Apoiadas no aumento do poder de compra, empresas já respondem por 5% do faturamento
Com produtos que levam aroma de frutas e processos diferentes de fermentação, empresas encontram seu nicho
Em um mercado dominado por grandes companhias com faturamento bilionário, as pequenas cervejarias brasileiras mostram que encontraram seu lugar ao sol.
Com cerca de 180 empresas, o segmento das microcervejarias encontrou seu caminho na especialização e já movimenta quase R$ 2 bilhões, segundo o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja).
Pode parecer pouco ante aos mais de R$ 30 bilhões do mercado nacional, mas o setor comemora principalmente o ritmo de expansão.
Enquanto o segmento das cervejas populares _ dominadas por marcas como Brahma, Skol e Schin _ aumenta a 7% ao ano, as microcervejarias crescem o dobro. Há quatro anos representavam pouco mais de 3% do faturamento; hoje, já são 5%.
"As cervejas servem como um termômetro da economia, e o setor foi muito beneficiado com o aumento de poder aquisitivo e amadurecimento do mercado para as cervejas gourmet", diz Cilene Saorin, do Cobracem (Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte).
ESPECIALIZAÇÃO
A intenção dessas empresas, em geral de origem familiar e com faturamento médio de até R$ 10 milhões, não é competir diretamente com as gigantes do setor, mas oferecer sabores artesanais com elementos impensáveis para a produção de massa.
Instalada em Belo Horizonte, a Falke Bier investe em sabores diferenciados como a cerveja com mistura de três grãos (cevada, trigo e aveia) que passa um mês amadurecendo em caves subterrâneas. Nesta semana, a empresa lança na Feira Brasil Brau, que reúne empresários do setor, um rótulo à base de jabuticaba com produção limitada a 1.200 garrafas por ano.
Com tantos diferenciais,os produtos das microcervejarias podem facilmente ultrapassar R$ 100. As diferenças também podem aparecer no teor alcoólico: 4% nas cervejas populares ante até 11% nas bebidas especiais.
MAPA DA CERVEJA
A maior parte das microcervejarias está no Sul e Sudeste, e o segmento começa a seguir numa rota de popularização semelhante à percorrida pelos produtores de vinhos com serviços que incluem até passeios turísticos para degustação, segundo Alexsandra Machado, da Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas).
A batalha pela sobrevivência não é fácil. "Levamos um ano para conseguir o registro do Ministério da Agricultura, necessário para a venda do produto", afirma Bia Amorim, da Colorado, de Ribeirão Preto, que produz 80 mil litros por mês.
Chegar ao varejo também é desafio. Nos últimos dois anos, a executiva fez palestras em diversos Estados do país sobre as peculiaridades das cervejas da marca.
"O mercado está amadurecendo", resume. Neste ano, a companhia pretende elevar a produção em 25%.
Veículo: Folha de S.Paulo