Meu vinho: Extravagantes, elas sumiram um pouco durante a recessão, mas nos EUA já podem ser notadas de novo.
Connoisseurs - conhecedores muito ricos - estão sempre dispostos a pagar muito dinheiro por uma caixa e mesmo por uma só garrafa de um vinho raro. Mas os maiores troféus em leilões de vinhos são as chamadas garrafas de grande formato. Em leilão no Vale do Napa, ano passado, uma garrafa magnum de Cariad, da Colgin Cellars, com jantar para seis, saiu por US$ 250 mil. A proprietária, Ann Colgin, então propôs-se a replicar o lote para que quatro interessados oferecessem um lance de US$ 250 mil cada. Neste mês de março, em Chicago, em leilões da Hart Davis Wine Company, foi vendida uma única imperial do Lafite-Rothschild 1982 por cerca de US$ 42 mil.
O apelo dessas garrafas é claramente seu tamanho imponente: uma magnum contém o volume de 2 garrafas normais de 750 ml; uma jeroboão contém o equivalente a 4, uma imperial (como são chamadas especificamente as de champanhe) ou matusalém vem com 8, e assim por diante, até uma nabucodonosor, com 20. Uma virtude adicional, segundo a voz corrente, é que essas garrafas envelhecem mais lentamente devido à proporção de vinho em relação ao oxigênio no gargalo.
"As pessoas que recebem um grande grupo de convidados com frequência preferem garrafas grandes por praticidade", disse Peter Meltzer, correspondente de leilões da "Wine Spectator" e autor de "Keys to the Cellar: Strategies and Secrets of Wine Collecting" ("As Chaves da Adega: Estratégias e Segredos do Colecionador de Vinhos"), em entrevista por telefone.
No mundo dos leilões de vinhos finos, as vendas de garrafas de grande formato são consideradas um reflexo da economia. "Quando os tempos estão bons, as pessoas não hesitam em tirar a rolha de uma garrafa grande, mas durante uma recessão as pessoas relutam em comprá-las. Quando a economia melhora, essas pessoas podem tomar o vinho ou revender essas garrafas", afirma Meltzer.
A afirmação é corroborada por Piero Selvaggio, proprietário do restaurante Valentino, em Santa Monica, Califórnia, onde ele tem uma adega com 75 mil garrafas - 250 delas de grandes tamanhos. "Quando a economia estava crescendo, certa vez vendi um nabucodonosor para uma comemoração", contou-me ele, "mas, em meio à recessão, esse tipo de extravagância tem escasseado. Hoje, alguns clientes querem trazer suas próprias garrafas grandes e eu cobro uma taxa de rolha de US$ 50".
Predominantemente, as garrafas grandes são das vinícolas mais ilustres de Bordeaux e da Borgonha, que costumam alcançam os preços mais altos em leilões. Umas poucas vinícolas "cult" californianas também produzem algumas garrafas grandes, na maioria dos casos doadas para leilões de caridade.
Em restaurantes, garrafas grandes criam um ambiente mais festivo à mesa. "Eu digo aos meus clientes que uma magnum é um tamanho ideal para um jantar com 6 a 8 pessoas", diz Linda Gerin, sócia e diretora de vinhos no restaurante Jean-Louis, em Greenwich, Connecticut. "Uma garrafa não é suficiente, e se você estiver consumindo duas, há um glamour em desarrolhar uma magnum."
De fato, grandes garrafas podem ser o formato mais adequado a algumas celebrações. "Las Vegas é a cidade perfeita para grandes formatos", disse-me Jennifer Eby, gerente de vinhos no Bartolotta Ristorante di Mare no Wynn Las Vegas (cassino, resort e hotel em Nevada). "Nós servimos nosso estilo de comida familiar muitas vezes em grandes mesas e eu sugiro uma garrafa grande com sendo mais prática e mais festiva." Indagada sobre que vinhos tomam os endinheirados amantes das garrafonas, Eby disse: "O hotel quer atender bem esses clientes, e eles bebem o que quiserem, mas eles realmente não aproveitam as vantagens de pedir garrafas grandes. E nossos clientes asiáticos quase nunca [pedem as grandes] e tendem a ser muito contidos no consumo de vinhos".
Quanto mais dedicado a estocar adegas enormes for um restaurante, mais garrafas de formato maior terá. A adega do Charlie Trotter's, em Chicago, tem mais de 130 em grande formato, inclusive 1 das 5 imperiais já produzidas do Penfolds 1990 "Grange".
No Valbella, em Riverside, Connecticut, o diretor de vinhos Nick Zherka oferece um matusalém de Richebourg, Domaine de la Romanée Conti 1996, por US$ 22 mil. Quando perguntei se o preço é negociável, ele respondeu: "Bem, talvez US$ 21 mil".
Para uma pessoa só, há grandes riscos na compra de grandes garrafas como investimento. Raramente o investidor conseguiria um preço melhor revendendo para uma loja de vinhos ou um restaurante - e apenas em um Estado onde seja legal revender vinhos.
As casas leiloeiras estimam os preços à cotação corrente. É crucial para o vendedor, diz Meltzer, que "seja qual for sua política, você precisa manter os vinhos em um ambiente profissional, com temperatura controlada, de modo que uma casa leiloeira possa atestar a maneira como ele foi armazenado".
Não há realmente nenhuma maneira - exceto abrir e provar - de saber se os vinhos estarão bem em anos futuros ou se em armazenamento vertical alguns deles podem ir para o vinagre. É por isso que tantas garrafas de grande formato são apenas vendidas e revendidas - e nunca bebidas. Nesse caso, você está vendendo um artefato, e não uma obra de arte.
Faz mais sentido comprar uma garrafa grande numa loja varejista para uma ocasião especial, como fiz quando meus filhos nasceram, em 1980 e 1985, respectivamente. Guardei as garrafas para seus aniversários de 21 anos, quando as magnuns causaram razoável impacto e admiração. Poucas vezes desfrutei mais um vinho - e foi dinheiro muito bem gasto.
Veículo: Valor Econômico