vinhos.

 

Mas os clientes já não queriam mais desfrutar o sabor das uvas andinas só de tempos em tempos. Com encomendas de um número cada vez maior de garrafas, Weinert começou a importar e distribuir os vinhos no Brasil. Em 1975, partiu para uma nova empreitada. Comprou uma vinícola em Luján de Cuyo, na região de Mendoza, construída no fim do século XIX e abandonada havia 50 anos. O lugar era perfeito: pouca chuva, boa drenagem, temperatura alta de dia, o que ajuda a amadurecer a uva, e baixa à noite, o que ajuda a desenvolver um aroma elegante.

 
 
Dois anos depois, com a ajuda do enólogo Raúl de la Mota, precursor do malbec na Argentina e verdadeiro mito para quem conhece a história do vinho no país, a Bodega y Cavas Weinert já colhia uma safra histórica: a garrafa do Estrella 1977 tornou-se apreciada pelos degustadores e a vinícola passou a figurar no prestigiado guia americano The Wine Advocate como "fazendo inquestionavelmente os melhores vinhos da América do Sul".

 

"Não foi nada muito planejado", minimiza, com modéstia, o engenheiro Bruno Weinert, um dos três filhos do patriarca Bernardo, que se mudou para a Argentina nos anos 90 e se dedica a administrar o negócio da família. A Transportadora Coral quebrou, mas hoje a Bodega y Cavas de Weinert exporta para mais de 20 países e seus vinhos podem ser encontrados em restaurantes finos do Brasil à Malásia. São sete variedades de uvas, embora o malbec ainda corresponda à metade da produção, e 1 milhão de garrafas por ano - 50% das quais ficam na própria Argentina, para consumo local. O restante vai para mercados tão diversos como Turquia, Dinamarca, Equador, Coreia e Rússia.

 

Fiel às tradições, a família Weinert mantém o conceito de "vinícola-boutique", com vinhos de alta gama. Na bodega instalada num antigo edifício de estilo espanhol, no sopé da Cordilheira dos Andes, eles são envelhecidos preferencialmente em tonéis de carvalho francês.

 

São nesses tonéis que repousam as Cavas de Weinert, que dão nome à vinícola, nas variedades malbec, merlot ou cabernet sauvignon. No Brasil, pode-se comprar uma garrafa por até R$ 80. Os vinhos de safras especiais recebem o nome de Estrella - porque, como já disse Bernardo, as estrelas simplesmente nascem, não são criadas.

 

Hoje a maioria das adegas situadas em Mendoza pode ser visitada, mas a Weinert foi a primeira a abrir suas portas, muito antes da popularização do turismo associado à produção vinícola, no fim dos anos 90 - um negócio que atualmente costuma representar de 10% a 20% das receitas dos produtores. "O pessoal batia à porta, dizia que conhecia a marca e era sempre muito bem-vindo", relata Bruno, que cresceu entre o Rio de Janeiro e os tonéis da Bodega Weinert. "As outras vinícolas nem ficavam sabendo", conta.

 

Além de vendas, as visitas rendem boas histórias. "Em 1996, apareceram quatro americanos, sujos e barbados. Nós os deixamos entrar, como de costume, mas eles queriam comprar US$ 500 em vinhos cada um, e pagando com cartão de crédito. Ligamos para o banco e liberaram a compra. Só depois soubemos que eles tinham acabado de escalar o Aconcágua e procuravam uma adega para comemorar. O líder da turma era vice-presidente da Apple, acredita?"

 

Veículo: Valor Econômico


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