O aumento da renda da população e maior presença de cervejas importadas estimulam o crescimento do mercado das microcervejarias, cujo número é estimado em 100, equivalendo a 0,5% das vendas nacionais.
Há pouco mais de dez anos, "o consumidor não conhecia outros tipos de cerveja e me chamavam de maluco", diz Marcelo Carneiro da Rocha, fundador da Colorado, criada há 13 anos em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. "Achavam que a gente ia vender a mesma cerveja que a Ambev, a Schincariol e a Petrópolis vendem", diz Alexandre Bazzo, criador da Cervejaria Bamberg, fundada em 2005, na cidade paulista de Votorantim.
Hoje, há mais consumidores procurando novas cervejas e o mercado das "loiras geladas" artesanais cresce a passos largos. Calcula-se que as cerca de 100 microcervejarias artesanais existentes no país já produzam, em volume, o equivalente a 0,5% do mercado, que em 2009 somou 112 milhões de hectolitros. Para 2010, estima-se um total de 126 milhões de hectolitros.
"Nos últimos três anos, nossas vendas cresceram em volume de 29% a 30% ao ano", diz Bazzo, da Bamberg, cujas "long necks" custam de R$ 7 a R$ 9 em bares e restaurantes do interior e da capital. O negócio deslanchou, segundo ele, quando suas cervejas começaram a ganhar prêmios internacionais, como a medalha de prata na competição "European Beer Star" (uma das maiores do setor), em 2009 e duas medalhas de ouro no "Mondial de La Biére", o campeonato mundial de cervejas na França. Hoje, a Bamberg produz até 50 mil litros de cerveja ao mês.
"De algum tempo para cá, o consumidor começou a perceber que cerveja não é uma coisa só", diz Rocha. "Essa percepção começou a crescer com o aumento da renda da população e - principalmente - a chegada das cervejas importadas", diz Marcelo Stein, da importadora Bier & Wein. Há um ano, ele que importa marcas famosos de cerveja, como a alemã Erdinger e a belga Steenbrugge, fundou há um ano sua própria cervejaria, a Paulistânia, em parceria com a indústria de bebidas Contini, de Cândido Mota, há 428 km de São Paulo.
Outro fator que impulsionou o aparecimento das microcervejarias artesanais no país foi o apoio que essas empresas conquistaram junto às duas únicas maltarias independentes do país: a Malteria do Vale, de Taubaté (SP) e a Agromalte, da Cooperativa Agrária Agroindustrial, de Guarapuava (PR). "O que diferencia uma cerveja artesanal das cervejas de grandes companhias é sua fórmula e seus ingredientes. Por meio das maltarias, conseguimos importar os melhores maltes do mundo", diz Rocha, da Colorado, cujas vendas em volume cresceram 40% em volume de 2009 para 2010. "Não temos como competir com a Ambev ou com a Schin em volume. Mas conseguimos nosso espaço com produtos diferenciados", diz Stein, da Paulistânia, que começou com uma produção mensal média de 15 mil litros. Hoje chega a 45 mil.
O setor criou uma autorregulamentação para definir o que são microcervejarias artesanais: a produção não pode exceder 500 mil litros ao mês e a cerveja precisa ter no mínimo 80% de malte puro (as comuns têm em média 30%).
Essa definição era, até novembro, algo informal, adotada pelos próprios microcervejeiros. Mas no final de 2009, o governo de Santa Catarina criou um regime tributário especial, para incentivar a atividade. Cortou a alíquota do ICMS de 25% para 12%. Para enquadrar as empresas beneficiadas, a Lei 367/09 do governo catarinense definiu que microcervejarias artesanais são aquelas com produção anual de até 3 milhões de litros e cujo chope ou cerveja artesanal tenha no mínimo 80% de cereais malteados ou extrato de malte.
"Esse benefício fiscal foi um a alívio para nós", diz Larissa Schmitt, gerente financeira da Das Bier, de Gaspar (SP). Em outros Estados, as microcervejarias buscam conquistar regimes semelhantes. "Pagamos o mesmo percentual que grandes cervejarias pagam", diz Rocha. "Mas, como o imposto, no caso do IPI, incide sobre o preço, pagamos até mais", acrescenta ele.
Veículo: Valor Econômico