Ponto de partida é Brasil, mas ideia é que insumo seja usado em todas as operações no mundo
Muitos produtos, hoje em dia, têm certificação socioambiental, para satisfação de consumidores mais preocupados com a preservação do planeta. Esses produtos vão de madeira a produtos orgânicos. Mas o que pouca gente imagina é que a Coca-Cola está prestes a conseguir essa certificação para o refrigerante mais vendido do mundo. A companhia e a produtora de açúcar Raízen (Cosan / Shell) estão iniciando no Brasil um projeto para usar açúcar certificado com o selo Bomsucro na fabricação do refrigerante. A parceria tem o Brasil como ponto de partida, mas a ideia é expandir a iniciativa para as operações globais da Coca-Cola.
"O selo certifica que os fornecedores do açúcar obedecem às leis do país, aos direitos humanos e trabalhistas, buscam eficiência em sustentabilidade, protegem a biodiversidade e buscam a melhoria contínua de seus processos", diz Rino Abbondi, vice-presidente de técnica e logística da Coca-Cola Brasil. "A iniciativa está em linha com os esforços da empresa de mundialmente minimizar o impacto de nossa operação no meio ambiente", afirma o executivo.
Ele conta que dos 20 fornecedores de açúcar da Coca-Cola no Brasil, apenas um, - a Raízen - conseguiu a certificação para uma de suas usinas, a Maracaí, no interior de São Paulo. A certificação internacional Bonsucro de práticas sustentáveis é uma exigência da União Europeia para exportadores de commodities. Até agora, a Raízen é a única empresa no mundo que dispõe desse selo para o cultivo de cana.
"Estamos em uma fase piloto do projeto. Mas a ideia é fazer com que todas as usinas de nossos fornecedores alcancem essa certificação. Também queremos estender esse projeto para todos os países em que a Coca-Cola atua", diz Abbondi. Segundo ele, ainda não há prazo para que todas as usinas fornecedoras da empresa alcancem essa certificação ou para a expansão internacional da iniciativa.
"Quando o projeto estiver mais amadurecido, pensaremos em uma estratégia de marketing para comunicar essa iniciativa, talvez um selo no rótulo de Coca-Cola", afirma o executivo.
A Coca-Cola, segundo Abbondi, está entre as três maiores companhias compradoras de açúcar do mundo. A Raízen - maior produtora de açúcar do Brasil - vende 5% do que processa para a Coca-Cola Brasil.
Por meio do projeto de certificação, a empresa de bebidas adquiriu um volume adicional do produto com pagamento de um prêmio sobre o preço normal.
Por razões contratuais, Pedro Muzutani, vice-presidente de Açúcar e Etanol da Raízen, não divulga qual é o volume adicional e nem o prêmio que foi pago por sua cliente. No entanto, segundo o executivo, a expectativa é que o mercado reconheça esse produto com um adicional de preço de até 10% em relação ao açúcar comum. Ele reconhece que a certificação internacional deve abrir portas para o fornecimento do açúcar sustentável, com valor agregado, para outros grandes clientes, além da Coca-Cola. "Não há neste momento um contrato global sendo negociado com a Coca-Cola, mas existe sim perspectiva de negociação internacional", diz Mizutani.
Na safra passada (2010/11), a produção de açúcar da Raízen foi de 3,8 milhões de toneladas. Considerando que a Coca-Cola consome cerca de 5% desse volume, o contrato convencional das duas empresas deve ser de aproximadamente 190 mil toneladas anuais. O selo da Raízen atingiu uma moagem de 1,7 milhão de toneladas de cana e produção de 130 mil toneladas de açúcar e 63 milhões de litros de etanol. A meta da companhia é certificar 100% de suas 24 usinas nos próximos cinco anos. A empreitada deve demandar investimentos de US$ 350 milhões em melhorias em saúde, ambiente e segurança das unidades até 2015.
Maior engarrafadora da AL compra rival no México
A Coca-Cola Femsa vai pagar 6,55 bilhões de pesos mexicanos (US$ 553,5 milhões) em ações pelas operações de engarrafamento de Coca-cola do Grupo Tampico, na primeira transação da companhia envolvendo apenas ações.
A maior engarrafadora de produtos Coca-Cola da América Latina dará ao Grupo Tampico, de capital fechado, 63,5 milhões de novas ações da Coca-Cola Femsa avaliadas em 103,20 pesos a unidade, segundo informou a companhia na terça-feira em um comunicado. A Coca-Cola Femsa, localizada na Cidade do México, também assumirá também um endividamento líquido de 2,75 milhões de pesos.
Será a maior transação da Coca-Cola Femsa desde 2003 e acontece depois de uma fusão de 27,7 bilhões de pesos entre a segunda e a terceira maiores engarrafadoras do México, ocorrida este ano, que formou a Arca Continental. O uso de ações em vez de dinheiro poderá ajudar a convencer mais engarrafadoras pequenas a serem adquiridas, disse o diretor financeiro Hector Trevino em uma entrevista por telefone.
"Há muitas engarrafadoras no México e na América Latina que não querem sair do negócio", afirmou Trevino. "Por outro lado, elas são pequenas e percebem as vantagens de ter uma maior escala e diversificação geográfica."
O Grupo Tampico prevê uma receita de 4,4 bilhões de pesos (US$ 371,8 milhões) e vendas de 154 milhões de caixas de refrigerantes em 2011. A Coca-Cola Femsa teve em 2010 uma receita de 103 bilhões de pesos (US$ 8,7 bilhões). O Grupo Tampico, baseado na cidade de Tampico, no estado de Tamaulipas, prevê um lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida) de 967 milhões de pesos (US$ 81,7 milhões) em 2011 [a empresa não tem relação com a americana Tampico Beverages, que fabrica o refresco de frutas de mesmo nome vendido no Brasil].
"Acreditamos que se trata de uma área geográfica do país que terá um crescimento importante e temos planos para fazer o negócio continuar crescendo", disse Trevino.
A ação da Coca-Cola Femsa chegou a cair 84 centavos de peso, para 109,10 pesos na Cidade do México ontem. A ação acumulava até terça-feira uma valorização de 7,6% no ano, comparado a uma alta de 26% da Arca Continental, sediada em Monterrey.
A aquisição reforça a posição de liderança da Coca-Cola Femsa no mercado mexicano de bebidas, segundo disse ontem em uma conferência telefônica o presidente executivo Carlos Salazar. Trevino disse a analistas que o negócio poderá ser concluído até o fim do próximo trimestre e vai exigir a aprovação das autoridades reguladoras mexicanas, além do conselho de administração da Coca-Cola Co., que controla quase um terço da Coca-Cola Femsa.
As sinergias anuais deverão alcançar entre 180 milhões e 220 milhões de pesos com o negócio com o Grupo Tampico nos próximos 24 meses, disse Trevino ontem. Segundo ele, o uso de dinheiro para pagar o endividamento da engarrafadora é uma opção. A aquisição passará a contribuir para os lucros num prazo de um ano a 18 meses, segundo Jose Castro, diretor de relações com o investidor.
Após comprar a Panamerican Beverages por US$ 3,6 bilhões em 2003, a Coca-Cola Femsa ficou três anos sem realizar um negócio de mais de US$ 100 milhões. Investidores como Jose Miguel Garaicochea, que ajuda a administrar US$ 1 bilhão em uma unidade do Banco Santander na Cidade do México, disseram no mês passado que a companhia deveria considerar aquisições.
Com a emissão de novas ações para pagar pelo Grupo Tampico, o controle da Coca-Cola-Femsa sobre a Fomento Económico Mexicano vai cair agora de 53,7% para 51,9%, e a participação da Coca-Cola Co. diminuirá de 31,6% para 30,6%. O volume de ações negociadas em público aumentará de 14,7% para 17,5%, segundo Treviso.
Os controladores do Grupo Tampico ganharão um assento no conselho de administração da Coca-Cola Femsa, que será ampliado de 18 assentos para 19. O Grupo Tampico tornou-se o primeiro engarrafador da Coca-Cola no México em 1912. Ele possui centros de distribuição em seis estados mexicanos.
Veículo: Valor Econômico