Não é comum, nos relatórios de oferta e demanda que publica nos meses de maio, que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) promova mudanças significativas em suas projeções para a produção de laranja na Flórida, Estado americano que reúne o segundo maior parte citrícola do mundo. Mas, na medida que se fortalece o quadro de queda da colheita em São Paulo, o maior polo global, aumenta a expectativa sobre se a soma das duas safras será ou não capaz de oferecer sustentação às cotações do suco de laranja no mercado externo.
Na sexta-feira, os contratos futuros do produto subiram na bolsa de Nova York, mas sem influência dos fundamentos de oferta e demanda. Ocorre que a turbulência financeira emanada da Grécia fez das últimas semanas um período de aversão ao risco, alta do dólar em relação a outras moedas e, consequentemente, de baixa para a maior parte das commodities. Na quinta-feira, o suco desceu ao menor patamar em duas semanas, e compras especulativas garantiram uma recuperação parcial na sexta.
Com a alta, os contratos de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez, encerraram a semana passada a US$ 1,36 por libra-peso, mesmo assim abaixo do preço de fechamento de segunda (US$ 1,3740). Mesmo em segunda plano diante do recrudescimento da crise na Europa, as estimativas de mercado de incremento da produção de laranja em 2010/11 na Flórida abriram caminho aos movimentos financeiros "baixistas".
Para a temporada 2009/10, que termina em julho, o USDA elevou recentemente sua projeção para a produção de laranja da Flórida para 131,6 milhões de caixas de 40,8 quilos, volume ainda cerca de 20% inferior ao do ciclo anterior. Mas, conforme a agência Dow Jones Newswires, em Nova York a maioria dos traders prevê de 150 milhões a 160 milhões de caixas em 2010/11. As estimativas de aumento ganham corpo ao mesmo tempo em que a demanda por suco volta a derrapar nos EUA, de acordo com os últimos levantamentos do varejo americano.
Já em São Paulo, a colheita de variedades precoces de laranja da safra 2010/11 começa a ganhar ritmo ao mesmo tempo em que o cenário de queda da produção total se fortalece. Carlos Viacava, diretor corporativo da Cutrale, afirmou à agência Reuters que a colheita do novo ciclo deverá recuar mais de 10%, para abaixo de 300 milhões de caixas. Maior exportadora de suco de laranja do mundo, a gigante de Araraquara (SP) ainda acredita, entretanto, em aumento da receita com as exportações depois da forte valorização dos preços em 2009.
A Reuters lembra que, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), mesmo com a queda da produção de laranja a receita brasileira com as exportações de suco deverá crescer 20% em 2010, para aproximadamente US$ 2 bilhões.
Veículo: Valor Econômico