Encarecimento das frutas, do açúcar e aumento salarial levam fabricantes a adotar novos programas de redução de custos
Nunca foi tão árduo vender suco de caixinha. O problema não é exatamente a demanda, que cresce a dois dígitos, embora em velocidade menor que nos últimos dois anos. Em 2010, o mercado brasileiro de suco de frutas pronto movimentou R$ 2 bilhões, 22% a
mais que em 2009, quando as vendas cresceram11%, de acordo com a Nielsen. Dois desafios, contudo, estão literalmente deixando os fabricantes da bebida de copo vazio.
Desabastecimento das frutas mais consumidas pelos brasileiros — uva e laranja — e a baixa rentabilidade sobre o produto final estão levando as indústrias a buscarem alternativas como a renegociação com fornecedores de polpa e a implantação de programas de redução de custo, a exemplo do que tem feito a Wow Nutrition, empresa do grupo taiwanês Brasfanta dona damarca Sufresh.
O aumento das exportações brasileiras de açúcar combinado à explosão no preço das polpas de frutas e uma pressão generalizada pelo aumento de salários dos funcionários do chão de fábrica estão respingando no preço pago pelo consumidor, que sofreu um reajuste de 6,5% a 9% no último mês.
O repasse, explicam os fabricantes, não é suficiente para cobrir os custos. A polpa de uva subiu 18% em média, enquanto que a de morango passou dos 100%. “Apesar do avanço das vendas de suco tanto em volume quanto em valor, desde o último trimestre de 2010, quando a rentabilidade caiu de 30% a 40%, o cenário ficou complicado”, afirma William de Angelis Sallum, diretor-geral daWow.
No primeiro trimestre deste ano, informa o executivo, a rentabilidade da companhia com suco de frutas apresentou queda em relação ao mesmo período de 2009, apesar do aumento das vendas.
Adalberto Viviani, presidente da Concept, consultoria especializada em bebidas e alimentos, diz que a entrada de fabricantes pequenos no negócio de sucos comestratégias agressivas de preços baixos para conquistar consumidores acabou por canibalizar o mercado e reduziu seriamente as margens.
Para reverter este cenário, Sallum traçou uma estratégia baseada em um programa de redução de custos, o que envolve a renegociação e até mesmo troca de fornecedores, a revisão de processos que acarretavam em desperdícios na fábrica, o desenvolvimento de produtos com alternativas de matéria- prima e até mesmo alterações
na rota de distribuição. “Sãomudanças emtodos os níveis e áreas”, afirma Sallum, sem entrar em detalhes.
Ele explica que, agora, a busca por redução de custos e de perdas será feita com mais afinco. “Estamos buscando centavos e índices melhores, seja de produtividade ou de perdas”, diz o executivo.
Na Shefa, fabricante de sucos de frutas e de soja e chás prontos, a preocupação com a alta das commodities também é grande. “O açúcar aumentou violentamente e a soja também tem subido muito. Além do custo mais alto, o que realmente preocupa é o desabastecimento. Até dois meses atrás, não tinha polpa de uva para comprar e, agora, você não encontra laranja com grau de acidez e açúcar na medida requeridos pela indústria de sucos”, conta.
A esperança é que os novos períodos de safra, a exemplo da de laranja que acabou de iniciar, tragam um cenário melhor aos fabricantes.
Veículo: Brasil Econômico