A ação encabeçada pelo governo brasileiro, de liberar R$ 300 milhões para financiar a formação de estoques de suco de laranja, é apontada no mercado como uma das responsáveis pela disparada recente no preço internacional da commodity. Nesta semana, os contratos futuros do suco concentrado e congelado (FCOJ) bateram recordes de quatro anos na Bolsa de Nova York (ICE Futures) e beiraram os 200 cents por libra-peso, ou acima de US$ 2.800 por tonelada.
Analistas e traders afirmam que a ameaça climática anual, com a temporada de furacões rondando pomares na Flórida, não explica sozinha a alta recente da commodity. A retenção da bebida em um cenário de baixos estoques no Brasil e nos Estados Unidos, dois maiores produtores da bebida, é apontada então como nova fonte de pressão do mercado.
"Uma medida como essa em época de estoques grandes não iria fazer diferença alguma; mas, somada ao fundamental, com os baixos estoques, e ajudada por notícias pontuais de clima em um mercado nervoso, é claro que pressiona", disse o presidente da Informa Economics FNP, Maurício Mendes.
No entanto, após a disparada, a cotação da bebida na ICE Futures apresentou leve recuo nas duas últimas sessões. Para um trader, a medida tomada pelo Brasil ampliou ainda mais a especulação no mercado local. "Esse movimento de alta foi especulativo, resultado dos estoques brasileiros", ratificou.
Na próxima quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve analisar o voto da proposta do governo de liberar R$ 300 milhões para o financiamento da retenção de até 20% dos estoques de suco da safra 2011/2012 no Brasil, ou cerca de 240 mil toneladas das 1,2 milhão de toneladas previstas. Do total, Cutrale, Citrosuco e Citrovita devem tomar até R$ 80 milhões cada e a Louis Dreyfus Commodities (LDC), menor entre as quatro, R$ 60 milhões.
Financiamento - Segundo o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, o financiamento deve custar um total de R$ 400 milhões. "O restante do dinheiro as companhias buscarão no mercado", disse. "O importante é que só a notícia da retirada da bebida em época de estoques já baixíssimos ajuda a puxar os preços e, conseqüentemente, a indústria e os produtores", afirmou o ministro na semana passada.
Nesta semana, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou que os estoques de FCOJ (suco de laranja concentrado congelado) em 31 de maio de 2011 naquele país somavam 864,48 mil libras, 39,7% menor que o de mesmo período do ano passado, estimado em 1,434 milhão de libras.
No Brasil, dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), divulgados em maio, apontam que os estoques globais de suco de laranja da indústria processadora caíram 47,25% nos últimos dois anos, graças à produção menor da fruta.
Com a safra de laranja do cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro estimada em 387 milhões de caixas de 40,8 kg, a maior desde 2004, a pressão de oferta da bebida, que poderia derrubar os preços da commodity, seria contida com a retenção dos estoques.
No entanto, a alta no preço do suco de laranja tem limite. Na avaliação do mercado, quanto mais próximo dos US$ 3 mil a tonelada de FCOJ, maior a pressão de queda na demanda pela bebida.
Maurício Mendes, da Informa Economics FNP, avalia que uma disparada do suco pode trazer uma retração no consumo, com a migração para outras bebidas. "Subir o preço é bom para o Brasil, para o setor, mas a alta incentiva a concorrência com outras bebidas e pode diminuir o consumo, como ocorreu na alta mais recente, entre 2006 e 2007", alertou.
Veículo: Diário do Comércio - MG