Má notícia para quem gosta de cerveja: a bebida vai ficar mais cara e já falta em bares de todo Brasil. Embora a Ambev - maior cervejaria do país com mais de dois terços do mercado - diga que está preparada para o que deve ser o melhor verão da história em vendas, Nelson Jamel, diretor financeiro e de relações com investidores, admite que mesmo assim deverá haver falta de produto, mas "pontualmente". "É normal ter algum problema porque não basta ter cerveja na fábrica, é preciso ter caminhão para distribuir para todos os nossos 1 milhão de pontos de venda", disse ontem o diretor durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre do ano. "Mas estamos nos preparando mais do que nunca para esse verão", completou.
Além dos R$ 1,56 bilhão anunciados para ampliação e construção de fábricas em várias regiões do país, a Ambev investiu neste ano R$ 53,8 milhões em novos centros de distribuição e ampliação de outros já existentes. O maior deles é o Centro de Distribuição Logística Santa Luzia, em Minas Gerais, que recebeu R$ 26 milhões em investimentos e já está operando desde setembro. Segundo a empresa, esse é o terceiro maior armazém do país, com 13 mil metros quadrados e capacidade de distribuição diária de 9,5 mil hectolitros. "Além desses, três novos centros serão construídos ainda este ano", disse Jamel, sem revelar as localidades.
Os investimentos em fábricas, segundo o diretor, já foram suficientes para aumentar atualmente a capacidade de fabricação em 15% e assim absorver o movimento de verão, que começa agora.
Mas segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci Júnior, já em outubro o fornecimento foi irregular. "Se não fosse o friozinho que fez no mês, a situação teria sido mais grave", diz. Segundo ele, hoje a empresa não tem todos os produtos para entrega imediata. Mas a carência não demora mais de um dia ou dois para ser suprida. "Falta uma Bohemia hoje, mas amanhã já chega."
No Rio Grande do Sul, os bares e restaurantes de Porto Alegre e região metropolitana vêm enfrentando problemas no recebimento de alguns tipos de cervejas da Ambev há quase três semanas, conforme o presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (Sindpoa), José de Jesus Santos. Segundo ele, a situação está gradualmente voltando ao normal e a fabricante promete regularizar plenamente a situação em no máximo duas semanas. Mas os empresários estão apreensivos com o risco de desabastecimento a partir do dia 15, quando as vendas do produto crescem entre 20% e 30% em relação à média dos meses anteriores.
"A grita foi grande", disse o empresário. De acordo com ele, o problema teria sido provocado pela troca de operador logístico da fabricante. Também há informações não oficiais de que a substituição de uma máquina da fábrica de Viamão, cidade vizinha a Porto Alegre, poderia ter provocado atrasos na produção.
Além disso, a empresa já está negociando com o varejo desde o mês passado o reajuste anual nos preços das cervejas. A companhia teria pedido um aumento de 7%, mas depois de negociações o percentual teria sido fixado em 5%, conforme fontes do setor de supermercados, bares e restaurantes.
Conforme analista internacionais, o preço das cervejas sofreu mundialmente uma depreciação nos últimos cinco anos e agora passa por reajustes. A Ambev, entretanto, não confirmou os percentuais de reajustes. "Estamos sofrendo o impacto da alta do açúcar, da importação de latas, que deve continuar até o início do ano que vem, pelo menos, e dos custos mais altos de logística. Trabalhamos para amenizar o impacto dessas despesas no preço final do produto", disse Jamel.
O fato é que nunca se vendeu cerveja como agora e é natural, de acordo com os analistas, que a empresa eleve preços. Conforme o relatório do terceiro trimestre divulgado ontem, o volume de cerveja vendido nos primeiros nove meses do ano no Brasil supera em 14,1% o do mesmo período do ano passado. Só no Nordeste e Norte do país, a alta foi de 25% no volume. No trimestre, em relação ao mesmo período de 2009, a alta foi de 12,5% em cervejas. A participação média de mercado da empresa no trimestre foi de 71,1%, contra 69,3% dos mesmos três meses de 2009.
Empresa prevê alta de mais de 10% nas vendas
O ano, segundo a Ambev, deverá fechar com alta de volumes no Brasil bem acima dos 10%, segundo Nelson Jamel, diretor financeiro e de relações com investidores da cervejaria. "Até agora crescemos 14,1% em volume de cerveja. Para fechar o ano só com 10% de aumento, nosso crescimento no próximo trimestre deveria ser de apenas 3%. Mas esperamos ir bem além disso", disse. Em 2009, a companhia teve alta de 9,9% nas vendas em volume de cerveja. O mercado brasileiro responde por 70% das vendas da empresa.
O resultado geral da companhia, porém, deverá ser mais modesto, uma vez que as operações fora do Brasil estão estáveis (como na Argentina) ou em queda (no Canadá as vendas caíram 5,4% no trimestre). A cervejaria como um todo cresceu 8,5% em volume entre julho, agosto e setembro.
A receita líquida teve alta de 12,6%, totalizando R$ 6 bilhões no trimestre. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) foi de R$ 2,65 bilhões, 12,3% maior que há um ano. A Ambev apresentou lucro líquido de R$ 1,83 bilhão no trimestre, o que significa alta de 49,9% perante o montante de R$ 1,22 bilhão registrado um ano antes. (LC)
Veículo: Valor Econômico